Os municípios de Rio Grande e Arroio Grande, no sul gaúcho, estão na disputa pela instalação da primeira indústria de celulose da Votorantim no Estado. A previsão é que a construção inicie em agosto de 2009. A produção estimada da fábrica é de 1,3 milhão de toneladas de celulose por ano.
O prefeito de Rio Grande, Janir Branco, afirma que a expectativa é grande, uma vez que a prefeitura vem se articulando e realizando reuniões com a Votorantim já há alguns anos para trazer o empreendimento à cidade. Até mesmo o Plano Diretor do município foi alterado em função das necessidades da indústria papeleira.
“O projeto é altamente gerador de empregos, de postos, que cumpre com os padrões internacionais de respeito ao meio ambiente. Portanto nós somos favoráveis a esse projeto que se constitui no maior projeto da história do Rio Grande do Sul, tendo em vista que é um investimento de R$ 3,4 bi”, diz.
A fábrica da Votorantim é resultado de um acordo entre os 28 municípios que pertencem ao Projeto Losango na região. A cidade que for a escolhida para sediar a papeleira vai receber 50% do retorno do ICMS decorrente das atividades da fábrica. O restante será dividido entre as demais cidades, que receberam os plantios de eucalipto. Como a distribuição do imposto proposta é diferente da legislação, prefeituras tiveram que criar leis específicas para garantir o acordo.
A iniciativa de instalar uma papeleira na região é antiga. No final dos anos 80, a prefeitura de Rio Grande e a população não permitiram a construção de uma fábrica da Aracruz. Para o ambientalista e secretário executivo do Centro de Estudos Ambientais (CEA), Luiz Rampazzo, a diferença é que agora as papeleiras voltaram com mais força, uma vez que estão aliadas à mídia tradicional e às universidades. Além disso, possuem um falso discurso de geração de emprego e ausência de problemas para o meio ambiente.
“Discursos que nós consideramos ultrapassados, por exemplo, aquela visão tecnicista: se vier causar poluição, ela é resolvida com tecnologia, quando nós temos a certeza que não. E dizendo que a monocultura de eucaliptos, que na realidade, eles desejam plantar 1 milhão de hectares contínuos nessa região toda, isso não vai trazer impacto ao ambiente, quando nós temos certeza que sim”, declara.
Quando questionado sobre os impactos ambientais, o prefeito de Rio Grande, Janir Branco, diz que não acredita que a fábrica de celulose irá prejudicar o meio ambiente. “Nós nos certificamos nas visitas que fizemos. Fomos em São Paulo, em Jacareí, na fábrica, verificamos a boa ligação da empresa com a comunidade. De igual forma fomos no Espírito Santo e verificamos as atividades da Aracruz, também uma boa ligação da fábrica com a comunidade”, argumenta.
Já o ambientalista Luiz Rampazzo preocupa-se com a contaminação dos mananciais de água dos canais São Gonçalo e Santa Bárbara, que abastecem as duas cidades cotadas para a construção da papeleira. “O pólo de celulose libera diversos compostos químicos, tanto no ar quanto na água. Os liberados na água são resíduos de chumbo, de enxofre, e outros produtos químicos, que no ambiente acabam se combinando e trazem problemas de mutações de animais e cânceres”, afirma.
(Por Paula Cassandra, Agência Chasque, 22/05/2008)