A crise do lixo no sul da Itália, que ganhou proporções gigantescas nesta semana, levanta o alerta sobre uma das grandes questões a serem encaradas em um mundo cada vez mais consumista. A reciclagem, por outro lado, pode ser uma das respostas com benefícios sociais e ambientais para o problema.
“A reciclagem pode representar uma fração importante do total de lixo e resultar em algo útil para o consumo. Todavia, por motivos econômicos e energéticos, o total de reciclagem de lixo não é factível”, afirma o professor da universidade de Vienna, Paul Hans Brunner, especialista na gestão de lixo.
Dados recentes divulgados pela associação sem fins lucrativos Compromisso Empresarial para Reciclagem (Cempre), mostra que apenas um milhão de brasileiros tem acesso aos programas municipais de coleta seletiva, um número relativamente baixo diante do tamanho da população brasileira - 183,9 milhões de habitantes.
Em levantamento realizado em 2005, o Cempre constatou que existem 2.361 empresas operando no setor de reciclagem, entre recicladores, sucateiros, cooperativas e associações. A maioria delas (1.145) está concentrada no Sudeste, seguidas das regiões Sul (722), Nordeste (301), Centro-Oeste (150) e Norte (43).
Apesar de o principal produto reciclado ser o plástico (trabalhado por 577 das 722 empresas recicladoras), o Brasil desponta muitos países industrializados na reciclagem de latas de alumínio, tendo alcançado um índice de 94% em 2006. O metal é justamente o segundo material mais reciclado (60), seguido pelo papel (54) e por embalagens longa vida (14).Vidros, baterias, pneus e pilhas são reciclados por apenas 15 empresas.
As empresas têm desempenhado um papel importante no desenvolvimento da rede de reciclagem brasileira, a exemplo do Cempre, que é integrado por grandes empresas como a Gerdau, Suzano, Alcoa, Nestlé, Unilever, HP e Coca-Cola.
Com o objetivo de consolidar um sistema de reciclagem, a distribuidora da Coca-Cola no Sul do país, Vonpar, oferece ajuda financeira e técnica para projetos de reciclagem nos estados onde atua – Rio Grande do Sul e Santa Catarina. No Rio Grande do Sul, a empresa já selecionou 13 projetos, envolvendo 23 galpões, que receberão ao todo 690 mil reais.
Nesta semana, a empresa lançou o edital de seleção de projetos em Santa Catarina. “Nosso entendimento é que todos os materiais devem voltar para o processo produtivo”, afirma o diretor-executivo do Instituto Vonpar, Leo Voigt.
Ao todo serão disponibilizados 400 mil reais e mais a cooperação técnica por dez meses. “Vamos ajudar também na comercialização dos produtos, que é hoje um dos principais problemas da reciclagem no país”, diz Voigt.
O edital está disponível no site, onde os interessados também poderão encontrar um modelo de projeto. “O financiamento não tem rubrica, ou seja, é uma grana flexível e a entidade é quem irá nos dizer quais são as suas necessidades”, destaca Voigt.
(Carbono Brasil, 23/05/2008)