A Petrobras anunciou que tem interesse em desenvolver tecnologia para gaseificar o carvão mineral e, dentro desse contexto, a região carbonífera do Sul de Santa Catarina apresenta-se como uma das áreas a serem exploradas tão logo o projeto alce vôo. Antes de tudo, cumpre lembrar que o mundo vem desenvolvendo processos não-poluentes de extração de carvão e produção de energia, e que a obtenção de combustíveis líquidos a partir desse mineral vem sendo realizada já há alguns anos com muito sucesso por alguns países, com destaque para a África do Sul. Do carvão produz a África do Sul gasolina e, se até há pouco tempo o processo de produção apresentava custos quase proibitivos, hoje, com as sucessivas altas do petróleo, é comprovadamente vantajoso. Que o Brasil, cuja matriz energética precisa ser diversificada com urgência, não perca tempo e, concomitantemente ao desenvolvimento de outras fontes, aposte também nessa riqueza que repousa no subsolo.
Para a região meridional de Santa Catarina, a indústria carbonífera representa a garantia de grande número de postos de trabalho, arrecadações substanciais de tributos para as municipalidades e contínuo aporte de recursos a irrigar o comércio e outras atividades. Para o Brasil, cuja matriz energética mal consegue atender à demanda atual, é vital que esse insumo seja valorizado, porquanto o país só poderá crescer em ritmo adequado às suas necessidades se dispuser de farta oferta de energia. E bem sabemos que o Brasil convive com sérios óbices à rápida expansão de outras fontes. No caso do petróleo, embora o governo Lula tenha apregoado aos quatro ventos que o país atingira a auto-suficiência há dois anos, a verdade é que em 2008 a conta da importação do produto deverá fechar em US$ 8 bilhões. No ano passado, as importações de petróleo fecharam em US$ 3 bilhões, ou seja, o déficit está aumentando. Frise-se que no mercado internacional o barril do petróleo, que no início do ano passado estava a US$ 20, hoje bate recordes sucessivos, não sendo vendido por menos de US$ 120. Quanto ao gás natural, há que se ter certa cautela quanto ao governo da Bolívia, que nos supre do insumo, uma vez que já deu exaustivas mostras de que não se pauta exatamente por honrar contratos. Além do mais, a Bolívia encontra-se no limite de sua capacidade de produção, e não sendo exatamente um país seguro para os investimentos estrangeiros, dificilmente conseguirá ampliar sua oferta ao Brasil nos próximos anos. Já no campo da hidreletricidade, devemos ter em mente que se trata de uma fonte altamente dependente dos humores do clima e que a construção de novas usinas demanda quase uma década, e esse lapso não raro é alongado por questões de ordem ambiental que simplesmente inviabilizam a aprovação de projetos e início das obras.
Enfim, não há sentido em o Brasil ignorar o carvão. Com o processo de gaseificação do mineral, os estados da Região Sul, que a despeito de não possuírem reservas de gás natural adaptaram boa parte de seu parque industrial a este insumo, por conta dos contratos efetuados com a Bolívia, poderão se livrar dessa incômoda e preocupante dependência. Basta que explorem com racionalidade e responsabilidade ambiental suas imensas jazidas carboníferas.
(Editorial,
Diário Catarinense, 21/05/2008)