O ritmo de desmatamento da Mata Atlântica caiu 69% no período entre 2000 e 2005 em relação a 1995-2000, mas ainda assim restam apenas 7,26% de um dos biomas com maior diversidade do Brasil. A informação é do novo Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica, divulgado nesta terça-feira (27).
São Paulo, com uma queda de 91%, e Espírito Santo (-95%) foram os Estados onde a redução dos novos desmatamentos ocorreu de forma mais acentuada.
Dos 1,3 milhão de metros quadrados que antes se espalhavam por 17 Estados brasileiros, sobraram 97.596 km2, segundo o estudo, elaborado pela organização não-governamental SOS Mata Atlântica e pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).
As maiores taxas de desmatamento ocorreram em Santa Catarina (45.530 ha), Minas Gerais (41.349 ha) e Bahia (36.040 ha), nesta ordem, de acordo com o levantamento, que mapeou 98% do bioma ou 16 dos 17 Estados (a exceção foi o Piauí).
A diretora de Gestão do Conhecimento e coordenadora do Atlas pela SOS Mata Atlântica, Márcia Hirota, disse que, apesar da queda no período analisado pelo Atlas, o acompanhamento mais recente dos cinco municípios com as maiores taxas de desmatamento indica um "aumento muito preocupante" nos últimos dois anos.
"A avaliação não reflete o estado global da Mata Atlântica mas já aponta o que está acontecendo nesses municípios", disse Hirota, numa entrevista coletiva on-line promovida pela SOS Mata Atlântica.
"No Rio de Janeiro, por exemplo, o total de desmatamento triplicou entre 2005-2007 comparado com 2000-2005 quando realizamos esta análise sobre 75% do território. Em valores absolutos foi baixo mas em termos percentuais é um alerta para o Estado."
Os cinco municípios analisados entre 2005 e 2007, por serem considerados os mais críticos em termos de desmatamento, foram Bituruna (PR), Itaiópolis (SC), Coronel Domingos Soares (PR), Palmas (PR) e Encruzilhada (BA).
Os números que constam do quarto Atlas SOS Mata Atlântica/Inpe estão bem abaixo dos do governo, que estima haver mais de 20% em remanescentes de mata atlântica.
Flavio Ponzoni, coordenador técnico do Atlas pelo Inpe, explicou que a discrepância se deve à diferença das metodologias --a oficial, por exemplo, considera áreas remanescentes de mata atlântica já degradadas, que são excluídas no Atlas.
Fragmentação
Outra tendência apontada no estudo é a fragmentação da Mata Atlântica em pequenos pedaços de três ou cinco hectares que nem mesmo são considerados no mapeamento da SOS Mata Atlântica com o Inpe. Se esses pequenos polígonos fossem considerados, a área de cobertura pela Mata Atlântica aumentaria para 142.472 km2 (10,6% da floresta original).
"Os maiores fragmentos florestais encontram-se no Corredor Sul fluminense, Serra do Mar de São Paulo inclusive Vale do Ribeira e litoral norte do Paraná até Santa Catarina, Parque Nacional do Iguaçu. Esses são os maiores blocos da Mata Atlântica", diz Hirota.
O diretor de mobilização da SOS Mata Atlântica, Mario Mantovani, que também participou da coletiva online, comentou o impacto do aumento do desmatamento na Amazônia na dinâmica da ocupação da Mata Atlântica.
"O que acontece em São Paulo é um exemplo desse impacto. A cana está ocupando as áreas de pecuária do nordeste do Estado e os empresários do setor supercapitalizados (R$ 60 mil o hectare) estão comprando terra barata no sul do Pará", disse Mantovani.
Ponzoni, do Inpe, diz que não há indícios, pelo menos por enquanto, que a cana esteja avançando sobre áreas de floresta. Por outro lado, ele prevê que à medida que a cana avance sobre áreas destinadas a eucaliptos e outras monoculturas de reflorestamento para uso comercial, essas culturas comecem a avançar sobre áreas de floresta.
Para Mantovani, o ciclo da destruição "tem como motor a falta de políticas públicas", como, por exemplo, a demora em fazer uma regularização fundiária, que defina de quem são as terras e quem responde pelo que acontece nelas.
(Por Carolina Glycerio, Folha Online, 27/05/2008)