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2008-05-26

Para um alto funcionário do setor petrolífero, "é um fenômeno fascinante e de certa forma bizarro". Para outro, simplesmente "parece um tanto quanto misterioso". Mas para os países do Oriente Médio, a dinâmica que ambos descrevem é implacavelmente grave - a região mais rica em hidrocarbonetos do mundo enfrenta a perspectiva de uma crítica escassez de gás.

Alguns analistas calculam que a escassez acumulada de oferta para os seis países do Conselho de Cooperação do Golfo (CCG) até 2015 chegará a pelo menos 7 trilhões de pés cúbicos. Para dar uma idéia do que representa esse número, a BP informa que todas as reservas remanescentes comprovadas de gás totalizam pouco menos de 17 trilhões de pés cúbicos. "Existe uma crise regional de gás em fermentação no Oriente Médio", disse Rajnish Goswami na Wood Mackenzie, a consultoria para o setor de energia com sede em Edimburgo.

A falta de gás no Oriente Médio também pode ter grandes implicações globalmente, provocando impactos futuros sobre projetos regionais destinados a atender à demanda em outras partes. O fato de os países aumentarem a quantidade de combustíveis fósseis que usam na geração de energia também poderá afetar futuras exportações. Dos países do CCG - Arábia Saudita, Kuait, Qatar, Bahrein, Omã e os Emirados Árabes Unidos - apenas o Qatar, que tem a terceira maior reserva de gás do mundo, pode evitar o problemas que vai dificultar o desenvolvimento de suas economias e a capacidade de criar empregos, dizem especialistas.

Gás é o principal alimentador para indústrias petroquímicas e com uso intensivo de energia, tais como as de alumínio e fertilizantes assim como o seu uso na geração de energia - sem contar as usinas de dessalinização que fornecem água no deserto. Os países do CCG têm algumas das taxas de crescimento mais acelerado no mundo para demanda por eletricidade, estimada em 6% a 12% anualmente, em comparação com aumentos na demanda em países desenvolvidos, de apenas entre 2% a 4% ao ano.

Com o foco da região historicamente centrado na produção de petróleo, o gás era considerado menos atraente financeiramente. Mas hoje em dia - movidas pelos recordes no preço do petróleo - suas economias estão se expandindo rapidamente e os governos buscam usar seus petrodólares para melhorar a infra-estrutura e estimular a indústria. Com o gás como um dos ingredientes fundamentais para alcançar tais metas, os países tentam reverter décadas de poucos investimentos no setor.

As dificuldades a serem superadas incluem a extração dos vários tipos de gás que são encontrados na região - alguns dos quais incluem o "gás ácido", que é tanto letal quanto corrosivo - e decidir quais setores de refino e comercialização receberão prioridade na forma que ele será utilizado.

Na Arábia Saudita, onde estão as maiores reservas petrolíferas comprovadas do mundo, calcula-se que exista cerca de US$ 30 bilhões em investimento planejado para o desenvolvimento de indústrias de energia e uso intensivo de gás para os próximos cinco anos. Mas o ministério saudita do petróleo está adotando uma política de aprovação dos fornecimentos de gás para novos projetos petroquímicos destinados a garantir que ou se produza um produto que já não esteja sendo manufaturado na Arábia Saudita ou se acrescente valor agregado ao ir além dos outros, no refino e comercialização.

Está examinando projetos planejados com uso intensivo de energia "dentro do contexto de economias nacionais e internacionais, levando em conta o valor agregado que eles trazem para a Arábia Saudita", diz um alto funcionário do Golfo. "A razão, é claro, é que eles querem tirar proveito disso. Todos querem vir - e nós dissemos a eles: 'nada de gás, a menos que vocês dêem à Arábia Saudita um produto realmente bom'".

"Existe gás suficiente, mas o problema é que ele é barato e todos querem usá-lo. O pessoal dos petroquímicos, o pessoal da dessalinização, todos eles querem e a Arábia Saudita precisa expandir".

Especialistas dizem que a Arábia Saudita já tem uma fileira de projetos que foram incapazes de garantir recursos de gás, incluindo empreendimentos do setor de alumínio e petroquímicos. Isso apesar do que um economista saudita calcula que seja uma duplicação no volume de produção de gás saudita desde 1990.

O governo tem sido incentivado pelas descobertas no campo Karan - sua primeira descoberta de gás offshore - mas o tamanho das reservas ainda não é conhecido. Em um esforço para conseguir mais gás, o reino vinculou às companhias internacionais blocos para que se explore gás não associado ao petróleo no "quarteirão vazio" (o maior deserto de areia do mundo), em 2003 e 2004, fora da área reservada para a Saudi Aramco, a companhia petrolífera nacional. Mas até agora, não foram feitas descobertas e esse ano a Total da França saiu do projeto, vendendo sua participação para a Royal Dutch Shell e para a Aramco. A Total perfurou três poços de exploração mas os resultados foram desanimadores, levando-a a concluir que era baixo o potencial para descobertas comerciais.

O economista saudita diz que o reino pode até mesmo ter que imaginar o inimaginável e considerar a possibilidade de importar gás no futuro, mesmo tendo a quarta maior reserva comprovada de gás do mundo. "No longo prazo, teremos de encontrar mais gás", diz o economista. "A menos que os empreendimentos de gás no "quarteirão vazio" descubram algum gás, então talvez o suprimento possa não atender ao crescimento na procura".

A questão preocupa Mohamed al-Mady, principal executivo da Sabic, o grupo saudita que é uma das maiores companhias petroquímicas do mundo. Ele afirma que a Sabic tem gás para seus atuais projetos, mas "nossa preocupação é realmente o futuro". Quando se pergunta a ele quão distante está esse futuro, ele diz: "Bem, é agora".

"O Oriente Médio tem dependido demais do petróleo, e as descobertas de gás foram ignoradas durante muito tempo", acrescenta Mady. "Na minha opinião, não há um equilíbrio na utilização de gás. O gás pode ir seja para fundições, para minério de ferro, para energia, para petroquímicas - e como se aloca o gás para essas várias coisas? Isso pode ser muito, muito importante no caminho".

Em outras partes da região, Omã está "falando muito seriamente na construção de uma usina elétrica alimentada a carvão", diz um analista ilustrando a aguda natureza do problema. Os Emirados Árabes Unidos já usam líquidos para a geração de energia em horários de pico. O Kuait, enquanto isso, está queimando cerca de 160.000 barris de líquidos - bruto ou diesel - por dia na geração de energia, segundo um executivo internacional do setor de petróleo, e está querendo importar do Qatar.

O impacto de usar óleos combustíveis varia de conseqüências ambientais a um ônus financeiro adicional, em grande parte devido ao custo de oportunidade de não exportar produtos petrolíferos. Fontes significativas de gás poderão estar disponíveis tanto no Qatar quanto no Irã. Mas o Qatar impôs uma moratória sobre projetos futuros para seu Campo Norte, o maior reservatório mundial de gás puro, até 2010, e observadores esperam que quaisquer novos projetos sejam adiados até pelo menos 2012. O Irã, com tendência a impor sanções, é um fornecedor improvável no futuro imediato por causa da política global e regional.

"Essa é a razão pela qual a situação está sombria no resto da região - garantir suprimentos adequados de energia para o crescimento doméstico é a principal prioridade", diz Goswami da Wood Mackenzie. "No entanto, os desafios, ao nível de cada país, são diferentes. Para o Kuait, uma escassez de curto prazo na capacidade de geração de energia pode ser provável. Em Omã, a proposta expansão industrial com base no gás provavelmente será afetada. Nos Emirados Árabes Unidos, a situação da oferta de gás é bastante grave; o crescimento rápido na demanda de energia significa que a energia nuclear esta sendo encarada como uma opção".

Autoridades dos Emirados Árabes Unidos concluíram que o pico da demanda nacional por eletricidade vai subir para mais de 40.000 MW até 2020. Mas eles estimam que os volumes conhecidos de gás natural que podem estar disponíveis para eletricidade fornecerão combustível adequado para apenas 20.000 - 25.000 MW, até 2020. O governo anunciou este ano que entrará em um programa nuclear civil.

Os países do Golfo estão perfurando em busca de mais gás mas esse não é um processo simples dada a atual escassez mundial de equipamentos de exploração e engenheiros. Eles têm o dinheiro para superar isso mas mesmo assim, o período que vai da descoberta de um depósito até a entrada do gás em linha é de pelo menos cinco anos, dizem especialistas.

Grande parte do gás da região também é considerado de difícil extração - ou "gás ácido" ou gás em terrenos com complicações geológicas. Isso eleva os custos e compromete o equipamento. É um fator que Abu Dhabi, que produz quase todos os hidrocarbonetos dos EAU, descobriu ao tentar desenvolver dois campos de "gás ácido" em um projeto que a federação esperava que pudesse permitir investimento em larga escala em indústrias de uso intensivo de energia.

Altos funcionários colocaram a exploração dos campos Bab e Shah fora de uma licitação conjunta mas os desafios técnicos indicaram que as autoridades mais tarde decidissem fazer uma nova licitação apenas para Shah, que é menos complexo e tem rendimentos líquidos mais elevados, dizem analistas. As reservas de Abu Dhabi incluem alguns dos gases mais ácidos do mundo, o que exige a manipulação da tecnologia mais moderna.

Apesar de ter a quinta maior reserva mundial comprovada de gás, os Emirados Árabes Unidos já estão importando do Qatar por meio do chamado Projeto Dolphin, que entrou em ação no ano passado. Mas o governo dos Emirados ainda precisa chegar a um acordo com o Qatar para aumentar o suprimento em 60% para alcançar a capacidade do gasoduto. Com a moratória em vigor no seu Campo Norte, é incerto se o Qatar vai concordar com o aumento.

No Kuait, depois que a companhia estatal de petróleo fez a sua primeira descoberta de gás não-associado, a produção vai começar, diz Jamal Alnouri, diretor-gerente de planejamento na Kuwait Petroleum Corporation. A KPC pretende que a produção alcance 1 bilhão de pés cúbicos por dia até 2015. Mas como a produção de gás é nova para o Kuait, altos funcionários admitem que seja difícil para a KPC alcançar suas metas sem a ajuda de companhias internacionais. O parlamento do Kuait tem feito oposição sistemática às concessões para grupos estrangeiros, de algo mais que os contratos de prestação de serviços.

A produção inicial deverá mal e mal chegar a um sexto da meta para 2015. "Para a escala que nós levamos em consideração até agora, não estamos perturbando muito as reservas", diz Alnouri. "Isso nos ajudará a planejar nosso avanço - nosso conhecimento atual nos leva até aqui". Ele acrescenta: "Quando conseguirmos uma exploração realmente grande das reservas, precisaremos ser cuidadosos... e é claro, quando se faz isso sozinho o processo demora mais tempo".

A KPC espera atrair grupos internacionais para os projetos de gás mesmo que o ambiente político possa restringir seu nível de envolvimento. Steve Peacock, presidente da BP para Oriente Médio e Sul da Ásia, diz que toda a região vai exigir suporte técnico de companhias petrolíferas internacionais se os países quiserem tirar proveito de seus recursos potenciais. "Existem muitos recursos - não é esse o problema. O problema são os desafios tecnológicos, os desafios de custo e os desafios geopolíticos", afirma Peacock.

A BP voltou-se para o empreendimento do "quarteirão vazio" na Arábia Saudita e decidiu que havia um risco geológico grande demais ligado a aquele projeto. Mas venceu uma concorrência no ano passado para desenvolver um campo de gás com dificuldades geológicas em Omã e Peacock diz que a BP poderia estar interessada em oportunidades na Arábia Saudita. Mas os governos da região teriam de oferecer termos decentes para convencer as "majors" a investir.

A chave para uma parceria de sucesso entre o governo, suas companhias nacionais de petróleo e os grupos internacionais de energia "garante que o relacionamento seja ajustado corretamente", diz Peacock. Se o sócio estrangeiro "trouxer grandes volumes de capital, tecnologia proprietária e especialização de outras partes do mundo para explorar algo como o gás extremamente ácido, com benefícios mútuos duradouros, então a recompensa será o reconhecimento do papel que ele exerce".

(Por Andrew England, Financial Times, tradução de Claudia Dall'Antonia, UOL, 26/05/2008)


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