A Campanha Popular Viva o Rio Madeira Vivo lançou uma nota manifestando
apoio à população ameaçada pelas Usinas Hidrelétricas de Santo Antônio
e Jirau, no rio Madeira, em Rondônia.
Segundo a nota, o Complexo Madeira representa uma ameaça, "já que os
Estudos de Impacto Ambiental não consideraram os povos indígenas
isolados que se deslocam constantemente para garantir sua vida".
Leia a nota na íntegra:
Uma nota em favor dos Ameaçados pelo Complexo Madeira
A Campanha Popular Viva o Rio Madeira Vivo, composta por dezenas de
entidades e pessoas comprometidas com a Justiça em Defesa dos Direitos
Humanos, por uma Amazônia Sustentável, pelos Rios Livres de Barragens,
da qual participam os segmentos sociais (indígenas, ribeirinhos,
quilombolas, pequenos agricultores, extrativistas e tantos outros)
desta vasta região ameaçada pelas hidrelétricas de Santo Antonio e
Jirau, partes do Complexo Madeira, vem a público externar sua
consternação com a violação dos direitos humanos ratificados pelo
Governo Brasileiro na Convenção 169 da Organização Internacional do
Trabalho (OIT), que reza pela proteção integral da vida das populações
tradicionais ameaçadas por empreendimentos altamente impactantes
negativamente em suas vidas.
O Complexo Madeira representa esta ameaça, já que os Estudos de Impacto
Ambiental não consideraram os povos indígenas isolados que se deslocam
constantemente para garantir sua vida. Ameaça também a integridade de
territórios onde os povos ribeirinhos tiram o sustento de suas famílias
à partir da produção de várzea e da pesca. Ameaça ainda a qualidade da
água consumida diariamente para matar a sede de pessoas e animais,
principalmente por não ter sido feito estudo de impacto sobre a Bacia
Hidrográfica do Rio Madeira, estendida pelos seus principais formadores
no lado brasileiro e boliviano: Mamoré, Jaci, Mutum, Ribeirão, Abunã,
Beni, Madre Diós, Guaporé, Cautário, Pacaá Nova entre outros.
Condenamos a atitude do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e
Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) de iniciar o processo de
licenciamento desta obras com mais de trezentos questionamentos
apresentado pela Diretoria de Licenciamento do órgão em março de 2007,
provocando a demissão dos mesmos pelo Governo. Esta atitude tem gerado
incertezas na população ameaçada, já que a ausência de informação dos
reais impactos é total.
Como se não bastasse a realização do Leilão de Santo Antonio e Jirau
abriu lacunas ainda maiores, pois este último, o Consórcio vencedor
apresentou e foi acatado pela ANEEL, mudanças radicais no cerne do
projeto, ou seja, localização do barramento (9 km abaixo do estudado) e
mudança no tipo de turbina, propondo desistir da tipo Bulbo em favor da
tipo Kaplan - modelo tradicional adotado em Tucuruí, Balbina entre
outros. Diante destas novas propostas da Suez Energy, Camargo Corrêa,
Eletrosul e Chesf, exigimos que o IBAMA elabore novo Termo de
Referência e exija a elaboração de novo EIA e trâmite transparente com
participação da sociedade civil.
Conclamamos ao Ministério Público Federal (MPF), ao Ministério Público
Estadual de Rondônia (MPE/RO) e a toda a sociedade que defendam o
direito das populações tradicionais ameaçadas, à luz da Convenção 169,
garantindo os Direitos Humanos básicos: segurança alimentar, moradia,
proteção a integridade física e cultural, ameaçados por este complexo:
incerteza de para onde serão deslocados, como pagarão empréstimos
(PRONAF), qual o valor de indenização (maioria não tem título do lote),
qual o futuro dos filhos e netos...
Em nota, a Campanha Popular Viva o Rio Madeira Vivo se manifesta em
defesa dos Direitos das populações tradicionais ameaçados e já
atingidos pelo Complexo Madeira.
(
Amazonia.org.br, 28/05/2008)