Tramita na Câmara de Vereadores de Caxias do Sul, na Serra gaúcha, o projeto Troca Solidária. A medida sugerida pela prefeitura visa incentivar a troca de lixo seletivo por alimentos hortigranjeiros. Para o diretor-presidente da Companhia de Desenvolvimento de Caxias do Sul (Codeca), Adiló Didomênico, a iniciativa traz benefícios sócio-ambientais para a população caxiense.
“Estaríamos estimulando as comunidades de difícil acesso ande nós temos muita dificuldade para coletar o material. Eles próprios fariam a coleta, guardar o material e trocar, então, a 4 quilos de material seletivo eles trocariam por 1 quilo de produto hortigrangeiro, de preferência, produtos da época. Por outro lado, estariam beneficiando a cadeira produtiva, o produtor rural que, muitas vezes, se vê obrigado a colocar fora este produto”, diz.
Os caminhões para fazer a coleta do lixo seco e a entrega dos alimentos seriam disponibilizados pela Codeca aos sábados. O programa prevê seis pontos de coleta, localizados na periferia da cidade, em especial, nos bairros com difícil acesso.
Diariamente, a Codeca coleta cerca de 60 toneladas de lixo seletivo. A estimativa é de que a quantidade aumente com o projeto, como ocorreu em programa semelhante na capital paranaense Curitiba. Em Caxias do Sul, existem hoje 10 associações de recicladores que já possuem o convênio com a Prefeitura e recebem os resíduos seletivos coletados pela Codeca. Atualmente, os galpões de reciclagem geram 300 empregos diretos.
No entanto, o Troca Solidária não é bem visto por associações de catadores. A integrante da Associação dos Recicladores e Carroceiros do Aeroporto (ARCA), Fátima Freitas, afirma que o programa é mais uma maneira de prejudicar a coleta seletiva realizada por catadores e carroceiros. Desde a instalação de contêineres nas ruas centrais da cidade, onde um deles é destinado para o lixo orgânico e o outro para o lixo seco, os trabalhadores tiveram que se deslocar para as periferias.
“No orgânico, tem mais lixo seco, que é o nosso material do que no seletivo tem o nosso material. Porque agora eles recolhem e colocam tudo nos contêineres e eles viraram uma bagunça. O pessoal ainda não têm uma noção que é a noção que nós temos, que é saber separar o lixo seco, que é o bom, que é o seletivo, do orgânico”, explica.
Para Fátima, o projeto Troca Solidária não beneficia os catadores porque tira o seu trabalho e serve como esmola para a população. “Isso não resolve nada para nós. Se para nós não resolve, muito menos para o catadores. O catador não vive de esmola e não é através de uma cesta básica que o catador vai se vender nem para a Codeca, nem para a Prefeitura, nem para órgão nenhum. A gente que quer trabalhar honestamente mas com os nossos braços, não através de cesta básica”, explica.
(Por Paula Cassandra, Agencia Chasque, 20/05/2008)