“Minha plantação está no meio das árvores”. É desta maneira que o assentado Benjamim Muniz, 77 anos, define o seu lote. Ele está assentado desde 2005 no Projeto de Desenvolvimento Sustentável (PDS) Alves, Teixeira e Pereira, em Eldorado, no Vale do Ribeira, região conhecida por abrigar o maior remanescente de mata atlântica do Brasil.
Ele que já foi produtor de gengibre na região e utilizava técnicas convencionais, hoje, descarta qualquer tipo de agrotóxico em sua plantação. Com base no manejo sustentável, atualmente sua roça está alternada com plantas nativas e agrícolas. No lote é cultivado abacate, limão, pupunha, guabiroba, mandioca, feijão, milho, plantas medicinais e ornamentais, além de banana e juçara, culturas tradicionais da região.
Foi por meio do trabalho desenvolvido na região pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP) em parceria com o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) de São Paulo que os pequenos agricultores deste PDS conheceram esta nova forma de praticar a agricultura, conhecido como Sistema Agroflorestal.
“O Sistema Agroflorestal é um sistema não-convencional de agricultura. A idéia é combinar a produção com a preservação do meio ambiente, juntar espécies que se combinam, mantendo a biodiversidade e o equilíbrio ecológico”, explica Paulo Kageyama, professor da Esalq e coordenador geral do Programa de Pesquisa e Desenvolvimento dos Assentamentos Rurais e Agricultura Familiar do Estado de São Paulo.
O professor explica que combinar espécies perenes com anuais é um bom negócio para o pequeno produtor, pois com isso ele consegue manter o solo coberto o tempo todo, o que melhora a qualidade da terra e mantém a biodiversidade do local.
E o assentamento não podia ser pensado de forma diferente. A região do Vale do Ribeira concentra cerca de 20% do que sobrou de mata atlântica no Brasil - em todo o país, restam apenas 7% das florestas que compunham originalmente o bioma. Preservar esse patrimônio da humanidade é um grande desafio para esta comunidade. Este também é um dos motivos pelo qual o assentamento, onde vivem 68 famílias, foi criado no modelo conhecido como Projeto de Desenvolvimento Sustentável. Esse modelo concilia o desenvolvimento socioeconômico das famílias assentadas com a preservação e recuperação ambiental.
O ConvênioO convênio entre o Incra-SP e a Esalq foi firmado no dia 13 de setembro de 2007, no qual estão previstas atividades de capacitação para técnicos e assentados e a realização de um diagnóstico socioeconômico e ambiental.
Uma das ações em andamento é a identificação das espécies com potencial extrativista. O objetivo é promover o aproveitamento econômico não-madeireiro de espécies florestais, o que envolve usos para alimentação, fitoterapia e fitocosmética.
Nas áreas abertas, ou seja, já desmatadas, serão implantados Sistemas Agroflorestais, que permitem o consórcio de espécies agrícolas e nativas. Com isso, os assentados podem se dedicar a culturas de seu interesse, combinadas com plantio para reflorestamento. Assim, as áreas abertas ficariam cada vez mais próximas das áreas de floresta natural. “Mas como florestas produtivas”, ressalta Kageyama.
(Incra,
Jornal do Meio Ambiente, 20/05/2008)