Seis ex-agentes de saúde denunciaram semana passada que foram usados como cobaias humanas para os testes de uma vacina contra a malária. Eles foram contratados pelo governo do Acre. A princípio, seus cargos eram de agentes de saúde, com a função de auxiliar a população no combate à doença. Mas, segundo denúncias, o trabalho desses funcionários era outro.
Eles tinham de ficar na floresta várias horas por dia com o corpo exposto - alguns nus - em locais já reconhecidos como de grande incidência de malária. Recebiam, em média, mais de 300 picadas por dia. No final, o sangue era coletado e levado por outros agentes de saúde. Essa prática é usada para identificar qual tipo de mosquito existe na região. Quando começaram a ficar muito doentes, os agentes denunciaram o caso à Justiça. Depois disso, todos foram demitidos pelo governo do Acre.
Um defensor público já levou o caso para o Ministério Público Estadual. Os ex-agentes de saúde afirmam que se submeteram aos testes porque precisavam do dinheiro. Alguns já pegaram 12 malárias e não conseguem mais trabalhar por estarem muito debilitados pela doença. Esse tipo de prática é irregular no Brasil desde 2005, quando casos semelhantes de pesquisas irregulares aconteceram no Amapá. A denúncia foi investigada pela Comissão de Direitos Humanos do Congresso Nacional, chefiada pelo senador Cristovam Buarque.
O uso irregular de cobaias humanas em pesquisas de uma vacina contra a malária acontece em outros lugares do mundo, como na China. Esses estudos fazem parte de uma corrida mundial pela descoberta da vacina contra a malária, que mata mais de 3 milhões de pessoas no mundo todos os anos. É uma das piores endemias mundiais. Ganha até dos números da aids. Existem hoje 550 milhões de pessoas infectadas com a malária.
O caso tem um lado cruelmente irônico. Hoje, são cada vez mais ruidosos os grupos de defensores dos diretos dos animais que tentam reduzir o uso de macacos, coelhos e cachorros em pesquisas científicas. Por causa das pressões desses militantes, os centros de estudos de saúde estão sendo obrigados a buscar alternativas para as cobaias animais. Porém, pelo que se vê dessas denúncias no Acre, talvez seja preciso pensar mais ainda em alternativas para as cobaias humanas.
(Por Juliana Arini,
Blog do Planeta, 22/05/2008)