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terras indígenas passivos de hidrelétricas
2008-05-27
Líder indígena também disse não acreditar que mandarão prender agressores. Índios foram conhecer um outro projeto de geração de energia na Região Norte
 
Um índio da tribo que feriu com facões um engenheiro da Eletrobras na semana passada disse, nesta segunda-feira (26), que a agressão pode não ter sido a última. "O governo brasileiro está criando uma guerra mundial. Primeira guerra mundial aqui no Brasil vai acontecer. Quer fazer barragem, nós estamos indo para brigar mesmo”, desafiou o índio Ireô.

Nesta segunda, índios da tribo foram conhecer um outro projeto de geração de energia na Região Norte. Em Tocantins, lideranças indígenas foram conhecer o funcionamento de uma usina hidrelétrica e os projetos de compensação para as tribos.

Elas aproveitaram a oportunidade também para desafiar quem acredita que eles serão presos pela agressão ao engenheiro. “Quero ver ele mandar prender nós, índio kayapó de todos os lugares.”

"Tratei de me proteger"

O funcionário da Eletrobras, em entrevista concedida ao “Fantástico” desse domingo (25), disse que não espera que aconteça nada com os índios, ao ser perguntado sobre o que espera que aconteça aos indígenas que o agrediram.

“Eu, sinceramente, espero que não aconteça nada. Não vejo nenhuma culpabilidade direta deles nesse assunto. Pode parecer estranho”, declarou Paulo Fernando Rezende.

No programa, ele lembrou como tudo aconteceu. “Eles me puxaram pela camisa, eu caí no chão. No que caí no chão, eu tratei de me proteger, levantando as pernas e apoiando a mão em cima da cabeça. Eles começaram a me bater com borduna, me cutucar, e eu não vi nem quem me acertou o facão, nem senti dor na hora, só depois que eu parei que vi que tinha um corte aqui.”

Mudanças no projeto original

A construção da hidrelétrica de Belo Monte, no Pará, está prevista para começar em 2010. De acordo com o governo, a usina vai ser a segunda maior em abastecimento de energia do país. A proposta é antiga, da década de 80, mas, de lá para cá, passou por várias mudanças para diminuir o impacto sócio-ambiental na região.

A usina fica no sudoeste do Pará. No projeto antigo, o reservatório de água seria de 1.225 km². Toda a área seria inundada. No projeto atual, a área foi reduzida para um terço da proposta inicial. O reservatório ficou com 440 km².

Apesar de todas essas alterações, ambientalistas temem o que pode acontecer com a construção da usina. “A instalação de Belo Monte pode servir para que outras hidrelétricas venham a ser construídas rio acima. E, se elas forem construídas, o Rio Xingu será abraçado de morte definitivamente, assim como as grandes e como as pequenas centrais do Mato Grosso”, explica Raul do Valle.

O engenheiro responsável pela obra diz que o objetivo do projeto é melhorar, e não piorar, a qualidade de vida dos moradores do local.

"Fantástico"

Nesse domingo, o engenheiro e um dos índios que participaram da agressão falaram ao “Fantástico”. O programa mostrou um grupo de índios kayapós que é contra a construção da hidrelétrica.

O líder indígena Ireô participou do ataque ao engenheiro da Eletrobrás Paulo Fernando Rezende, há menos de uma semana. Ireô aparece nas imagens comprando facões na véspera do episódio. E explicou a ação dos índios.

“Esse engenheiro, ele chegou, foi, explicou muita coisa diferente, muito mal. Ele agrediu os kayapós, ele agrediu o pessoal ali no evento. Engenheiro falou coisa mal demais e nós não entendeu. Eu peguei na camisa dele, rasguei a camisa. Eu sabendo que ele tava muito mal, falando da Funai, falando nos índios. Índio não é assim: que temos que aceitar a barragem. Eu briguei, tirei a camisa.”

(G1/O Globo, Gazeta do Povo, 26/05/2008)


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