Gilmar Mendes, Ayres Britto e Cármen Lúcia conversaram com índios ingaricós
Supremo prepara-se para julgar os processos que contestam a homologação da reserva Raposa/Serra do Sol de forma contínua
Três ministros do Supremo Tribunal Federal, incluindo o presidente do tribunal, Gilmar Mendes, sobrevoaram ontem, por cerca de duas horas, a terra indígena Raposa/Serra do Sol, no nordeste de Roraima.
Depois, os ministros aterrissaram na comunidade Serra do Sol, na tríplice fronteira entre Brasil, Guiana e Venezuela, onde conversaram por cerca de 30 minutos com índios ingaricós.
De acordo com o comandante da Base Aérea de Boa Vista, coronel-aviador Edinei de Souza Nunes, os ministros Gilmar Mendes, Carlos Ayres Britto- relator dos processos que contestam a homologação da reserva de forma contínua- e Cármen Lúcia Antunes Rocha chegaram a Boa Vista a bordo de um Legacy da FAB.
Da capital de Roraima, foram para a reserva a bordo de um Caravan C-98. Na comitiva, estavam o chefe do Centro de Comunicação Social da FAB, brigadeiro-do-ar Antônio Carlos Bermudes, e o coronel José Hugo Volkmer.
Por volta das 9h30, voaram em direção à terra indígena. Sobrevoaram a Vila Surumu -local dos conflitos registrados em março na disputa pela terra entre índios e não-índios-, as regiões de plantio de arroz, o município de Pacaraima, as comunidades Socó e Água Fria e a terra indígena São Marcos.
A viagem durou cerca de duas horas. Ainda houve tempo para uma parada na comunidade da Serra do Sol, a 400 km de Boa Vista, na tríplice fronteira entre Brasil, Guiana e Venezuela. A região é habitada por aproximadamente 1.180 índios ingaricós, que vivem em oito aldeias e defendem a homologação da área de forma contínua.
Os ministros foram recebidos pelo líder indígena Gelson Ingaricó. Segundo o coronel-aviador Edinei Nunes, eles conversaram sobre saúde e educação, mas não falaram sobre posse da terra indígena. Depois, retornaram a Brasília. Está prevista para hoje uma entrevista do presidente do STF, Gilmar Mendes, sobre a visita.
Pelotão
O presidente do Conselho do Povo Ingaricó, Dílson Ingaricó, que estava em Boa Vista, disse que a comitiva conversou com Gelson Ingaricó, mas que em nenhum momento os índios sabiam que os demais integrantes do grupo eram ministros do STF: "Os índios me disseram que havia outras pessoas na aeronave, mas elas não se apresentaram como ministros".
Sobre a possibilidade de implantação de um pelotão do Exército na fronteira, o líder ingaricó disse ser contrário: "O povo ingaricó já faz sua própria vigilância nas fronteiras, não precisa de pelotão do Exército". Segundo o líder ingaricó, já existe uma parceria entre índios e Forças Armadas: "Aceitamos a presença dos militares em nossa região de forma periódica, não permanente".
(Por Andrezza Trajano, Folha de São Paulo, 23/05/2008)