A comunidade internacional fez mais um alerta neste domingo (25/05)para que Mianmar salve os sobreviventes do ciclone Nargis cumprindo com sua promessa de liberar o acesso de todos os trabalhadores humanitários estrangeiros ao país, durante uma conferência internacional ao término da qual a Junta Militar que governa o país esperava arrecadar bilhões de dólares para sua reconstrução.
"Temos que priorizar o objetivo imediato, que é salvar vidas", afirmou o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, na abertura da reunião.
Quando a conferência foi anunciada, na semana passada, pela ONU e pela Associação das Nações do Sudeste Asiático (Asean), Mianmar avaliou em US$ 10,7 bilhões os danos provocados pelo ciclone.
No entanto, ao término dos debates deste domingo, nenhuma promessa precisa de doação a este país pobre, arrasado nos dias 2 e 3 de maio por uma das piores catástrofes naturais da história recente, foi anunciada.
O Nargis já deixou pelo menos 133.600 mortos e desaparecidos e 2,4 milhões de desabrigados.
"Nosso desafio imediato é humanitário", disse Ban Ki-moon, avisando que "vai demorar pelo menos seis meses para alimentar e cuidar das pessoas que perderam tudo".
"A infra-estrutura precisa ser reconstruída, mas isso não pode ser nossa maior preocupação", afirmou o secretário-geral.
Para John Holmes, o encarregado dos assuntos humanitários da ONU, "ainda estamos na fase de emergência desta crise".
Os dirigentes militares de Mianmar estão conscientes da "necessidade de atuar com urgência", garantiu Ban Ki-moon.
"Espero, e acredito, que qualquer dúvida que o governo birmanês [de Mianmar] possa ter tido em relação a esta emergência faça agora parte do passado", acrescentou.
Querendo mostrar otimismo, Ban Ki-moon elogiou o "novo espírito de cooperação" entre a junta e a comunidade internacional.
Até a China, vizinha e aliada da Junta Militar de Mianmar, é favorável a "um maior papel" da ONU no país asiático, frisou o ministro chinês das Relações Exteriores, Yang Jiechi.
Ban Ki-moon havia obtido sexta-feira o sinal verde do número um birmanês, Than Shwe, para a entrada de "todos os trabalhadores humanitários" no país asiático.
Os generais "estão totalmente dispostos a aplicar o acordo concluído" sexta-feira com Than Shwe, sustentou Ban Ki-moon.
Porém, na primeira declaração direta das autoridades desde então, o primeiro-ministro Thein Sein se mostrou mais comedido. "Mianmar está disposto a aceitar os grupos (humanitários) interessados na reconstrução e na reabilitação, conforme as nossas prioridades e a amplitude do trabalho que deve ser realizado", disse.
"Vamos examinar a possibilidade de deixá-los vir", acrescentou.
Ban Ki-moon se disse "muito animado" com esta declaração.
(Folha online/France Presse, 25/05/2008)