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passivos dos biocombustíveis
2008-05-21

No ano passado, o mundo testemunhou os efeitos não intencionais do uso de plantas alimentícias, como milho e dendê, para a produção de biocombustíveis: em parte por causa da competição do mercado, os preços de alimentos estão nas alturas e os estoques, desaparecendo. As florestas tropicais estão sendo derrubadas para o plantio de mais combustível "verde". Enquanto esses problemas emergiam, tornou-se quase um mantra entre os investidores e políticos que biocombustíveis "de segunda geração" -feitos de artigos não alimentares como cana e capim- forneceriam energia verde, sem tirar comida da mesa.

As plantações de Jatropha (pinhão manso), um gênero de suculenta, para a produção de biocombustíveis de segunda geração brotaram em toda a África. Nos EUA e na Europa, há muitos planos de plantar espécies como "switchgrass" e cana-do-reino para a produção de energia e combustíveis.

Agora, biólogos e botânicos estão advertindo que esses biocombustíveis de segunda geração talvez também tenham sérias conseqüências não intencionais: a maior parte das espécies utilizadas são o que os cientistas chamam de espécies invasivas -pragas- que eles dizem ter alto potencial de escapar das plantações, dominar fazendas e terras adjacentes e criar caos econômico e ecológico.

Em uma reunião da Organização das Nações Unidas (ONU) em Bonn, Alemanha, na terça-feira (20), cientistas do Programa Global de Espécies Invasivas, da Nature Conservancy e da União Internacional para a Conservação da Natureza, assim como outros grupos, emitiram uma advertência digna de Cassandra.

"Algumas das espécies mais recomendadas para a produção de biocombustíveis também são importantes espécies invasivas", diz o artigo, acrescentando que essas espécies devem ser estudadas mais antes de serem cultivadas para a produção de biocombustíveis em novas áreas. O controle da disseminação dessas plantas pode se provar difícil, disseram os especialistas, produzindo "maiores perdas do que ganhos financeiros". A União Internacional alertou: "Não deixe o plantio de biocombustíveis invasivos atacar seu país".

Para chegar às suas conclusões, os cientistas compararam a lista das espécies mais populares utilizadas para os biocombustíveis de segunda geração com uma lista de espécies invasivas e encontraram alarmante interseção. Eles disseram que houve pouca avaliação de risco antes do plantio. "Com os biocombustíveis, há sempre pressa", disse Geoffrey Howard, especialista em espécies invasivas da União Internacional. "As plantações são iniciadas por investidores -freqüentemente dos EUA ou da Europa- que estão ansiosos em gerar biocombustíveis em um par de anos e também, como você pode imaginar, não querem ouvir avaliações negativas".

A indústria de biocombustíveis diz que o risco das lavouras tornarem-se pragas é exagerado, observando que as espécies propostas, apesar de terem algum potencial agressivo, não são inevitavelmente invasivas. "Há muito poucas plantas que são apenas pragas", disse Willy DeGreef, secretário-geral da BioEuropa, um grupo industrial. "Você tem que ver a biologia da planta, o ambiente onde você irá introduzi-la e se perguntar se há pontos de preocupação."

Ele disse que os agricultores certamente introduziriam as novas plantas cuidadosamente, porque eles não gostariam de ter um crescimento que não pudessem controlar. A União Européia (UE) e os EUA instituíram metas para os biocombustíveis como método de reduzir as emissões de carbono. A meta da União Européia de 10% de uso de biocombustíveis no transporte até 2020 é obrigatória. Como resultado, os políticos estão ansiosamente esperando o aperfeiçoamento comercial dos biocombustíveis de segunda geração.

A UE está fundando um projeto para introduzir "uma planta não alimentar de alta produção, a cana, em sua agricultura". A cana é uma planta "amigável ao meio-ambiente" e eficaz, que deve se tornar "campeã de biomassa", diz o projeto. Uma plantação para a produção de biocombustíveis na Flórida, também usando a cana, foi recebida com entusiasmo por investidores -sua energia foi vendida mesmo antes da instalação ser construída.

O projeto, contudo, recebeu oposição da Sociedade de Plantas Nativas da Flórida e de uma série de cientistas que dizem que o plantio de cana pode ameaçar as Everglades ali perto. A cana-do-reino -antes usada na maior parte como planta decorativa e para fazer instrumentos musicais- é uma espécie de rápido crescimento que consome muita água, que drenou pântanos e entupiu sistemas de drenagem nos lugares onde foi plantada. Altamente inflamável, aumenta os riscos de incêndios.

De uma perspectiva empresarial, a boa coisa sobre os biocombustíveis de segunda geração é que são fáceis de plantar e precisam de pouco cuidado. Mas isso também reforça seu potencial de invasor. "Essas (espécies) são sobreviventes e valentes, o que significa que são boas para a produção de biocombustíveis, porque crescem bem em terras marginais que não seriam utilizadas para alimentos", disse Howard. "Entretanto, tivemos 100 anos de experiência com introduções que se tornaram desastrosas para o meio ambiente, para as pessoas e para a saúde".

Stas Burkiel, pesquisador da Nature Conservancy, disse que o custo de controlar espécies invasivas é "imenso" e geralmente não é pago por aqueles que criam o problema. Entretanto, ele e outros especialistas enfatizaram que alguns dos plantios de biocombustíveis de segunda geração ainda podem ser seguros, se introduzidos em locais corretos e sob as condições adequadas.

"Com os biocombustíveis, precisamos fazer as avaliações adequadas e tomar as medidas apropriadas para que não saiam do portão, por assim dizer", disse ele, acrescentando que essa avaliação deve envolver uma ampla perspectiva geográfica, já que as espécies invasivas não respeitam fronteiras. "Se a Flórida disser não e os investidores forem ao Estado vizinho, (a Flórida) terá problemas de qualquer forma", disse ele.

O Programa Global de Espécies Invasivas estima que os danos gerados por essas espécies já custam ao mundo mais de US$ 1,4 trilhão (em torno de R$ 2,6 trilhões) anualmente -5% da economia global. A história está cheia de introduções bem-intencionadas que deram errado, quando plantas são transportadas de uma parte do mundo para outra e prosperam descontroladamente em um novo país que não tem seus predadores naturais.

Décadas atrás, a algaroba foi introduzida na Austrália e na África para a produção de carvão, para prover sombra e reduzir erosões. Décadas depois, "tornou-se um monstro", disse Howard, invadindo milhões de hectares de pastagens em lugares como Austrália e Etiópia, deixando as terras inutilizáveis. "Está tudo coberto de arbustos espinhosos horrorosos, de tal forma que as pessoas e animais não conseguem encontrar nada para comer", disse Howard, um australiano. "Queremos nos assegurar que isso não aconteça novamente com os biocombustíveis."

A Jatropha, querida da comunidade de biocombustíveis de segunda geração, está sendo cultivada amplamente na África Oriental. Ela é promovida por empresários e pela mais proeminente Fundação Clinton. A Jatropha, entretanto, foi recentemente proibida em dois Estados australianos por ser uma espécie agressiva. Se a Jatropha, que é venenosa, invadir as terras aráveis, o resultado pode ser um desastre para o suprimento de alimentos na África, dizem os especialistas. DeGreef disse que a Jatropha tinha pouco potencial de se tornar uma praga na maior parte das áreas. E acrescentou: "Só porque uma espécie causa problemas em um lugar, não será um problema em todo lugar."

(Por Elisabeth Rosenthal, International Herald Tribune, tradução de Deborah Weinberg, UOL, 21/05/2008)


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