Um relatório publicado pela consultoria de agronegócio AgraFNP indica que os incrementos na cotação dos imóveis rurais verificados entre março e abril deste ano estão ligados, entre outros fatores, à procura por terras para a produção de agrocombustíveis.
De acordo com a entidade, essa busca se intensifica em áreas de fronteira agrícola. "Identificamos um interesse muito grande por áreas no Oeste Baiano, na região do Mapito (fronteira entre Maranhão, Piauí, Tocatins) e em alguns pontos do Mato Grosso", declara Jacqueline Bierhals, pesquisadora da AgraFNP. No caso dos sul de Maranhão e Piauí, áreas de ocupação relativamente recente de soja, o foco em agroenergia já é percebido pela chegada da cana-de-açúcar.
Mas o mercado de terras para o cultivo já passou por momentos melhores. A pesquisadora conta que, no final de 2006, houve um forte aumento nas regiões onde se divulgaram iniciativas de aumento da produção de etanol e instalação de novas usinas. "Mas, como o setor respondeu muito rapidamente, com produção muito grande por duas safras seguidas, o preço da cana caiu bastante", diz. Resultado disso é que já há redução na demanda por terras em São Paulo, maior estado produtor de cana.
Quanto a novos cultivos associados à produção de agrocombustíveis, casos de pinhão manso e palmáceas, como o dendê, Jacqueline afirma que ainda não se pode perceber sua influência direta na formação dos preços de terras. "Essas culturas ainda estão no nível de estudo. Mas representam uma forte tendência para o futuro", analisa.
O carro-chefe da procura por imóveis rurais, e conseqüente alta das cotações, continua sendo a valorização dos grãos. Em muitas regiões do país, a própria saca de soja é o indexador do valor do hectare. Assim, com um mercado aquecido, o custo das propriedades rurais acompanha a subida da oleaginosa nas bolsas internacionais.
Indiretamente, a agroenergia também ajuda a compor esse cenário. Com a maior destinação de terras de milho para a produção de etanol nos EUA, as áreas de soja no país sofreram uma estagnação. Dessa maneira, o Brasil se tornou o principal candidato a suprir a demanda global crescente pelo grão, puxada pela China. Isso também gera impacto nos preços de terras em áreas com vocação para o plantio do grão.
Segundo Jacqueline, outro fator que chamou a atenção foi a forte presença de grupos estrangeiros entre os investidores do setor agropecuário atrás de terras, muitos deles envolvidos em projetos de agroenergia.
(24 Horas News,
Amazonia.org.br, 26/05/2008)