Ministro afirma que sua missão é reconciliar preservação e desenvolvimento
Escolhido para coordenar o PAS (Plano Amazônia Sustentável), o ministro Mangabeira Unger (Assuntos Estratégicos) não pensou muito quando questionado se conhece suficientemente a região. "Eu me julgo um ignorante", disse.
Mas são muitas as convicções do ministro, a começar por considerar "vazia" a polêmica entre o avanço do agronegócio e a proteção da floresta. Entre o governador Blairo Maggi (MT) e a ex-ministra Marina Silva, Mangabeira foge da opção. Sua missão, descreve, é buscar "reconciliação profunda" entre os pólos do debate. E espera que o novo ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, "seja um colaborador meu no futuro".
FOLHA - Qual é o problema da Amazônia?
MANGABEIRA UNGER - Acho que o debate está falsificando a situação real, que é mais interessante, mais grave, mais perturbadora e esperançosa do que o debate sugere. Um número pequeno de brasileiros acha que a Amazônia deve ser preservada como um parque. Um número igualmente pequeno de brasileiros aceita entregar a Amazônia às formas predatórias da atividade econômica. A grande maioria insiste no desenvolvimento sustentável, mas não sabe como conseguir. O problema não é a divisão entre ambientalistas e desenvolvimentistas, o problema é a confusão.
FOLHA - É possível conter o desmatamento sem frear o agronegócio?
MANGABEIRA - Não tem nada a ver com agronegócio. Nosso problema é que não temos feito nem de longe o suficiente nem em matéria de preservação nem em matéria de desenvolvimento. Por isso, estou discutindo intensivamente com os governadores da Amazônia Legal as medidas necessárias para dar conteúdo prático ao desenvolvimento sustentável.
FOLHA - O sr. assumiu o PAS, plano discutido desde 2003. Mas parece que está partindo da estaca zero.
MANGABEIRA - O PAS é um conjunto de diretrizes e compromissos, mas não é uma planilha tecnocrática. Não é um plano de medidas concretas. Há mais de 25 milhões de brasileiros lá. Se não tiverem oportunidades econômicas, serão levados a uma atividade econômica desordenada que provocará o desmatamento.
FOLHA - O sr. está em rota de colisão com Carlos Minc?
MANGABEIRA - Eu nem tive ainda a oportunidade de estar com ele. Eu o vejo como um grande colaborador meu no futuro.
FOLHA - Entre Blairo Maggi e Marina, a quem dá razão?
MANGABEIRA - É natural que haja tensões. Mas é um desserviço acalentar divisões no meio desta neblina. Não estou dizendo que há fórmula mágica. Não tem o menor sentido disputar uma espécie de império que não construímos. Nosso problema é avançar na construção, sem dogmas, sem preconceitos, sem prevenções, neste esforço de produzir reconciliação profunda e duradoura entre preservação e desenvolvimento. Minha tarefa é colocar a imaginação a serviço da eficácia.
FOLHA - O sr. se julga suficientemente informado?
MANGABEIRA - Eu me julgo um ignorante. O que eu sei fazer é construir uma tarefa com pessoas de idéias contrastantes. A premissa da discussão com o mundo a respeito da Amazônia é a reafirmação da nossa soberania. Mas não devemos cultivar uma atitude paranóica.
(Por Iuri Dantas e Marta Salomon, Folha de São Paulo, 27/05/2008)