Oficialmente, os especialistas brasileiros - sejam eles ambientalistas, funcionários governamentais ou militares - se dizem contrários à internacionalização da Amazônia, questão levantada nesta semana pelo jornal norte-americano The New York Times. Nas entrelinhas, porém, todos reconhecem que a região amazônica já está, na prática, vulnerável e partilhada por grupos econômicos, ONGs, igrejas e pesquisadores científicos de fora do país.
A discussão voltou à tona quando o diário dos Estados Unidos publicou, no domingo, um artigo intitulado "De quem é a floresta equatorial, afinal?". Assinado pelo correspondente do Rio de Janeiro, Alexei Barrionuevo, a reportagem insinua que o Brasil não sabe cuidar da floresta amazônica. Lembra também que a ex-ministra Marina Silva (do Meio Ambiente) demitiu-se por não conseguir frear a devastação e propõe uma discussão: será hora de a comunidade internacional agir e mostrar interesse em proteger a região?
A reportagem cita como oráculo o ex-vice-presidente norte-americano, o neoambientalista Al Gore. Em 1989, quando senador, Gore declarou: "Ao contrário do que pensam os brasileiros, a Amazônia não é propriedade deles, pertence a todos nós".
Ministro reafirma que donos são os brasileiros
A frase soa como ameaça para algumas autoridades brasileiras. O recém-anunciado substituto de Marina Silva, Carlos Minc, disse que o autor da reportagem "sofre de desequilíbrio psicológico" e assegura que "os donos da Amazônia somos nós, os brasileiros".
Os militares brasileiros ficam com urticária ao tocar no tema. Os novos oficiais são formados no conceito de defesa da Amazônia como máximo objetivo estratégico e geopolítico.
- É claro que os militares repudiam qualquer menção à internacionalização. O problema é que as autoridades federais e, de quebra, o Exército, não têm qualquer controle sobre 20% do território amazônico, composto de terras indígenas e reservas ambientais. Aquilo pulula de estrangeiros, grileiros, supostos cientistas, duvidosos ambientalistas e sabe se lá mais o quê. O que menos tem lá é lei e governo - explicou Nelson Düring, editor do site Defesanet.com.br, especializado em assuntos militares.
(Humberto Trezzi,
Diário Catarinense, 22/05/2008)