A Ong ambientalista Greenpeace negocia um veto ao milho transgênico com duas das maiores empresas produtoras e exportadoras de frango do Brasil — ambas instaladas no Paraná, maior produtor de aves do País —, informou nesta segunda-feira (26) a coordenadora de Engenharia Genética do Greenpeace no Brasil, Gabriela Vuolo. Ela está em Bonn, Alemanha, onde participa da Nona Conferência das Partes da Convenção sobre Diversidade Biológica (COP 9).
“Eles estão apreensivos com os altos riscos de contaminação do milho convencional por sementes transgênicas, pois não usam produtos geneticamente modificados na alimentação das aves, já que boa parte da produção é exportada para mercados com restrições à manipulação genética”, explica Gabriela. Antes de viajar à Alemanha, ela reuniu-se com diretores das duas empresas para começar a elaborar um acordo de colaboração para restringir o plantio de milho transgênico no Paraná.
Na prática, a idéia é usar a força dos produtores de frango como forma de convencer os agricultores a não plantar o milho geneticamente modificado. O cereal é o principal ingrediente da alimentação das aves. “As duas empresas utilizam um sistema de pré-contrato para a compra do milho, em que se comprometem a ficar com o cereal antes mesmo do plantio, desde que ele atenda aos requisitos estabelecidos. Um deles é a proibição de transgenia. Queremos que a proibição seja mantida e reforçada no pré-contrato, até porque atende ao interesse econômico dos produtores”, argumenta Gabriela.
Na outra ponta, o Greenpeace articula uma pressão de seus escritórios na Europa sobre as empresas brasileiras exportadoras de frango, em busca de um reforço no cerco aos insumos transgênicos. A coordenadora da organização não-governamental deve voltar a conversar com os diretores dos produtores de frango em junho, após o encerramento da COP 9.
Em maio de 2007, a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança do governo federal (CTN-Bio) aprovou a venda de sementes de milho transgênico desenvolvida pela multinacional alemã Bayer, que é resistente ao glufosinato de amônio, herbicida usado no combate a ervas daninhas. A venda foi liberada em fevereiro de 2008 pelo Conselho Nacional de Biossegurança (CNBS).
Como o milho é uma planta de polinização aberta, ou cruzada, a contaminação de lavouras convencionais por sementes transgênicas preocupa ambientalistas, que defendem normas mais rígidas de segregação dos cultivos geneticamente modificados. Na polinização cruzada, o pólen de uma planta transgênica pode polinizar uma convencional ao ser levado pelas correntes de ventos. Assim, a colheita do plantio convencional ou orgânico pode se tornar transgênica, independente da vontade do produtor.
“A CTN-Bio determinou uma separação mínima de apenas 100 metros entre lavouras transgênicas e convencionais. Mas, na França, já encontrou-se milho convencional contaminado por transgênicos plantados a 35 quilometros de distância”, denunciou na semana passada, na COP 9, Julian Perez, da organização não-governamental brasileira Centro Ecológico.
O Paraná é o maior produtor de milho do País, com área cultivada em torno de três milhões de hectares e produção de 15,2 milhões de toneladas, distribuídas no cultivo de duas safras anuais. Atualmente, o Paraná é responsável por 23% da produção nacional de milho, e liderou as exportações do cereal à Europa na última safra.
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Envolverde/Governo do Estado do Paraná, 27/05/2008)