Em Curitiba, manifestantes impedem a saída de cerca de cem pessoas do local
Indígenas protestam contra os atrasos em repasses da Funasa; em Cuiabá, cerca de 70 índios mantinham ainda ontem a invasão na Funasa
Índios das etnias caingangue e guarani, que representam 45 aldeias do Paraná, invadiram por volta das 17h30 de ontem um prédio do governo federal em Curitiba e impediram durante quatro horas a saída de cerca de cem pessoas do local.
Até o fechamento desta edição, ainda eram mantidos no prédio três diretores da Funasa (Fundação Nacional de Saúde), órgão do Ministério da Saúde que presta assistência médica às aldeias no Estado, e o representante da ONG responsável pela gestão dos projetos de assistência médica nas aldeias.
Os cerca de 50 índios protestam contra atrasos em repasses de verbas pela Funasa. Eles exigem a presença de representante do órgão em Brasília com poder de decisão e disseram que só deixarão o prédio quando tiverem garantias de atendimento das reivindicações.
O edifício de oito andares abriga representações da Funasa, do Ministério da Saúde e da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Não houve violência na ação.
Enquanto a maior parte dos manifestantes permaneceu na recepção, as lideranças dos índios foram até o oitavo andar, no gabinete da direção da Funasa, para começar as negociações. Os índios ouvidos pela reportagem negaram que estivessem mantendo reféns.
O objetivo era pressionar a direção nacional da Funasa para normalizar os repasses dos recursos que mantêm as equipes que prestam atendimento médico às aldeias. Os salários dos funcionários também estão atrasados há mais de um mês.
Antes, por volta das 20h30, um taxista foi preso após quebrar a porta de vidro que dá acesso ao prédio. Segundo a mulher dele, o homem tentou entrar para saber da situação de uma amiga que estava no prédio. Ele discutiu com os índios e foi levado pela Polícia Militar ao 1º Distrito Policial.
Mais protestos
Cerca de 50 índios das etnias terena, guarani e caiuá invadiram ontem pela manhã a sede da Funai (Fundação Nacional do Índio) em Dourados (224 km de Campo Grande) para exigir a saída da administradora regional, Margarida Nicoletti. O grupo, que diz representar 28 aldeias, critica o aumento da violência, a falta de políticas de geração de renda e quer que um índio seja indicado para o posto. Deixaram o local às 20h.
"A saída dela [Nicoletti] é a primeira condição para a liberação do prédio", disse Naor Machado, líder terena.
A Funai em Mato Grosso do Sul confirmou que uma comissão irá se encontrar com um representante da presidência da Funai para discutir as reivindicações, e que a administradora regional não se manifestaria sobre as reclamações.
Em Cuiabá (MT), cerca de 70 índios das etnias irantxe e mynky mantiveram ontem a invasão na sede da Funasa. O grupo cobra melhorias no atendimento à saúde e o repasse de recursos que, de acordo com eles, está atrasado.
Em nota, a Funasa admitiu que houve corte no orçamento da saúde indígena nos Estados devido à redução de verbas repassadas pelo ministério. Como conseqüência, o repasse aos distritos sanitários especiais indígenas foi reduzido. A Funasa diz que pediu ao ministério a recomposição orçamentária.
(Por Dimitri do Valle e Rodrigo Vargas, Folha de São Paulo, 28/05/2008)