Blairo Maggi duvida de números anunciados pelo ministro Carlos Minc, que apontam aumento do desmate
Os últimos números de desmatamento na Amazônia Legal só devem ser divulgados oficialmente na segunda-feira, mas o governo de Mato Grosso já contesta sua precisão. O governador Blairo Maggi (PR) disse ontem duvidar que o desmatamento tenha aumentado 60% no Estado, como disse na véspera o novo ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, com base em informações do Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe). Em nota, o governo de Mato Grosso informou que os dados do Inpe serão verificados porque sempre apresentam "distorção".
Para tentar conter a crise entre Minc e Blairo, a expectativa, segundo o governo de Mato Grosso, é que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva chame ambos para conversar nos próximos dias. Antes mesmo de tomar posse, Minc "elegeu" Blairo como inimigo da floresta em declarações sobre desmatamento ilegal, rebatidas sempre pelo governador. O substituto de Marina Silva chegou a dizer que Blairo plantaria soja "até nos Andes" se pudesse.
"Ainda não conheço os números e acredito que vamos continuar tendo uma redução em relação à média do ano anterior. Se formos olhar o que vem acontecendo desde 2005, todos foram anos em que nós tivemos uma redução bastante grande do desmatamento", disse Blairo. "A pressão sobre Mato Grosso é maior do que nos outros Estados, até porque temos uma agricultura muito forte e uma pecuária mais forte ainda. Mas isso também não nos dá o direito de aceitar o que está errado."
Em nota divulgada ontem, o governo de Mato Grosso abriu nova polêmica com o Inpe. "Como acontece todas as vezes que o Inpe divulga dados sobre o desmatamento na Amazônia, a fiscalização da Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema) sai a campo para verificar ponto a ponto os dados divulgados referentes a Mato Grosso. O trabalho dos fiscais tem mostrado que os números do Inpe apresentam uma distorção, já que, em geral, os porcentuais de desmatamento verificados in loco em Mato Grosso são menores, como o próprio Inpe já admitiu", afirmava o texto.
Segundo a nota, a discrepância de número ocorre porque o Sistema de Detecção em Tempo Real (Deter), usado pelo Inpe, emite alertas de desmatamento para qualquer modificação da floresta. "Assim, antigas áreas já desmatadas, leitos de rios, ou até afloramentos rochosos são identificados como desmatamento. Isso já foi comunicado ao Inpe para que corrija tais distorções. Diante de relatório emitido pela Sema, entregue (em março) a ministros e ao próprio presidente, o próprio Inpe admitiu que os dados referentes aos três últimos meses de 2007 não estavam corretos."
Blairo classificou os dados do Inpe como "mascarados" e precipitados. "Sempre que desmatamentos ilegais são detectados no Estado, por equipes de fiscalização da Sema, o governo age com rigor, embargando propriedades e multando proprietários. Como foi feito recentemente com o embargo de oito propriedades, com cerca de 15 mil hectares, que acarretou aos infratores multas de aproximadamente R$ 4,5 milhões, de acordo com a legislação ambiental em vigor", informa a nota divulgada pelo governo.
Procurado pelo Estado, o Inpe não quis comentar as declarações. Em nota divulgada no início do mês, o instituto rebateu as contestações sobre os dados dos últimos três meses de 2007.
Segundo a Sema, verificações de campo de 662 pontos indicados como desmatados pelo Deter teriam revelado que em apenas 10% deles a floresta havia sido de fato derrubada. O Inpe analisou 854 imagens entregues pela secretaria e concluiu que 313 eram repetidas, 78 estavam distantes do local de alerta, 45 não correspondiam às áreas detectadas pelo Deter e 65 eram "não informativas", tiradas de muito perto. Das 353 consideradas válidas, concluiu-se que quase todas (96,4%) eram de desmatamento - o oposto da avaliação da Sema.
Não é a primeira vez que Blairo entra em confronto direto com o Inpe. Em janeiro, quando o instituto divulgou os números referentes ao período entre agosto e dezembro de 2007, ele também contestou os dados. "O Inpe está mentindo a serviço de alguém. Queremos saber a serviço de quem", disse.
FRASES
Blairo Maggi
Governador de Mato Grosso
"O trabalho dos fiscais tem mostrado que os números do Inpe apresentam uma distorção (...) os porcentuais de desmatamento verificados in loco em Mato grosso são menores, como o próprio Inpe já admitiu"
"Não conte com a nossa polícia. Já temos pouco efetivo para cuidar do povo. Não tenho soldados para proteger a floresta"
Carlos Minc
Ministro do Meio Ambiente
"A partir de agora o Blairo não deve brigar comigo, deve brigar com o presidente Lula, que já bateu o martelo (sobre a criação da força com policiais e bombeiros dos Estados)"
(Por Nelson Francisco, O Estado de São Paulo, 23/05/2008)