Pesquisadores acabam de descobrir, pela primeira vez na Bahia, um ninho de harpia, uma das maiores aves de rapina do mundo, com uma envergadura de 2 metros e até 10 quilos de peso. Também conhecida como gavião-real, a ave era avistada regularmente na Mata Atlântica até a década de 40, mas hoje é uma raridade na região. A descoberta foi feita na Estação Veracel, Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) da Veracel Celulose, em Porto Seguro e Santa Cruz Cabrália. A criação e manutenção desta RPPN, a maior da mata atlântica brasileira, reflete a ação preservacionista do setor de celulose para conservação da fauna e da flora nos remanescentes florestais.
Maior predador voador das Américas, a harpia caça principalmente preguiças e macacos nas copas das florestas. Sua população vem sendo reduzida drasticamente por ser uma espécie muito cobiçada pelos caçadores e devido à devastação da floresta. A bióloga e coordenadora da Estação Veracel, Denise Balbão Oliveira, conta que vinha acompanhando as visitas de uma fêmea ao local desde 2003, até que funcionários avistaram um filhote, no mês passado. Foi acionada, então, a equipe liderada pela Coordenadora do Programa de Conservação desta ave na Amazônia, Tânia Sanaiotti, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA).
O ninho foi localizado no alto de uma Juerana vermelha (Parkia pendula), árvore de 30 metros de altura. Estudos de longo prazo na Guiana e Venezuela descobriram que a harpia reutiliza um mesmo ninho ou mesma árvore. Tudo indica que o ninho descoberto na Estação Veracel vem sendo utilizado há cerca de dois anos. Na avaliação da pesquisadora Tânia Sanaiotti, a descoberta deste ninho é muito importante pois representa a chance de manter alguns casais se reproduzindo naturalmente, em um das poucas áreas de grande extensão de mata atlântica conservada.
"A próxima etapa do Projeto Harpia, criado em 2004 para obter mais informações sobre esta espécie aqui na Mata Atlântica é o monitoramento das aves. A continuidade do projeto será feita com o monitoramento do ninho para que, quando ele voltar a ser ocupado, possamos colocar rádios nos indivíduos. Assim, usando um sistema de rádio-transmissão via satélite vamos acompanhar os adultos e filhotes e obter informações sobre o tamanho de as suas áreas de vida, entre outras coisas. Isto permitirá não só estudar a harpia, mas intensificar os investimentos em campanhas educativas junto às comunidades que vivem no entorno da reserva", afirma a bióloga Denise Balbão Oliveira, coordenadora da Estação Veracel.
A área de 6069 hectares da reserva abriga mais de 400 espécies de vertebrados catalogados. Estima-se que há um número ainda maior a ser identificado. A reserva é refúgio de vários mamíferos como a onça-parda e a jaguatirica. Abriga, ainda, muitas espécies endêmicas, entre elas o macaco-prego, a preguiça, o sagui-da-cara-branca e o ouriço-preto. Na mata preservada animais como a anta, a paca, o veado-mateiro e o papagaio-chauá estão protegidos da perseguição dos caçadores.
(
Veracel, 28/05/2008)