Uma série de atividades irá marcar os seis anos da morte de José Lutzenberger (14 de maio) e os 21 anos da Fundação Gaia (17 de julho), criada por ele. O ecologista permanece vivo em um livro inédito, com título provisório de 'Garimpo ou Gestão – A Ecologia e os Caminhos da Economia', que começou em 1990, quando secretário especial do Meio Ambiente do governo Collor de Mello. Por dez anos, ele se dedicou aos manuscritos. Os trechos aos quais o Correio do Povo teve acesso exclusivo são totalmente atuais.
A jornalista Lilian Dreyer, autora da biografia do ecologista – 'Sinfonia Inacabada' –, tem os originais, revisados pelo autor. Segundo ela, o livro aguarda o interesse de editora. 'Lutzenberger era uma rara mistura de coragem pessoal, eloqüência e conhecimento.'
A programação para lembrar o ecologista é organizada pelo coordenador Cultural da Fundação Gaia, Christian Goldschmidt. 'Aliar arte e cultura à questão ambiental mostrou-se algo inspirador e envolvente.' Dias 31 de maio e 1º de junho, no Teatro Bruno Kiefer da Casa de Cultura Mario Quintana (CCMQ), às 19h, haverá apresentação do espetáculo Dança do Verde – Dançando pela Vida, com direção de Alessandra Stein e Priscila Maraschin. Metade da renda da venda de ingressos será revertida à fundação para manutenção do Jardim Lutzenberger (terraço do 5º andar da CCMQ). Em 3 de junho, às 20h30min, haverá concerto no Teatro da Ospa, regido por Carlos Moreno.
Trecho da obra escrita pelo ecologista e não publicada
'Natureza é um processo sinfônico, é como uma orquestra que tem número fantástico de instrumentos e partituras. Nosso atual problema, e o da orquestra, é que nós, humanos, que estamos entre os últimos chegados, deixamos de marcar o compasso. Em vez de sermos um instrumento novo, enriquecedor, estamos nos comportando como um músico que enlouqueceu, que se levantou de seu assento, passou a tocar seu instrumento caoticamente, a toda força, sem olhar partitura, dançando no palco, derrubando colegas, instrumentos e móveis, assassinando outros músicos. Para o louco, orquestra e palco são apenas fundo. Para cada um dos músicos, representam algo de profunda significação, um espaço onde estão dinamicamente inseridos, um conjunto cujas leis não podem transgredir. Mas a obediência a essas leis não é coisa chata, trabalho duro, mal necessário, bem ao contrário, a execução propicia a eles imenso prazer. Tenho insistido e continuo insistindo neste tipo de imagem, claro que super-simplificada, porque ilustra a inversão de perspectiva de que estamos necessitando, de troca de paradigma, sem o que não chegaremos a um desenvolvimento sustentável.'
(Por Elio Bandeira, Correio do Povo, 25/05/2008)