Um exemplar da maior ave de rapina das Américas, a Harpia (Harpia harpyja), conhecida como gavião-real, foi encontrada por fazendeiros, na Bahia, mais precisamente no município de Itagimirim, a 606 quilômetros de Salvador. A ave foi entregue ao Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e encaminhada aos pesquisadores do projeto Harpia na Mata Atlântica que a soltaram, na última quinta-feira, no Parque Nacional Pau-Brasil (ParNa Pau-Brasil), em Porto Seguro, e se tornou pioneira em todo o Brasil como a primeira harpia adulta que será monitorada, via satélite.
"Após a soltura, vamos permanecer observando o comportamento da águia nos primeiros dias nas matas do parque", explicou a pesquisadora Tânia Sanaiotti, do Instituto Nacional de Pesquisas Amazônicas (INPA) e presidente do projeto Harpia na Mata Atlântica. A harpia será monitorada durante três anos.
Os pesquisadores do projeto (que na Amazônia recebe o nome de Projeto Gavião-real) já realizam o monitoramento, via satélite, de uma harpia jovem na floresta Amazônica, mas é a primeira vez que irão monitorar uma ave adulta. "Tudo será novidade", comemora Sanaiotti, ao explicar que a águia jovem ainda não voa a grandes distâncias do ninho. A que está sendo monitorada na Amazônia voa no máximo a 300 metros do ninho, quando uma ave adulta chega a percorrer 80 quilômetros a procura de alimentos.
MATA ATLÂNTICA – Desenvolvido em 2005, através de um contato com os pesquisadores que já tinham um projeto semelhante na Amazônia, o Projeto Harpia na Mata Atlântica, foi montado com o intuito de avaliar e preparar para o retorno a natureza de um outro exemplar de harpia, que desde 1997 vive num viveiro na Estação Veracel (uma Reserva Particular de Proteção da Natureza – RPPN), que funcionava como Centro de Reabilitação de Animais Silvestres (Cemas), mantido pela empresa de celulose Veracel.
Essa águia, também uma fêmea, foi encaminhada ao Cemas, em 1997, após ter sido encontrada por fiscais do Ibama em uma fazenda da região, onde era mantida em cativeiro. Ela estava ferida, foi tratada e mantida num viveiro, construído especialmente num tamanho e condições que atendessem as suas necessidades.
Em 2004, a equipe da RPPN Estação Veracel, avistaram uma outra harpia que passou a pousar com freqüência sobre o viveiro da estação. A equipe fez então um contato com os pesquisadores do Projeto Águia-real, que é desenvolvido na Amazônia e acabaram montando um projeto similar, com o financiamento da Veracel, para estudar as águias na Mata Atlântica.
Em 2005, os pesquisadores do Projeto Harpia na Mata Atlântica conseguiram avistar um ninho de harpia na Estação Veracel – primeiro ninho da espécie encontrado na Bahia, e constataram a existência de um casal de águias na estação, por isso optaram em soltar o exemplar encontrada no Parque Pau-Brasil.
“Como sabemos que já existe um casal de harpia vivendo aqui na estação, optamos por soltar no ParNa, para povoar outras áreas de Mata Atlântica", explicou Sanaiotti.
Antes de soltarem a ave, os pesquisadores do projeto fizeram um levantamento da área para ter certeza há condições necessárias para que ela sobreviva e consiga se reproduzir. O parque possui 6.069 hectares de Mata Atlântica. "Constatamos que no ParNa há condições para que sobrevivam dois casais de harpia, por isso decidimos que iremos soltar a outra lá também", revelou a pesquisadora. A soltura do outro animal, que também será monitorado via satélite, acontecerá no segundo semestre deste ano.
A ave, que hoje é mantida na Estação Veracel, está sendo treinada para retornar à natureza, por isso o contato com humanos está restrito apenas aos pesquisadores do projeto. Ela foi avaliada e se constatou que, apesar de ter sido mantida em cativeiro antes de ser encaminhada a Estação Veracel, ela provavelmente foi capturada já adulta, portanto teve a oportunidade de aprender a sobreviver sozinho na natureza.
"Ela não chegou a ser humanizada, por isso pode retornar a natureza", explicou José Eduardo Mantovani, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), que também é integrante do Projeto Harpia na Mata Atlântica.
ÁGUIA-REAL – A harpia já povoou a região da Mata Atlântica, mas com o desaparecimento progressivo da floresta, devido aos grandes desmatamentos, a ave está hoje em estado crítico de extinção, sendo mais recorrente atualmente na Floresta Amazônica.
Tânia Sanaiotti destaca a importância da colaboração da comunidade para o resgate da águia-real na região de MA e enfatiza que o primeiro monitoramento de uma águia-real adulta só está sendo possível graças a consciência ambiental dos fazendeiros que encontraram o animal e encaminharam ao Ibama e graças a agilidade da equipe do Ibama em contatar os pesquisadores do projeto harpia na Mata Atlântica.
CARACTERÍSTICAS DA HARPIA
Nome: Harpia – a maior ave de rapina das Américas, também conhecida como Gavião Real.
Nome científico: Harpia harpyja.
Distribuição: México, América Central, Brasil, Argentina e Colômbia.
Habitat: florestas tropicais.
Longevidade: 50 anos.
Maturidade: após 5 anos, antes disso sobrevive próximo ao ninho.
Número de filhotes por ninhada: 01.
Alimentação: animais de pequeno e médio porte.
Fonte: Paixão Barbosa.
(Por Maria Eduarda Toralles, Agência A Tarde,
Jornal do Meio Ambiente, 20/05/2008)