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2008-05-26

A riqueza de recursos naturais no Brasil pode fazer do país um grande exportador de painéis solares. É o que acredita Hamilton Moss, do Centro de Pesquisas em Energia Elétrica (Cepel). Segundo ele, o grande gargalo da indústria de painéis solares atualmente é o fornecimento de silício, matéria-prima utilizada na fabricação das placas. “O Brasil é o maior produtor mundial de silício; o país tem chances de ser um grande exportador de painéis”, acredita Moss.

Ele apresentou a visão brasileira na mesa redonda "Energia Solar – potenciais aplicações industriais e usos produtivos", durante o Fórum Global de Energias Renováveis, em Foz do Iguaçu. De acordo com Moss, como 46% da matriz energética brasileira já é baseada em fontes renováveis, a energia solar teria pouco a acrescentar.

Moss citou uma tese de mestrado que compara o custo da fabricação dos painéis no Brasil e na Alemanha: aqui, o valor chega a ser três vezes menor. Mas a grande área de radiação solar e a extensão do país não se refletem em investimentos em energia solar – apesar de ser o sétimo do mundo em área coberta com painéis solares (3,1 milhões de m2), o crescimento do setor é pequeno (17% ao ano).

Outras matrizes renováveis como hidráulicas e biocombustíveis, têm preferência na pauta do governo, mas o representante do Cepel acredita que a energia solar pode servir para complemento de energia, principalmente, em áreas remotas. “A energia solar é uma das opções para algumas regiões, mas para outras é a única opção. A universalização energética não se dará sem a energia fotovoltaica.”

Aquecimento da água

Moss acredita que uma energia “nobre” como a elétrica não deveria ser gasta no aquecimento de chuveiros. Outros palestrantes também se voltaram para o uso da radiação solar para aquecimento da água. É o caso do egípcio Mohamed Gamal, da Autoridade para Energias Novas e Renováveis. Ele apresentou projetos de parceria com o governo italiano que visa disseminar o uso de painéis solares para aquecimento da água entre as cidades da costa do Mar Mediterrâneo.

Em termos solares, o Egito é um país privilegiado. O país está no cinturão de países solares e conta com uma radiação de 1.900 a 2.800 KW/m2 ao ano. No país, 14 empresas trabalham exclusivamente com aquecimento da água e utilizam uma área de 500 mil m2 com painéis voltados para este fim. Gamal apresentou o projeto Solaris, instalado no Centro Médico da Cidade do Cairo, capital egípcia.

Na Índia, a energia solar é muito utilizada na indústria para aquecimento da água e secagem de ervas. A organização sem fins lucrativos Aplicações Técnicas de Energia Renovável (Teri) fez uma pesquisa com 45% das pequenas e médias empresas que utilizam a energia solar (celulose, papel, seda, têxtil, tabaco, etc) e constatou que a maior parte utiliza esta energia para o aquecimento.

“Temos um potencial muito grande do uso da energia termo-solar na indústria da Índia”, disse o associado da Teri, Shirish Garud. Segundo ele, desde 1982 o investimento em pesquisa e desenvolvimento em energia solar virou política pública do governo indiano. Na Índia há um ministério específico para energias renováveis.

O caso espanhol

A experiência espanhola se foca na concentração dos raios solares para produzir energia. “A radiação solar tem o inconveniente de ter baixa intensidade, mas se concentrarmos a radiação, poderemos ter aplicações mais ambiciosas”, disse o diretor da Plataforma Solar de Almería, na Espanha, Diego Martínez.

Uma das tecnologias utilizadas na Espanha é em formato de torre: uma série de espelhos reflete a radiação solar para um único ponto, centralizando a energia. Esta experiência já vem sendo usada em larga escala no país.

Segundo Martínez, no verão europeu há um grande déficit de energia na região, tornando a opção solar bastante desejável. Na Espanha, a produção de energia baseada em fontes renováveis recebe tarifação diferenciada. Além disso, o governo se compromete a comprar toda a energia solar produzida, garantindo o preço por 25 anos.

Martínez acredita que a energia solar pode integrar os países europeus com os países do norte da África. Esta região favorecida pela radiação solar poderia abrigar os painéis solares, produzindo energia limpa para Europa. “Há 20 anos nem pensávamos em energia eólica e hoje somos o segundo maior produtor mundial. O mesmo poderemos pensar da energia solar.”   

(Carbono Brasil, 23/05/2008)


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