Elegante e com fala pausada, Ernst Ligteringen é uma das maiores autoridades mundiais em sustentabilidade. À frente da Global Reporting Initiative (GRI), organização não-governamental que elabora normas para a produção de relatórios de sustentabilidade e transparência, ele presidiu a Conferência Global sobre Sustentabilidade e Transparência, que ocorreu no início do mês. No dia 25, ele vem ao Brasil para participar de uma conferência realizada pelo Instituto Ethos.
DINHEIRO - Como o sr. Avalia a posição do Brasil em relação à sustentabilidade?
ERNST LIGTERINGEN - O Brasil enfrenta vários problemas. Basta olhar a Amazônia. O País apresenta um dos maiores desequilíbrios na distribuição de renda. Se quiser ter sucesso, precisará ajustar esses problemas. Há um movimento forte por parte do governo e de várias empresas. Daí o lançamento do Índice de Sustentabilidade Empresarial e o Novo Mercado, ambos da Bovespa. Vemos no Brasil um crescente interesse nos relatórios de sustentabilidade, para facilitar o acesso às melhorias dessas companhias.
DINHEIRO - O que o sr. Acha sobre a maior demanda de relatórios brasileiros?
LIGTERINGEN - O Brasil encontra- se no estágio inicial. Há setores industriais que buscam ampliar a participação nesses relatórios, como as empresas de biocombustíveis, interessadas em melhorá-los para explicar questões como local de plantio e o impacto disso nas comunidades.
DINHEIRO - Qual sua opinião sobre o aumento da produção de biocombustíveis no Brasil?
LIGTERINGEN - Depende das circunstâncias onde é produzido. Biocombustíveis reduzem emissões de carbono, ajudam a produzir energias renováveis, geram empregos, mas ocasionam problemas, se a produção substitui áreas agrícolas. Isso pode ser exposto em relatório de sustentabilidade.
DINHEIRO - O que pode ser feito em relação a empresas que poluem o meio ambiente?
LIGTERINGEN - Algumas empresas têm problemas de sustentabilidade pois operam com petróleo, produzindo queima de carbono. Fazemos parte desta economia e temos ações dessas companhias. Somos uma sociedade que se tornou dependente do petróleo.
DINHEIRO - E como resolvemos isso?
LIGTERINGEN - Temos de encontrar a solução juntos e aí vem a questão crítica. Será que essas empresas olham para o futuro a fim de encontrar soluções? Não cabe a mim dar essa resposta. Toda a sociedade deve estar envolvida.
"Para se fortalecer, o Brasil deve tentar resolver a questão da miséria"
DINHEIRO - Como está o Brasil em relação a outros países em desenvolvimento? LIGTERINGEN - O Brasil apresenta enorme diversidade e deve tentar resolver os problemas associados aos milhares de brasileiros que vivem na miséria. Na maioria dos países em desenvolvimento essas questões são similares. Mas o Brasil está se desenvolvendo rapidamente e pode fortalecer sua posição no mercado global.
DINHEIRO - Quer dizer que conhecemos os problemas mas não as soluções?
LIGTERINGEN - Métodos de sustentabilidade não são uma ciência concluída com os quais é possível dizer qual o melhor jeito de fazer as coisas. Há muito para ser descoberto e isso depende das pessoas dividirem experiências.
DINHEIRO - Como o sr. Vê a transparência em empresas?
LIGTERINGEN - Acho que os relatórios têm informações mais confiáveis. É preciso mais progresso porque nosso conhecimento sobre sustentabilidade é limitado. Entendemos até certo ponto como as mudanças climáticas funcionam e nos afetam. À medida que avançamos nessas questões podemos chegar a melhores guias e a relatórios que podem ser cruciais para entender as alterações no nosso meio.
DINHEIRO - E crê que as empresas estão preocupadas ?
LIGTERINGEN - As mudanças ocorridas no mundo têm feito as pessoas olharem para essas questões. Nossa economia é dependente do petróleo. Sabemos que as reservas terão fim e que a emissão desses gases altera o clima. A mudança de clima afeta diversos lugares no mundo, que, por sua vez, alteram a produção de comida. Essas questões refletem- se em várias companhias.
DINHEIRO - Por isso é tão importante a transparência nos relatórios?
LIGTERINGEN - Quem lê os relatórios leva muito a sério o conteúdo. Seria um grande erro vê-los como oportunidade de se comunicar contando apenas as boas ações e novidades da companhia.
(Por Márcia Vaisman, Revista Istoé Dinheiro,
FGV, 26/05/2008)