(29214)
(13458)
(12648)
(10503)
(9080)
(5981)
(5047)
(4348)
(4172)
(3326)
(3249)
(2790)
(2388)
(2365)
marina silva fiscalização ambiental carlos minc
2008-05-21

'Fiz muitos gestos'. Marina Silva saiu do governo para criar um fato novo que fizesse a agenda ambiental do governo andar, depois de "muitos gestos" em que mostrou inconformidade, sem sucesso.  Foi o que ela disse durante esta entrevista exclusiva em sua casa, em Brasília.  Afirmou se sentir orgulhosa da atuação diante da pasta e se mostrou satisfeita com a nomeação de Carlos Minc, de quem foi aprendiz, como seu substituto.

"Se é uma honra para um mestre deixar um pupilo no lugar, é uma grande honra que, quando o pupilo saia, para substituí-lo seja preciso recorrer ao mestre", avaliou.  Segundo a ex-ministra, seria "reducionismo" atribuir sua demissão à indicação, pelo presidente Lula, de Mangabeira Unger ao cargo de coordenador do Plano da Amazônia Sustentável (PAS).

CartaCapital: Como a senhora está se sentindo, aliviada? 

Marina Silva: Tranqüila.

CC: Tira um peso das costas deixar o governo depois de tantos embates? 

MS: Olha, minha vida sempre foi feita de embates.  Não posso dizer que é um peso fazer o que a gente acredita.  Quando se faz as coisas com convicção, mesmo com dificuldades elas não são pesadas.

CC: A senhora falou que não sai se sentindo derrotada. 

MS: Não foi exatamente assim.  Falei que derrota e vitória são algo que se afirma no tempo.  Olhando para a história, derrotados são aqueles que botaram Mandela na cadeia, que vilipendiaram Martin Luther King, que assassinaram Gandhi.  Derrotados eticamente, humanamente, porque estavam na contramão da vida. Tudo que está a favor da vida é constitutivo da vitória, mesmo que não seja agora.

CC: Em que sua gestão avançou? 

MS: O sistema se fortaleceu, o combate às práticas ilegais avançou.  Havia verdadeiras quadrilhas atuando na Amazônia.  O trabalho que a Polícia Federal fez, o doutor Paulo Lacerda, termos levado à cadeia 600 pessoas.  Saímos de uma média de cerca de 140 operações do Ibama por ano para mais de 300 operações.  Antes não se tinha um trabalho integrado com a Polícia Federal, com o Incra, com o Exército.  Não havia um plano de combate ao desmatamento. Com ele, conseguimos uma redução de 59% nos últimos quatro anos.  Aplicamos 4 bilhões em multas, desconstituímos 1,5 mil empresas criminosas, inibimos 66 mil propriedades de grilagem, criamos 24 milhões de hectares de unidades de conservação.

CC: Então sente orgulho de sua atuação? 

MS: Sim, porque é um trabalho em co-autoria.  É muito prazeroso ter a autoria de alguma coisa, mas é mais prazeroso ser co-autor porque, mesmo se não puder continuar, alguém irá.  Esse foi um trabalho de co-autoria com minha equipe, com a sociedade, com a comunidade científica, formadores de opinião.  Ninguém consegue desmontar 1,5 mil empresas e ficar de pé sem a sustentação política que a opinião pública está dando.

CC: Uma crítica feita à senhora era que se guiaria mais por critérios ideológicos do que técnicos...

MS: Mudar a turbina da hidrelétrica do Madeira de uma convencional para uma de bulbo, que diminuiu o lago em oito vezes, não é ideológico.  É um avanço técnico.  Por que vamos fazer um lago maior, com impacto ambiental negativo para os ecossistemas, para a saúde das pessoas, se temos tecnologia para fazer diferente?  Por que vamos deixar de preservar as espécies de peixes fundamentais para a alimentação da Amazônia – e mesmo que fosse só pelo valor ontológico –, se temos tecnologia e conhecimento para isso?  Se podemos fazer certo, por que vamos fazer equivocadamente?  O custo de fazer errado sempre será maior do que fazer certo, mesmo que financeiramente possa até ser um pouco mais caro e usar um pouco mais de tempo.  Ganhamos tempo e economizamos depois, ao não ter de corrigir o erro.

CC: Sai com a sensação de que poderia ter feito mais? 

MS: Se eu achasse que já tinha feito tudo, com certeza me aposentaria agora, porque já tenho 50 anos.  Sempre vai ter de fazer mais.  Os que me antecederam fizeram muito, o que esteve a seu alcance.  Eu fiz uma parte.

CC: O que estava a seu alcance, também? 

MS: Sim.  Não individualmente, mas das circunstâncias que tive de enfrentar durante o tempo que fiquei.

CC: A impressão que dá é que a senhora desistiu. 

MS: Desistir seria continuar sem poder fazer.  A vitória não é algo que a gente meça por aquilo que fez com as próprias mãos, mas como parte da solução.  Nesse momento, sinto que parte da solução é sair, ir para o Senado.

CC: Para os brasileiros, ficou como se a senhora estivesse lá, dando murro em ponta de faca, e uma hora falou: "Chega"

MS: Dar murro em ponta de faca eu dei minha vida toda.  E quem disse que vai ser fácil no Senado?  Estou batalhando para aprovar uma lei de acesso à biodiversidade há quase 16 anos.  Há quase 12 tento aprovar um fundo de desenvolvimento sustentável.  Muda o endereço, mas não muda o grau de empenho e dificuldade.

CC: No Senado, a senhora pretende fazer oposição à política ambiental do governo? 

MS: Eu não fazia oposição nem na época do Fernando Henrique.  Dava apoio às políticas corretas e boas do ministro Sarney Filho e do ministro José Carlos Carvalho, quanto mais as do Minc.  Aprendi o bê-á-bá do ambientalismo com o Minc, com o Gabeira, o Fabio Feldman, o Alfredo Sirkis.  Isso no tempo que a gente ouviu a palavra ecologia pela primeira vez, alguém perguntou para o Chico Mendes e ele disse, de brincadeira: "Sei lá, deve ser alguma coisa de comer..." Então, se é uma honra para um mestre deixar um pupilo no seu lugar, é uma grande honra que, quando o pupilo saia, para substituí-lo seja preciso recorrer ao mestre.

CC: Como fica a sua relação com o governo? 

MS: Uma relação de interação madura, de respeito, porque não sou do tipo que faz oposição por oposição.  Quando o presidente FHC propôs a CPMF e o ministro Adib Jatene fez um debate conosco, me convenci de que deveria votar a favor e votei.  Durante 30 anos ajudei a construir o governo Lula, a chegar a esse projeto.  Estou saindo para contribuir, para criar um novo momento.

CC: Mas os jornais já davam como perda para o governo a saída do seu suplente Sibá Machado, pelo fato de a senhora ser mais independente...

MS: E quem disse que a independência não é uma coisa boa?

CC: A senhora tem uma preocupação histórica.  Não teme que sua saída seja explicada apenas por não aceitar que Mangabeira Unger tenha sido nomeado coordenador do PAS? 

MS: Seria um reducionismo falar isso.  As pessoas que conhecem meu trabalho sabem que fui eu quem sugeriu que o plano de combate ao desmatamento fosse coordenado, lá atrás, pelo ministro José Dirceu.  De sorte que não se pode reduzir isso a uma pessoa.  Não seria justo com o doutor Mangabeira, que foi nomeado recentemente.  Ainda nem tive tempo de conhecer seu trabalho dentro do governo.

CC: Ele está preparado para assumir esse cargo? 

MS: Não tenho elementos para julgar nem seria elegante da minha parte.

CC: O presidente Lula disse que a senhora era a "mãe do PAS", mas preferiu dar o bebê para uma babá cuidar...

MS: Eu não qualificaria assim, mas poderia dizer que me evoca a história do rei Salomão.  Então, prefiro ver a criança viva, no colo do ministro Minc, que vai ter uma grande responsabilidade em relação a tudo isso.  Espero que ele e o avô (Lula) possam cuidar muito bem.  E cuidar bem significa não haver retrocesso em relação às conquistas fantásticas que tivemos até aqui.

CC: A senhora falou que tem uma amizade com o Lula de 30 anos, mais ou menos o mesmo tempo que ele tem de casado com dona Marisa.  Por que não o procurou pessoalmente para se demitir, preferiu mandar uma carta? 

MS: Existem várias maneiras de se comunicar algo a alguém.  Uma poderia ter sido a fala.  Mas muitas vezes quando os ministros vão dizer 'olha, estou pensando em sair', passa a idéia de que estão querendo criar algum tipo de chantagem, pedir algum tipo de afago.  Você sabe quando a sua contribuição é o gesto, e eu fiz muitos gestos.  Na questão dos transgênicos, na questão da hidrelétrica do Madeira, da transposição do São Francisco.  Agora, quando o desmatamento aumentou, fiz vários gestos.  Nesse momento, o que me restou foi o ato.  E o ato se concretizou na carta.

CC: Ou seja, a senhora sai por inconformidade com a paralisação da agenda ambiental

MS: Não sei se era inconformidade, mas meu compromisso é que a agenda ande.  No meu entendimento, se eu permanecesse ela pararia de andar.  Espero profundamente que com este ato se criem novos fatos.  Já é um fato o presidente Lula ter dito que a agenda não vai mudar.  O outro fato é podermos ver em que vai ampliar.

 


desmatamento da amazônia (2116) emissões de gases-estufa (1872) emissões de co2 (1815) impactos mudança climática (1528) chuvas e inundações (1498) biocombustíveis (1416) direitos indígenas (1373) amazônia (1365) terras indígenas (1245) código florestal (1033) transgênicos (911) petrobras (908) desmatamento (906) cop/unfccc (891) etanol (891) hidrelétrica de belo monte (884) sustentabilidade (863) plano climático (836) mst (801) indústria do cigarro (752) extinção de espécies (740) hidrelétricas do rio madeira (727) celulose e papel (725) seca e estiagem (724) vazamento de petróleo (684) raposa serra do sol (683) gestão dos recursos hídricos (678) aracruz/vcp/fibria (678) silvicultura (675) impactos de hidrelétricas (673) gestão de resíduos (673) contaminação com agrotóxicos (627) educação e sustentabilidade (594) abastecimento de água (593) geração de energia (567) cvrd (563) tratamento de esgoto (561) passivos da mineração (555) política ambiental brasil (552) assentamentos reforma agrária (552) trabalho escravo (549) mata atlântica (537) biodiesel (527) conservação da biodiversidade (525) dengue (513) reservas brasileiras de petróleo (512) regularização fundiária (511) rio dos sinos (487) PAC (487) política ambiental dos eua (475) influenza gripe (472) incêndios florestais (471) plano diretor de porto alegre (466) conflito fundiário (452) cana-de-açúcar (451) agricultura familiar (447) transposição do são francisco (445) mercado de carbono (441) amianto (440) projeto orla do guaíba (436) sustentabilidade e capitalismo (429) eucalipto no pampa (427) emissões veiculares (422) zoneamento silvicultura (419) crueldade com animais (415) protocolo de kyoto (412) saúde pública (410) fontes alternativas (406) terremotos (406) agrotóxicos (398) demarcação de terras (394) segurança alimentar (388) exploração de petróleo (388) pesca industrial (388) danos ambientais (381) adaptação à mudança climática (379) passivos dos biocombustíveis (378) sacolas e embalagens plásticas (368) passivos de hidrelétricas (359) eucalipto (359)
- AmbienteJá desde 2001 -