Apesar de mais conhecida pelas recentes brigas judiciais, há pelo menos cinco séculos de história a ser contada sobre a região do Parque do Acaraí, em São Francisco do Sul. A área de 66,67 km² - onde a Fundação do Meio Ambiente (Fatma) tenta tirar do papel um parque de preservação permanente - já foi povoada por mais de cem fazendas de mandioca e cana-de-açúcar. A vegetação que hoje cobre a maior parte da área, a ponto de tapar a luz do sol, é de sobreviventes - já que no passado tudo foi desmatado.
A flora e a fauna do Acaraí levaram o governo estadual, há quase três anos, a decretar a região como unidade de proteção total. Não sem razão. O Acaraí tem manguezais e mata atlântica, vegetações protegidas por leis. Atualmente, qualquer um pode andar de moto sobre as dunas e espalhar a areia pela restinga. As bromélias e as orquídeas sofrem com a retirada sem licença.
Há ainda espécies nativas ameaçadas de extinção, como o quati e a jaguatirica, ou gato-do-mato. Dentro do parque há também um rio (o Acaraí), uma lagoa, a do Capivaru, e um conjunto de cinco ilhas que formam o arquipélago de Tamboretes. Delas, as aves aquáticas dependem para fazer ninhos.
O problema, acredita o Ministério Público, é que o Acaraí tem história e moradores que fazem parte dela e não querem ter suas atividades limitadas. De fato, todo o passado da região se reflete no presente. As estradinhas de terra que levam ao interior da área do parque foram abertas por escravos para interligar a comunidade.
Hoje, as picadas atraem pescadores amadores. Os escravos deixaram descendentes, os quilombolas, que, dizem, ainda viveram por muito tempo na floresta por medo de serem recapturados.
Pescadores artesanais, descendentes de açorianos, não fazem mais a "cambira" - peixe seco ao sol - , mas continuam saindo para o rio Acaraí em busca de tainhotas e corvinotas. Os engenhos de farinha de mandioca persistem. Se não chegam a exportar farinha, vendem para a comunidade ou para turistas que passam por lá.
Na região central do Acaraí, há as ruínas dos quatro pilares de sustentação da antiga igreja, a de São Sebastião, erguida com argagassa de conchas e óleo de baleia.
Por Camille Cardoso,
A Notícia/Joinville, 25/05/2008)