Ontem, no Dia Nacional da Mata Atlântica, uma informação preocupante em relação ao bioma foi externada pela Fundação SOS Mata Atlântica em entrevista coletiva online: a fragmentação florestal é um processo extremamente crítico, que agrava a proteção da rica biodiversidade que ele abriga. Esse foi um dos dados diagnosticados a partir dos levantamentos empreendidos para formatação do “Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica”, estudo que a entidade divulgou ontem, num trabalho concretizado em parceria com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
Pelo estudo, a área original do bioma está reduzida a 7,26% de sua cobertura original, ou seja, 97.596 km2. Este número totaliza os fragmentos acima de 100 hectares, ou 1km2, distribuídos em 17.875 polígonos, e têm como base o mapeamento de 98% do bioma Mata Atlântica, em 16 dos 17 Estados onde ocorre (PE, AL, SE, BA, ES, GO, MS, MG, RJ, SP, PR, SC, RS, CE, PR, RN e PI), incluindo dados levantados pela ONG Sociedade Nordestina de Ecologia nos estados do Ceará, Pernambuco e Rio Grande do Norte. Apenas o Piauí não teve a área da Mata Atlântica avaliada.
Somando todos os fragmentos acima de 3 hectares, existem hoje na Mata Atlântica 234.106 polígonos, que totalizam 142.472 km2, ou seja, 10,6% de florestas nativas. “Mais de 25 mil polígonos são menores do que 5 hectares, o que reforça a importância dos esforços na restauração florestal da Mata Atlântica”, explica Marcia Hirota, diretora de Gestão do Conhecimento e coordenadora do Atlas pela SOS Mata Atlântica. “Devido à extrema fragmentação de alguns trechos, principalmente nas regiões interioranas, a interligação entre as florestas nativas torna-se primordial para garantir a proteção da biodiversidade deste bioma”, adverte.
Os dados apresentados para o período de 2000-2005 confirmam a redução de 69% na taxa de desmatamento comparada com o período anterior, de 1995 a 2000. No entanto, o estudo indicou aumento no ritmo de desmatamento nos dois últimos anos, tendência “muito preocupante” na avaliação de Marcia Hirota.
No período de 2000 a 2005, em números absolutos, o estado de Santa Catarina foi campeão de desmatamento, suprimindo 45.530 hectares de Mata Atlântica. Minas Gerais vem em seguida, tendo desmatado 41.349 hectares; a Bahia está em terceiro lugar, desmatando 36.040 hectares. A lista prossegue com Paraná, 28.238 hectares; Mato Grosso do Sul, 10.560 hectares; São Paulo, 4.670 hectares; Goiás, 4.059 hectares; Rio Grande do Sul, 2.975 hectares; Espírito Santo, 778 hectares, e, finalmente, Rio de Janeiro, com 628 hectares.
As informações divulgadas ontem incluíram uma análise para o período de 2005-2007 dos 51 municípios apresentados como mais críticos em 2000-2005. O município que mais perdeu cobertura vegetal nativa no período foi Mafra (SC), que desmatou 1.735 hectares, seguido de Itaiópolis (SC), que suprimiu 1.076 hectares, e de Santa Cecília, também em SC, que desmatou 1.032 hectares. Na continuidade dessa lista lamentável, figuram ainda os seguintes municípios, com as respectivas áreas desmatadas: Tremedal (BA, 927 ha), Coronel Domingos Soares (PR, 369 ha); Ninheira (MG, 899 ha), Bituruna (PR, 789 ha), e Bom Jesus da Lapa (BA, 796 ha).
Imprensa
Na entrevista coletiva, da qual participaram também Flávio Ponzoni, coordenador técnico do estudo pelo INPE; e Mario Mantovani, diretor de Mobilização da Fundação SOS Mata Atlântica, Marcia Hirota comentou a responsabilidade dos veículos de comunicação no trabalho de conscientizar quanto à missão de preservar o bioma. “A imprensa tem sido uma aliada e tem um papel importante na nossa causa. Ela traduz nossos jargões e leva para a sociedade a importância da conservação da Mata Atlântica. A cobertura tem melhorado e muitos jornalistas têm investido em sua formação”, disse.
AmbienteBrasil perguntou a Flávio Ponzoni se, diante das evidências de que tais esforços não têm surtido o efeito desejado, não seria interessante investir na divulgação de nichos rentáveis na exploração sustentável do bioma, a exemplo de potenciais propriedades medicinais de sua flora. A estratégia seria a de visualizar uma lucratividade na floresta em pé, condição mais sedutora aos setores que colocam o lucro acima da conservação ambiental.
Em termos bem claros: talvez a única saída para proteger o bioma seja mostrar que essa proteção vale dinheiro. Flávio Ponzoni concordou com essas potencialidades da Mata Atlântica, mas ressalvou que, até hoje, esse interesse, ao invés de resguardá-la, contribuiu para acelerar sua devastação. “A sociedade não percebe isso porque não foi educada a perceber. A miopia de todos contribui muito para estarmos perdendo tudo”, colocou.
Clique aqui para acessar a Atlas no portal da SOS Mata Atlântica.
(Por Mônica Pinto, AmbienteBrasil, 27/05/2008)