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amazônia
2008-05-27
É sintomática a matéria de Alexei Barrionuevo, correspondente no Rio de Janeiro do influente jornal The New York Times, "De quem é esta floresta amazônica, afinal?", publicada domingo 18. Afirma que a recorrente ameaça velada de líderes globais de que a Amazônia Continental não pertence a nenhum país, mas à humanidade, é objeto de preocupação no Brasil. "Um coro de líderes internacionais está declarando mais abertamente a Amazônia como parte de um patrimônio muito maior do que apenas das nações que dividem o seu território” – escreveu Alexei Barrionuevo, citando o militante ecológico, ex-vice-presidente americano Al Gore, que, em 1989, disse que "ao contrário do que os brasileiros acreditam, a Amazônia não é propriedade deles, ela pertence a todos nós".

Trechos da matéria: “O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tenta aprovar uma lei para restringir o acesso à floresta amazônica, impondo um regime de licenças tanto para estrangeiros como para brasileiros; Visto em um contexto global, as restrições refletem um debate maior sobre direitos de soberania contra o patrimônio da humanidade; Também existe uma briga sobre quem tem o direito de dar acesso a cientistas internacionais e ambientalistas que querem proteger essas áreas, e para companhias que querem explorá-las; É uma briga que deve apenas se tornar mais complicada nos próximos anos, à luz de duas tendências conflituosas: uma demanda crescente por recursos energéticos e uma preocupação crescente com mudanças climáticas e poluição".

O senador Jefferson Péres (PDT/AM), suplente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado, classificou a matéria do The New York Times como "bobagem”. O senador argumentou que "as cartas da ONU (Organização das Nações Unidas) não prevêem a retirada de territórios de países. A única exceção é em relação à Antártica, que nunca pertenceu a nenhum país”; disse que juridicamente é impossível a intervenção e que, militarmente, a ocupação seria um "ato imperialista".

Senador, a intervenção americana no Iraque teve respaldo jurídico? Não! Foi um ato imperialista.

Desenvolvimento sustentável

Qualquer papagaio que freqüente os corredores do Congresso Nacional sabe dizer “desenvolvimento sustentável”, mas raros congressistas sabem seu real significado. Sem delongas, quer dizer inserir o amazônida, incluindo o índio, na sociedade brasileira, como ocorreria numa verdadeira democracia. A Amazônia é, desde sempre, apenas uma fornecedora de matéria-prima para o estado brasileiro e de commodities para inchar positivamente a balança comercial. Simples assim.

O exemplo mais recente disso foi a idéia do ministro de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, também conhecido como ministério do futuro, Mangabeira Unger, escalado por Lula para pensar a Amazônia. A cabeça de Unger explodiu com uma solução pelo menos para o Nordeste: a construção de um aqueduto para levar água do caudaloso rio Amazonas para o Nordeste. Bem, o Nordeste tem bastante água e nas cidades da Amazônia água encanada é um milagre.

Os governos que se sucedem, especialmente o governo Lula, que se perpetua, cospem na Amazônia. Lembram hienas. Escarram na cara dos amazônidas. O fato é que os relatórios ambientais são apenas um faz de conta. Por exemplo, se os índios que vivem há séculos no entorno do futuro lago de Belo Monte não caírem fora morrerão afogados. Afinal, é um bando de bugres, ou, parafraseando, bagres, para lembrar também Santo Antônio e Jirau.

"A grande questão é como fazer a floresta valer mais em pé do que cortada" - observa Virgílio Viana, coordenador do Fundo Amazônia Sustentável (FAS), ONG criada para gerenciar o Bolsa Floresta, programa criado pelo governo do Amazonas que prevê o pagamento de R$ 50 a famílias que vivem em áreas de reservas estaduais e não desmatem. Mas os povos das florestas não têm documento e sem CPF nada de dinheiro.

Pois bem, a solução é levar escola, financiamento para agricultura familiar e para cooperativas extrativistas, infra-estrutura, hospital, enfim, cidadania, ao índio, ao caboclo, ao ribeirinho, ao quilombola e às hordas de miseráveis que pululam como piolhos nos esgotos das metrópoles amazônicas.

Ocorre que o governo não consegue fazer isso nem no Rio de Janeiro, vitrine cultural brasileira. Irá conseguir na Hiléia?

O que é intrigante é que a Amazônia é, de longe, a mais ricamente fabulosa região do planeta. Em tudo. Mas os governos brasileiros agem com total desconhecimento do que é a Amazônia. Ou seria desfaçatez? O pior é que não há, até onde a vista mais apurada atinja, em horizonte longínquo, o menor indício de que surja um líder na região, capaz de conduzi-la para sua glória.

No caso de invasão americana, a população, por sentimento nativista, se insurgirá. É aí que o diabo será solto.

Brasília e os gringos querem nosso bem ou nossos bens?

1853 - O capitão de fragata Mathew Fontaine Maury, chefe do Serviço Hidrográfico da U.S. Navy, diz no livro “The amazon River and the Atlantic Slopes of South América”: “O mundo amazônico, paraíso de matérias-primas, está aguardando a chegada de raças fortes e decididas para ser conquistado científica e economicamente”.

1876 - O botânico inglês Richard Spruce vem estudar a seringueira, seguido pelo seu colega e compatriota Henry Alexander Wickman, que pirateou milhares de sementes da hevea brasiliensis, plantadas em estufas na Inglaterra e transplantadas para a Malásia, onde não há fungos amazônicos. Hoje, a Malásia é a maior produtora de borracha do mundo.

1895 - Garimpeiros e membros da Sociedade de Geografia de Paris ensaiam a formação da República de Counani, planejando apoderar-se do ouro descoberto pelos irmãos brasileiros Firmino e Germano no rio Calçoene, no Amapá. Naquele mesmo ano, os franceses desfecharam um ataque contra a Vila do Amapá, defendida por um punhado de patriotas comandados por Francisco Xavier da Veiga Cabral, o Cabralzinho. Queriam anexar à França 260 mil quilômetros quadrados do Escudo das Guianas.

Fim do século XIX - O governo boliviano arrenda uma área não-demarcada e povoada por migrantes nordestinos, o hoje Acre, a um consórcio anglo-americano, o Bolivian Syndicate, que tinha poderes de Estado, podendo formar exército e marinha. O herói Plácido de Castro rebelou-se e, diante de um pequeno exército, combateu o Bolivian Syndicate, até que, em 1903, o Barão do Rio Branco comprou o Acre da Bolívia, assinando, então, o Tratado de Petrópolis, em 1903.

1938 - A França sugere ao governo paraense a colonização de áreas dos rios Jari, Cajari e Paru por 60 mil famílias européias, a maioria de origem judaica, mas o presidente Getúlio Vargas fulminou a pretensão francesa de criar núcleos coloniais estrangeiros em território amazônico. Pergunta-se: por que não a Guiana Francesa?

1940 - A Bethlehem Steel Company começa a explorar o melhor manganês do mundo em Serra do Navio, Amapá, a preços aviltados. Menos de 50 anos depois deixou um grande buraco ao escafeder-se. Hoje, tragédias se sucedem em Serra do Navio, pois crianças somem nas crateras deixadas pela Icomi, braço da Bethlehem Steel Company.

1941 - John Caldwwel King, um dos planejadores da frustrada Amazon Valley Corporation - projetada por Nelson Rockefeller para explorar a Amazônia brasileira - e, em 1964, chefe da Agência Rio do Westen Hemisphere Clandestine Services, subordinada à CIA (serviço secreto americano), diz o seguinte: “A Bacia Amazônica, com as suas 2.772.000 milhas quadradas de terras despovoadas e subdesenvolvidas, constitui-se no nosso maior desafio e um gigantesco depósito de matérias-primas, capaz de acolher 100 milhões de habitantes e, dessa forma, transformar-se em um grande mercado para a América industrial”.

1948 – A Convenção de Iquitos previa que os países amazônicos perderiam a jurisdição sobre as terras compradas pelos países do Hemisfério Norte para o Instituto Hiléia, criado pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciências e a Cultura (Unesco), com a finalidade de planejar, coordenar e fazer pesquisas científicas sobre a Amazônia.

1965 – O médico Sérgio Ferreira, da Universidade de São Paulo, descobre uma substância no veneno de jararaca que provoca queda na pressão arterial. Patenteada por laboratório estrangeiro, a substância deu origem a uma série de anti-hipertensivos, que movimentam bilhões de dólares ao ano.

1983 - A ministra da Inglaterra, Margareth Tatcher, declara, com a arrogância própria das etnias que se julgam superiores: “Se os países subdesenvolvidos não conseguem pagar as suas dívidas externas, que vendam suas riquezas, seus territórios, suas fábricas”.

1989 - O vice-presidente dos Estados Unidos, senador Al Gore, declara: “Ao contrário do que os brasileiros pensam, a Amazônia não é deles, mas de todos nós”.

O presidente francês, Jean François Mitterand, deblatera: “O Brasil precisa aceitar uma soberania relativa sobre a Amazônia”.

O Grupo G-7 propõe ao presidente José Sarney que o Brasil ceda determinados direitos para os sete grandes explorarem ecossistemas da Amazônia. O Maranhão é o único estado com quatro senadores, pois o maranhense José Sarney se elegeu pelo PMDB do Amapá, na Amazônia, e lá só dava as caras atrás de voto; agora, nem isso, pois sua última eleição é vitalícia e ele curte a vitaliciedade senatorial em Brasília e em São Luís.

Mikhail Gorbatchev, quando era manda-chuva da União Soviética, afirmou: “O Brasil deve delegar parte dos seus direitos sobre a Amazônia”. Henry Kissinger, um dos mais perigosos espiões americanos, comentou: “Os países industrializados não poderão viver da maneira como existiam até hoje se não tiverem à sua disposição os recursos naturais não-renováveis do planeta. Temos que montar um sistema de pressões e constrangimentos garantidores da consecução desses intentos”.

2004 - Relatório encomendado pelo Pentágono à Global Bussines Network, empresa especializada em tendências de negócios, baseada na Califórnia, e revelado pela jornalista Memélia Moreira, da Agência Amazônia, considera que as potências estrangeiras, especialmente os Estados Unidos, não descartam captar água da bacia Amazônia, principalmente do rio Amazonas, à bala.

2005 - O então secretário de Política, Estratégia e Assuntos Internacionais do Ministério da Defesa, almirante-de-esquadra Miguel Ângelo Davena, afirmou que o governo federal põe um “dinheiro minguado” na Amazônia, durante audiência pública na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado, sob o tema: “A internacionalização da Amazônia: risco real, ou temor infundado?”

2005 - Em Genebra, o ex-comissário da União Européia para o Comércio e então candidato a diretor geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), o francês Pascal Lamy, defendeu "regras internacionais para bens públicos comuns, como as florestas tropicais, água, pesca e a camada de ozônio".

2007 – Milhões morrem em conseqüência da falta de água e de envenenamento de águas pluviais devido à poluição. Na Europa, a água é cada vez mais valorizada. Petroleiros levam água do rio Amazonas para o Oriente Médio.

2008 – Tora-se pelo menos 10 mil quilômetros quadrados de florestas por ano, há décadas; a malária recrudesceu; a Polícia Federal não dá conta do tráfico de drogas e de pessoas; fazendeiros escravizam caboclos; zona rural sem lei; índios morrem de fome; cidades violentas como o Rio de Janeiro; ausência do Estado – aliás desde sempre.

2010 - Ameaça de terceiro mandato para Lula.

(Por Ray Cunha*, para o ABC Polítiko, Envolverde/ABC,  27/05/2008)


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