Shigeaki Ueki teve uma história de sabores e dissabores na área de energia. Nos momentos em que esteve no governo, em 1974 e 1979, teve de sobreviver a dois grandes choques do petróleo, mas, na condição de ministro de Minas e Energia, no governo Ernesto Geisel, conseguiu ampliar de 160 mil para 500 mil barris por dia. Terça-feira (20), valeu-se de sua experiência de crises e acertos para dizer, durante a palestra ?Energia ? perspectiva sobre petróleo, gás natural e outras fontes de energia no Brasil?, no Centro de Convenções da Unicamp, que a política energética atual está no caminho certo, mas ponderou: ?O balanço energético voltou a ser publicado, mas é preciso voltar fazer o planejamento de dez anos". A palestra abriu as comemorações, na Unicamp, do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil.
Ex-presidente da Petrobras, Ueki acredita que o governo acerta em apoiar pesquisas na área de fontes renováveis de energia e disse concordar com a posição do governo Lula em relação às críticas ao biocombustível, referindo-se às últimas informações de que ele interfere na crise dos alimentos. Para ele, a produção é correta. ?O Brasil tem condições de produzir mais etanol, desde que tenha mercado favorável é otimista em relação às novas descobertas de campos de petróleo. Um dos mentores do Proálcool, ele acrescenta: ?Devemos continuar plantando cana e aproveitar o bagaço e a ponta?.
Ele lembrou que a possibilidade de usar o álcool da cana-de-açúcar como combustível automotivo é conhecida há mais de um século, mas os primeiros projetos surgiram após a crise internacional, que elevou os gastos do Brasil com importação de petróleo de US$ 600 milhões em 1973 para US$ 2,5 bilhões em 1974. O impacto, segundo ele, provocou um déficit na balança comercial de mais de US$ 4 bilhões, resultado que influiu fortemente na dívida externa brasileira (da época e futura) e na inflação, que saltou de 15,5% em 1973 para 34,5% em 1974.
Ueki acentuou que o país hoje é quase auto-suficiente em produção de petróleo, principalmente pela descoberta de novos campos. Na sua opinião, essas descobertas adicionam novas reservas, já que a tendência em países onde não há campos novos a reserva é reduzida com a produção. ?Cada barril é um barril a menos na reserva, mas o Brasil hoje é quase auto-suficiente e novos campos estão sendo explorados. Com relação ao gás natural, Ueki é menos otimista, por obrigar gastos com transporte. ?O consumo de energia para liquifazer é muito alto e a gaseificação é onerosa?, reforça.
(Por Maria Alice da Cruz,
Jornal da Unicamp, 20/05/2008)