O aumento das temperaturas no Marrocos impôs a seca de maneira estrutural e concentrou a falta de chuvas particularmente no outono e na primavera (do hemisfério norte), o que fará com que no futuro o país tenha "duas estações em vez de quatro", advertiu nesta quinta-feira (22) o especialista Ali Agoumi.
O consultor marroquino em Mecanismos de Desenvolvimento Limpo (MDL) previstos no Protocolo de Kioto de luta contra a mudança climática afirmou que estudos realizados em sete estações meteorológicas mostram de 1961 a 2004 "uma tendência clara de menos precipitações" e uma continuação da mesma no futuro.
"Prevê-se que entre 60% e 80% dos anos sejam secos até 2050, contra 30% e 40% dos que foram entre 1981 e 2000, o que supõe uma intensificação dos períodos de seca e de sua gravidade", assinalou Agoumi durante uma jornada sobre a realidade e os desafios da mudança climática.
Para o especialista "não é preciso que o Governo espere" chegar a essa situação, já que suas conseqüências são palpáveis no país e, "por um princípio de precaução", é preciso aumentar os investimentos em matéria de infra-estruturas e meios adequados.
Segundo seus dados, em algumas regiões marroquinas há um "déficit pluvial de entre 50% e 60% e uma escassez hidrológica de 70%", além de "uma baixa contínua de água subterrânea, uma degradação da qualidade de água e diminuições muito eloqüentes das superfícies florestais".
Agoumi advertiu também de que "o litoral marroquino está especialmente frágil por culpa da urbanização, o crescimento demográfico, a poluição e a erosão", e é muito "vulnerável à elevação das águas", um dos efeitos da mudança climática.
Perante esta situação se impõe uma estratégia de adaptação, destacou o especialista, que indicou que esse projeto deve envolver todos os departamentos governamentais e tem que ser incluído em todas as iniciativas a médio prazo.
Os Mecanismos de Desenvolvimento Limpo abrem caminho, segundo ele, como uma oportunidade "interessante" para conseguir esse desenvolvimento sustentável.
Isso porque permitem que os países que não podem cumprir seus compromissos de redução de emissões compensem esse excesso promovendo investimentos em tecnologias "limpas" em outros países.
Para Agoumi, as empresas não podem se permitir não ter uma estratégia de redução de emissões de carbono e esses mecanismos oferecem em todos os setores "grandes possibilidades" industriais e econômicas, tanto para o Estado como para as companhias privadas. Por isso, em sua opinião, têm que ser um elemento a integrar nas políticas de desenvolvimento.
(Estadão Online, Ambiente Brasil, 23/05/2008)