O presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva afirmou no sábado que o petróleo é uma "vaca sagrada" cujo preço vem subindo muito sem ser alvo de crítica alguma no mundo, apesar de essa alta também prejudicar a agricultura e os alimentos.
O Brasil é grande produtor de biocombustíveis e utiliza terras agrícolas para sua produção, fato que vem suscitando críticas mundiais a essa indústria, à qual culpam por gerar fome e o desmatamento da Amazônia.
Lula falou numa reunião com o presidente peruano, Alan García, e empresários de ambos os países, um dia depois de participar na 5a Cúpula de líderes da América Latina, Caribe e União Européia, realizada em Lima.
"Alan, ontem não vi nenhum europeu falar do aumento do preço do petróleo. O petróleo é como se fosse uma vaca sagrada que aumenta de 30 dólares o barril para 124, e não existe nenhuma crítica em nenhum lugar do mundo. Isso é normal?", disse Lula em seu discurso na ocasião.
"Ninguém quer discutir as consequências do preço do petróleo sobre a produção de fertilizantes para a agricultura, ninguém quer falar do efeito do preço do petróleo sobre o transporte dos alimentos que produzimos --querem dizer que é o biodiesel", acrescentou.
A América Latina é uma das maiores produtoras mundiais de matérias-primas alimentícias e luta para que a Europa desmonte um sistema de proteção de seus produtores agropecuários, o que mantém distante algum acordo comercial entre os dois continentes.
Ademais, a região está dividida em relação a qual deve ser o destino final de seus cultivos, com o Brasil incentivando a produção de biocombustível e a Venezuela liderando um grupo de países que rejeitam o uso de alimentos para produzir combustíveis.
"Agora nós somos responsáveis pela alta do preço dos alimentos. O biodiesel é uma invenção extraordinária que, por enquanto, só o Brasil continua produzindo, mas que já produzia antes dessa história do biodiesel", acrescentou Lula.
Para o Brasil, por trás dessa discussão estão os países desenvolvidos que querem manter seus subsídios agrícolas.
Lula pediu, também, à Rodada de Doha, um fórum pela liberação comercial mundial, que se pague um "preço mais justo" pelos alimentos e se encontre uma saída para a crise alimentar, que levou a expressões de alarme em todo o mundo, devido ao temor de que a fome se alastre.
"Talvez agora exista uma flexibilização e possamos na Rodada de Doha encontrar uma saída para que as coisas produzidas com qualidade aqui, como o aspargo, sejam vendidas por um preço mais justo nos países que consomem muito aspargo, como os europeus ou os americanos", disse o presidente.
Lula considerou, além disso, que a crise da alta dos preços dos alimentos é "um problema com o qual precisamos nos preocupar".
"Estamos sendo incentivados a produzir mais alimentos, e vamos fazê-lo. Se cada país produzir e tiver estoque regular, não teremos problemas de alimentos", disse o presidente.
(Reuters Brasil, 17/05/2008)