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2008-05-23

Estas escarpadas montanhas verdes, que já foram uma das maiores regiões produtoras de carvão na Ásia, estão repletas de minas abandonadas e vilas decrépitas - relíquias do passado em uma economia de trens-bala e carros híbridos. Mas após décadas de um declínio aparentemente terminal, a vitalidade retorna a esta região japonesa. Em um período de preços recordes da energia - na última quarta-feira (22/05) o barril do petróleo custava mais de US$ 133 - as minas de alto custo do Japão voltaram repentinamente a ser competitivas, e a demanda pelo carvão produzido por elas cresce. A produção atingiu o nível mais alto em quatro décadas, gerando uma sensação rara nestas comunidades mineradoras: esperança.

"Estamos enxergando um raio de luz após uma longa escuridão", afirma Michio Sakurai, o prefeito de Bibai, na ilha de Hokkaido, no norte do arquipélago japonês. "Nunca imaginamos que o carvão retornaria de fato ao cenário econômico". A disparada dos preços das commodities vem provocando distorções em toda a economia global, inflacionando o custo dos alimentos e gerando temores quanto a futuras carências de energia. Mas este fenômeno provocou uma onda de prosperidade não antecipada em regiões produtoras de carvão de países como o Japão, que consideravam a exploração deste produto uma relíquia da Revolução Industrial.

Em Bibai, que no seu período dourado, na década de 1950, foi um centro cultural dotado de companhia de balé e de cinco cinemas que exibiam os últimos lançamentos de Hollywood, a população encolheu de 92 mil para 27,8 mil habitantes. À medida que os empregos na mineração desapareciam, ficavam para trás ruas cheias de lojas abandonadas que davam a alguns bairros a aparência de cidade fantasma. Embora a indústria japonesa de carvão continue pequena, o seu ressurgimento é um exemplo de como os preços mais elevados das commodities estão provocando uma busca por recursos até mesmo em algumas das nações mais urbanizadas e desenvolvidas do mundo.

Nos últimos meses a Coréia do Sul foi tomada por apelos no sentido de criar uma indústria doméstica de carvão a fim de reduzir a dependência das importações. No Reino Unido, onde o declínio do carvão tornou-se um símbolo do fim do poderio industrial britânico, as companhias estão aumentando a produção e cogitando reabrir pelo menos uma mina desativada, à medida que aumenta a demanda interna pelo produto.

"A conjuntura é perfeita, com a demanda de países como África do Sul, China e Austrália pelo nosso carvão", afirma Rhidian Davies, presidente da Energybuild, uma operadora de minas de carvão em South Wales que decuplicará a produção de uma das suas minas nos próximos cinco anos. No Japão, os preços mais elevados das commodities também geraram uma demanda explosiva pelos outros recursos naturais limitados desta nação densamente habitada, incluindo a madeira e o gás natural, cuja produção cresceu quase 20% neste ano, chegando ao nível mais elevado em três décadas.

Mas o carvão é o combustível fóssil potencialmente mais abundante no Japão, e as companhias não estão perdendo tempo para explorar as reservas domésticas que agora se tornaram acessíveis, estimuladas pelas ansiedades profundas em relação à forte dependência japonesa da energia importada.

Embora ainda não existam estatísticas nacionais relativas ao setor, as comunidades mineradoras registraram um aumento drástico da produção nos últimos dois anos. Por exemplo, em Bibai, as últimas duas minas da cidade, ambas de pequena dimensão, produziram apenas 34.961 toneladas de carvão em 2005. Neste ano, a expectativa é de que elas superem as 150 mil toneladas, a maior produção desde 1973, quando a maior mina subterrânea da cidade foi fechada.

Durante décadas, o carvão japonês, custando mais de US$ 100 a tonelada, era simplesmente caro demais para ser explorado, devido aos salários e ao custo de extração elevado. Mas agora, quando os preços globais atingem patamares equivalentes, o carvão japonês está ficando mais atraente.

O preço do carvão para usinas termoelétricas enviado para Newcastle, na Austrália, foi de US$ 134 a tonelada na semana que terminou em 16 de maio, e de US$ 142 da semana que fechou em 15 de fevereiro. Em maio de
2003 a tonelada do mesmo carvão custava US$ 23,25.

A empresa de energia elétrica Hokkaido Electric Power anunciou que duplicará a quantidade de carvão doméstico comprado neste ano, que chegará a 110 mil toneladas, enquanto a Mitsubishi Materials, uma fabricante de cimento, informou que comprará carvão doméstico pela primeira vez em 18 anos.

A demanda é tão grande que uma das operadoras das minas de Bibai, a Hokuryo Corporation, está fazendo prospecções em uma segunda mina a fim de dobrar a sua produção. Mas o longo declínio da indústria faz com que seja difícil retomar o ímpeto do passado. Quase não restaram geólogos especializados em carvão no país, e são poucas as pesquisas recentes sobre as reservas da região.

Para conduzir a sua prospecção, a Hokuryo está recorrendo a uma pilha de mapas rasgados e amarelados que foram manuseados por geólogos da companhia há mais de 40 anos. "Os nossos antecessores enfrentaram ursos nas florestas para deixar para nós estes mapas", diz Fumihiro Yamamoto, o diretor de mineração da Hokuryo.

Outras mudanças ocorridas nas últimas quatro décadas poderão prejudicar os esforços para o aumento da produção. A Hokuryo e outras companhias alegam que não podem mais construir grandes instalações subterrâneas porque os trabalhadores japoneses de hoje não aceitariam trabalhar em um ambiente tão escuro e perigoso.

Além do mais, regulamentações ambientais impedem a maior parte da mineração a céu aberto, que cria enormes buracos tidos como poluição visual. Foram apresentadas propostas para o aumento da produção usando tecnologias novas e ainda não testadas, como o bombeamento de água ou calor para liquefazer o carvão, de forma que este possa ser aspirado da terra como se fosse petróleo.

Mesmo que tais tecnologias funcionem, ninguém acredita que tão cedo o Japão irá se tornar auto-suficiente em carvão. A produção doméstica representa apenas 0,8% do carvão consumido pelo Japão. Mesmo assim, existe um potencial enorme: Sorachi, a região que inclui Bibai, possui uma reserva de carvão estimada em seis bilhões de toneladas, o suficiente para garantir o fornecimento ao Japão na escala atual durante 30 anos.

"Não acredito que possamos esperar um aumento drástico da produção doméstica em um futuro próximo" afirma Horofumi Furukawa, gerente-geral do Japan Coal Energy Center, um grupo de pesquisas vinculado à indústria. "Mesmo assim, é bom contar com um exemplo raro de notícia animadora".

A indústria de carvão japonesa tem que comemorar: a produção nacional atingiu o seu apogeu em 1961, quando 662 minas produziram 55 milhões de toneladas de carvão. No ano passado, um total de oito minas produziu cerca de 1,4 milhão de toneladas, segundo Furukawa e o Ministério da Economia do Japão.

As comunidades mineradoras de carvão japonesas que foram duramente atingidas procuraram encontrar formas de lidar com o longo declínio da indústria. A cidade de Yubari, que fica a uma hora de viagem a leste de Bibai, foi à bancarrota após construir um extravagante parque, a Vila da História do Carvão, que se mostrou incapaz de atrair turistas.

Isso não significa que o carvão seja o salvador destas comunidades. Na verdade, até o momento o ressurgimento do carvão não criou nenhum novo emprego nas minas de Bibai, nas quais atualmente as máquinas fazem a maior parte da escavação. Muitos moradores duvidam de que um verdadeiro renascimento da indústria seja de fato possível. Grande parte da população é composta de indivíduos com mais de 70 anos. Alguns não acreditam que a população em idade de trabalho que partiu quando as minas foram fechadas deseje retornar.

"Mesmo se alguns jovens retornarem, isso não será suficiente para salvar esta cidade", diz Mitsuko Michiyama, 69, que é dono de uma loja de roupas em uma rua comercial vazia, na qual várias lojas estão fechadas. Mesmo assim, os empresários têm procurado a Hokuryo, uma unidade da Mitsubishi Corporation que no passado operava grandes minas que produziam um milhão de toneladas de carvão anualmente e empregavam 8.000 trabalhadores. Atualmente ela emprega apenas 40 pessoas na única mina a céu aberto que restou.

A mina sobreviveu fornecendo anualmente cerca de 30 mil toneladas de carvão à Hokkaido Electric, que comprou o produto para apoiar a indústria local. Foi então que, a partir do ano passado, a mina passou a receber pedidos de outros potenciais compradores. Neste ano, ela prometeu vender aproximadamente 120 mil toneladas de carvão, o que é muito mais do que a produção inicial projetada de 50 mil toneladas, segundo Yamamoto, o diretor da mina.

Com seis tratores e pás mecânicas escavando noite e dia, a companhia teve que recusar as propostas de meia-dúzia de possíveis clientes. "Isso é frustrante", lamenta Yamamoto, que testemunhou o declínio da indústria depois que começou a trabalhar em uma das últimas grandes minas subterrâneas do Japão 36 anos atrás. "Passamos por tantas dificuldades por tanto tempo, e agora recusamos grandes clientes".

Na mina, um buraco a céu aberto na base de uma montanha acima de Bibai, há um clima evidente de otimismo. Os trabalhadores afirmam que estão trabalhando todos os dias da semana, algo que não ocorria nem mesmo no ano passado. "Estamos realmente gratos", diz Takeshi Sasaki, que usa um capacete enquanto examina uma das esteiras que lavam e separam o carvão recém-extraído. "Se esta situação se sustentar, teremos uma nova era de prosperidade em Bibai".

(Por Martin Fackler*, The New York Times, tradução UOL, 23/05/2008)
*Julia Werdigier, em Londres, contribuiu para esta matéria.

 


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