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transamazônica
2008-05-20
Na viagem de ônibus de Belém à Altamira, cerca de 600 km se passam pela BR-230, rodovia mais conhecida como Transamazônica

Muitos se perguntam sobre a viabilidade da pavimentação de estradas como a antiga Transamazônica. Alguns acreditam que ela deve ser pavimentada para trazer progresso. Outros afirmam que essa obra trará ainda mais impactos ambientais.

Com o propósito de cobrir o Encontro Xingu Vivo para Sempre, que acontece de 19 a 23 de maio em Altamira (PA), nós, dois jornalistas do site Amazônia.org.br, chegamos à Rodoviária de Belém, vindos de São Paulo, para pegar um ônibus com destino à cidade onde o evento acontecerá. Pudemos então ver de perto um pouco da realidade da estrada.

Caminho
Nossa primeira surpresa foi saber que há apenas um ônibus da capital do Pará para Altamira. "Antes tinham dois, mas como é época de chuva, só há um", disse o motorista.

A viagem durou ao todo 21 horas e 30 minutos. Desse total, cerca de 13 horas foram percorridas numa estrada de barro, a BR-230.

Das 11 das cidades que estão no trajeto, ao menos cinco são conhecidas por muitos daqueles que acompanham as notícias sobre a região: Tailândia, um dos municípios que mais desmatam atualmente; Tucuruí, cidade que possui a famosa barragem que, segundo os ambientalistas, além de ter causado um enorme impacto ao meio ambiente, não gera a energia planejada; Anapu, município onde a Irmã Dorothy Stang foi assassinada; Belo Monte, região onde o governo planeja construir mais uma hidrelétrica e, por fim, Altamira, local onde há quase 20 anos, índios e movimentos sociais se mobilizaram contra as construções de hidrelétricas no rio Xingu e cidade onde eles voltarão nesta semana para, novamente, se manifestar contra à construção de usinas na região.

Passageiros
Dentro do ônibus, dava para se ter uma idéia das pessoas que vivem nessa região. O veículo, que tinha capacidade para 35 passageiros, levava mais de 40. Dentre eles, havia uma mulher que trazia consigo cinco filhos. A primeira era uma menina que tinha cerca de oito anos e ajudava a mãe a cuidar dos mais novos, principalmente o menor deles, que não aparentava ter mais que seis meses de vida. Essa mulher viajou com apenas uma passagem comprada. Ela e os filhos viajaram por mais de 15 horas amontoados em dois bancos.

Havia também muitos trabalhadores rurais. "Passo seis meses em Altamira para fazer um trabalho e fico três meses em casa", disse um deles. Percebia-se que muitos passageiros vivem numa situação de pobreza, alguns deles na miséria.

Durante toda a viagem, o ônibus fez várias paradas. Numa delas, entrou um passageiro com dois filhos. A mais velha tinha um ano. Sua camiseta não cobria toda a barriga, inchada como se trouxesse dentro de si alguma verminose. O mais novo, de poucos meses, nem tinha uma camiseta para vestir. "Vim pegar meus filhos e entregar para um parente cuidar. Eu e a mãe deles somos separados e agora tenho que levá-los", comentou.

Em outra parada, já chegando em Belo Monte, entraram ribeirinhos que iam até Altamira. Como o ônibus estava lotado, passaram horas em pé, no corredor do veículo.

Paradas, cidades e paisagens
Mesmo lendo e noticiando os fatos da região, quem vem de um estado tão longínquo e diferente como é São Paulo imagina que mesmo estando em áreas de desmatamento seria possível ver a floresta. Mas essa foi outra surpresa que tivemos.

As margens da estrada nos ofereciam uma imagem muito semelhante aos pastos das regiões sudeste e centro-oeste brasileiros. Da floresta, havia apenas vestígios. Algumas árvores isoladas e alguns rios. Além disso, os únicos animais que se pode observar foram os bois e cavalos, instalados em enormes áreas de pasto.

As cidades estão separadas por grandes distancias, com paisagens iguais às áreas acima citadas. Não há pessoas fora desses povoados. Durante as paradas pudemos perceber raros diferenciais, como na cidade de Tailândia, um dos primeiros destinos de nossa viagem. Lá, muitos comércios têm nomes com a palavra "motosserra" incluída, como por exemplo, o Mercado "Motosserra feliz" e o comércio "Motosserra R.F", etc. No restante, os pontos de parada do ônibus eram caracterizados pela presença de botecos, areia, calor, mercadinhos, borracharias e outros tipos de atividade comercial existentes em qualquer município do interior do país.

Durante todo o tempo em que estivemos na estrada, a imagens dos rios, principalmente o Xingu, nos chamou a atenção. Para atravessá-lo, tivemos que utilizar uma balsa. Contamos com a sorte de neste dia a lua cheia refletir seu brilho nas águas do rio. "Se a represa vier, tudo isso acaba", disse o motorista do ônibus apontando para as casas dos ribeirinhos.

A estrada
Do total de horas que passamos dentro do ônibus, sete foram em estrada asfaltada e o restante na Transamazônica. A maior precaução de todos que estavam ali era a chuva, que, conforme alertou o motorista, causa o atolamento dos automóveis.

Apesar da chuva não chegar, a estrada se mostrou perigosa. Na área asfaltada há muitos buracos e na parte de terra, além desse, atrapalham a viagem a lama e a poeira. Não citamos a sinalização e a iluminação das estradas porque elas são inexistentes durante todo o caminho.

Além do nosso ônibus, apenas caminhões carregados de madeira e caminhonetes passavam pela BR-230. Duas manadas de bois também cruzaram conosco no caminho. Nestes dois episódios, o ônibus teve que parar para dar passagem aos animais. Nenhum outro ônibus que levava a população local apareceu. Ficam aqui então as perguntas: "para que servirá uma rodovia asfaltada cuja maior função é servir de caminho para o gado? Quais serão os seus benefícios para a população e o meio ambiente?"

(Por Thais Iervolino e Bruno Calixto, Amazonia.org.br, 19/05/2008)




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