Jatos monitoram desmatamento
A aviação militar do Brasil mantém no ar, todo os dias, desde 2002, o aparato de vigilância que Carlos Minc quer propor como parte do envolvimento das Forças Armadas na proteção de parques nacionais e da Amazônia.
A partir da base aérea de Anápolis, a 140 quilômetros de Brasília, grandes jatos R-99 Bravo do Esquadrão Guardião realizam sua missão cotidiana de coleta de dados e imagens de incêndios florestais, das superfícies desmatadas e em processo de desmatamento, de áreas de conservação, atividades irregulares de garimpagem, mineração ou demarcação de terras. Não é só. O grupo, comandado pelo tenente-coronel Rinaldo Nery, acompanha a movimentação das reservas indígenas e das zonas de proteção ambiental. Também produz dados para a elaboração do Plano Permanente de Zoneamento Ecológico e Econômico.
Os olhos e ouvidos eletrônicos estão voltados também à observação de atividades e empreendimentos causadores de degradação ambiental envolvendo grandes obras públicas, empreendimentos agropecuários e o trabalho em reservas extrativistas.
As informações são colhidas e podem ser transferidas em tempo real para os centros terrestres. Desse ponto em diante o uso do material fica por conta de setores especializados do governo federal, subordinados à Casa Civil e ao Ministério da Defesa.
Nery tem oito aviões disponíveis. Cada um custa cerca de US$ 80 milhões. Cinco deles são do tipo R-99 Alfa, de alerta antecipado e comando aerotransportado. Levam uma grande antena Erieye, comprada na Suécia. O equipamento pesa quase uma tonelada e tem alcance no limite entre 360 e 400 quilômetros. Com ele a Força Aérea Brasileira (FAB) pode multiplicar o poder de sua frota por meio de coordenação e integração e da capacidade de localizar alvos mesmo quando o deslocamento das aeronaves adversárias se dá a baixa altura.
O segundo time Guardião, guarnecido com três unidades da versão R-99 Bravo, é o que serve diretamente aos interesses ambientais e à vigilância da Amazônia. A rigor, é um avião espião, destinado a missões de inteligência. O principal componente embarcado é o radar de abertura sintética, que permite uma varredura de área feita de forma a não revelar a presença do R-99B.
Com ele atuam um produtor de imagens digitais e um sensor ótico infravermelho, para visão noturna. A partir do ponto de decolagem a aeronave terá duas horas de coleta de dados sobre 57 mil km² a cerca de mil quilômetros de distância. Os jatos operam dia e noite e sob quaisquer condições meteorológicas.
O R-99A/B é construído pela Embraer, em São José dos Campos. Com um deles, do tipo B, o Esquadrão Guardião realizou uma façanha militar, em junho de 2003.
O jato decolou de Anápolis com a missão - negociada diretamente pelo presidente Lula com seu então colega do Peru, Alejandro Toledo - de apoiar uma ação de resgate de 74 reféns tomados pela guerrilha na província de Ayacucho. A maioria funcionários da empresa Techint, que construía um oleoduto.
Duas horas de vôo sobre a mata foram suficientes para monitorar as comunicações entre os seqüestradores e assim definir a localização do cativeiro. Forças Especiais do Exército peruano chegaram ao local em 45 minutos.
(Por Roberto Godoy, O Estado de São Paulo, 20/05/2008)