"Aposto que enquanto discutimos aqui eles dão risada". A frase é um dos muitos posts publicados pelo
Blog R2Cpress de Ilhéus e resume a sensação de impotência da comunidade local frente ao sedutor investimento de R$ 5 bilhões previsto pelo projeto Porto Sul.
Em seis meses o governo discutiu, aprovou e já desapropriou uma parte da área destinada às instalações do porto e do pólo industrial. Sobre a mata atlântica e os mangues da região, nada a declarar. Na semana em que líderes mundiais discutem políticas para a preservação da biodiversidade na COP9 em Bonn, vale lembrar que no Brasil, um dos países mais ricos em biodiversidade, fauna e flora é o que menos importa. Pelo menos na prática, já que na teoria todo político e empresário já virou ecologista de carteirinha.
Mas quem são "eles" a se rir dos inquietos ambientalistas? Vale, Baosteel, Mittal, INB, governo federal e estadual. O que querem? Exportar ferro, soja, cana e urânio. Por que? Pelo progresso. E o que é o progresso? Depende de quem pergunta. Para os europeus bem educados, progresso é ter saúde, paz, alegria, enfim, qualidade de vida. Coisa que o governo garante. Para a elite política brasileira, progresso é ter dinheiro no bolso, pois o resto se compra.
Urânio precárioCoincidência ou não, justamente quando o debate sobre o Porto Sul começava a esquentar, um
alerta radioativo disparou em Salvador. Uma carga de 175 toneladas de concentrado de urânio ficou armazenada em precários contêineres no porto da capital baiana. Proveniente de Caetité, pólo minerador que será ligado ao Porto Sul, a carga esperava pela autorização para entrada no porto do navio que a levaria ao Canadá, onde seria enriquecida. Depois deve ser embarcada de volta ao Brasil, para alimentar as usinas nucleares de Angra. Logística esperta, tão eficiente quanto os reatores instalados na costa carioca.
Com o Porto Sul não deve ser diferente. Exporta-se matéria prima que enriquece os já ricos da terra, e importa-se os caros produtos industrializados que não mudam a condição de sobrevivência dos pobres locais.
(Ambiente JÁ, 27/05/2008)