Em sintonia com o pensamento militar, o ministro de Assuntos Estratégicos, Mangabeira Unger, criticou a política indigenista do governo. Segundo reportagem de Evandro Éboli e Bernardo Mello Franco publicada nesta terça-feira no Globo, a política desenvolvida pelo governo distribui terra mas nega aos indígenas oportunidades econômicas.
- Por isso, estão se afundando na depressão, no alcoolismo e no suicídio - disse durante entrevista em seu gabinete no Comando do Exército, em Brasília.
Qual a opinião do senhor sobre a demarcação da reserva Raposa Serra do Sol?
Mangabeira Unger: A orientação do presidente é aguardar a decisão do STF. Mas direi duas coisas: o Estado de Roraima tem o direito de gozar de todas as condições de uma vida vigorosa e independente dentro da federação. Outra coisa: temos a obrigação de repensar as diretrizes de nossa política indigenista. O Brasil reserva 13% de seu território e mais de 20% da Amazônia aos indígenas. Uma generosidade louvável. Mas, paradoxalmente, nega aos índios instrumentos e oportunidades da atividade econômica. Muitas vezes, por isso, estão afundando na depressão, no suicídio, no alcoolismo e na desagregação moral e social. Temos a obrigação de consertar isso. Temos um compromisso sagrado com os índios, que são pessoas, e todas as pessoas são espíritos que desejam transcender.
Qual seria o melhor órgão de repressão a desmatadores? O ministro Carlos Minc propôs a criação de uma Guarda Nacional Ambiental...
Mangabeira: Quero resguardar a minha opinião. Nada de julgamentos apressados. Estamos numa tarefa de imensa seriedade, e o objetivo não é produzir efeitos midiáticos, é resolver problemas graves do país. Também tem que ficar claro que não queremos militarizar a Amazônia. É um equívoco pensar na Amazônia só como assunto de meio ambiente ou do Ministério do Meio Ambiente. Quase todos os ministérios estão envolvidos com a Amazônia. A Amazônia não é só assunto de ambientalistas. Os amazônios ficam indignados com isso. Isso não é $idéia da Amazônia, é uma idéia do Sudeste sobre a Amazônia.
Em meio ao tiroteio entre o novo ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, e o governador de Mato Grosso, Blairo Maggi, a direção do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) decidiu adiar, por tempo indeterminado, o anúncio de números que vão demonstrar uma nova alta no desmatamento da Amazônia.
Segundo reportagem de Bernardo Mello Franco publicada nesta terça-feira no jornal "O Globo", o diretor do instituto, Gilberto Câmara ficou muito irritado com o impacto das declarações de Minc, que voltaram a pôr o órgão no foco da disputa política sobre o desmatamento. Na sua avaliação, o novo ministro se precipitou ao falar publicamente sobre um levantamento ainda inédito, expondo o órgão a um desgaste desnecessário com Maggi.
Na quarta-feira passada, Minc informou que o órgão divulgaria os dados na segunda-feira, na véspera de sua posse nesta terça, apontando um aumento superior a 60% nas derrubadas em Mato Grosso. Maggi reagiu com novas críticas ao Inpe, o que levou Câmara a determinar a suspensão do anúncio, alegando riscos de uso político das informações.
(O Globo, 27/05/2008)