Onze espécies de tubarão e arraias estão "em perigo" ou são "vulneráveis" à extinção no mundo. A destruição das espécies se dá principalmente pela falta de limites da pesca. No Estado, há a proposta de criação de Unidades de Conservação (UCs) marinhas. Entretanto, a pressão de grandes empresas vem impedindo a proteção da região e de suas espécies.
"É evidente que a criação do Refúgio de Vida Silvestre (Revis) em Santa Cruz vai proteger estas espécies. O local é como um criadouro. Tem alimentos, o que chama os tubarões para a área de proteção. O Revis é importante para a conservação destas espécies, até porque colocaria limites para os grandes pesqueiros", apontou o presidente do Instituto Organização Consciência Ambiental (Instituto Orca), Lupércio Araújo.
Segundo pesquisas da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), os tubarões e arraias que corem risco de extinção sofrem devido à falta de limites para a pesca e também pela exploração de barbatanas.
No Estado, aponta Lupércio, o animal acaba morrendo ou nas redes de pescadores, que em grande parte não tem a intenção de pegar o animal, ou nas pescas propositais, feitas com espinhéis (aparelho de pesca que consiste numa corda comprida com dezenas e até centenas de anzóis fixados) por grandes pesqueiros. Os limites de pesca propostos pelas UCs marinhas combateria este problema.
Entretanto, há uma grande resistência do setor empresarial à criação da UCs marinhas no Estado. A ONG Movimento Espírito Santo em Ação, que representa as grandes poluidoras do Estado, inclusive empresas com interesses na região, tem se articulado junto aos bancada federal capixaba para barrar o processo de criação das UCs, se valendo de argumentos infundados.
Enquanto isso, as espécies de tubarões continuam diminuindo. Para serem classificados como "próximos da ameaça", os tubarões apresentaram um declínio de população de 50% em dez anos, devido a falta de limites da pesca, que geram tanto a morte proposital, quanto a não intencional.
No Estado, são comuns os tubarões das espécies: tigre, galha-preta, cabeça-chata, anequim, entre outros. Lupércio afirma que embora tenham características oceânicas, esses animais podem ser vistos também na área continental e, consequentemente, acabam virando vítimas de redes de pesca e dos espinhéis de até 5 km.
"O espinhel tem até cinco quilômetros e não dá chance alguma aos animais. Há ainda o comércio das barbatanas e a pesca com rede, que também são responsáveis pela captura e morte dos animais. Se isso não levar à extinção, vai gerar certamente a diminuição do tamanho e do número destes animais", ressaltou Lupércio.
O ambientalista cobra a criação do Revis de Santa Cruz, assim como da APA Costa das Algas, como mecanismos de proteção a estas espécies, assim como toda a fauna marinha do Estado.
A pesca de tubarão no Estado, além de prejudicar o próprio animal, contribui ainda para a morte de outros animais, como a do golfinho. O especialista conta que em algumas regiões os golfinhos são mortos e usados como iscas para pescar os tubarões. Nas redes e espinhéis também são mortos com freqüência as arraias e as tartarugas marinhas.
O estudo da IUCN foi apresentado neste final de semana, durante a reunião Convenção sobre Biodiversidade, que começou no dia 19 de maio na cidade alemã de Bonn, e será publicado na revista Aquatic Conservation: Marine and Freshwater Ecosystems.
(Por Flávia Bernardes,
Século Diário, 27/05/2008)