A Aracruz espera ter o terminal de São José do Norte escoando celulose normalmente a partir de julho de 2010. O complexo, que terá um investimento de cerca de R$ 120 milhões e será construído em 64 hectares, tem o começo das obras previsto para o primeiro trimestre do próximo ano.
No sábado (17), a governadora Yeda Crusius, com vários políticos e empresários, esteve no município do Litoral Sul para inaugurar um programa de alfabetização de adultos que a Aracruz conduzirá em São José do Norte. Além disso, fez o descerramento de um outdoor onde constava: "Breve aqui: Implantação do Terminal Privativo Marítimo Aracruz Giuseppe Garibaldi".
Apesar de marítimo, a estrutura será localizada na Lagoa dos Patos, entre o centro de São José do Norte e a praia do Mar Grosso. Depois de chegar a Rio Grande em um vôo fretado, onde foi acompanhada pelo secretário do Meio Ambiente, Carlos Otaviano Brenner de Moraes, a presidente da Fepam, Ana Pellini, o presidente da Farsul, Carlos Sperotto, e o presidente da Fiergs, Paulo Tigre, além de representantes da Aracruz, Yeda foi recebida com festa no Litoral Sul.
Ao desembarcar em São José do Norte, após atravessar, em lancha também fretada, a Lagoa dos Patos que separa o município de Rio Grande, a comitiva foi recebida com banda e por vários populares. Muitas pessoas, na recepção e durante o evento de descerramento da placa do terminal, estavam com bonés com o logotipo da Aracruz.
O prefeito de São José do Norte, José Vicente Ferrari, aproveitou a ocasião para conceder à governadora o título de cidadã nortense. Yeda logo utilizou a distinção em seu discurso. "Cumprimento meus conterrâneos de São José do Norte", disse.
Enaltecer as mudanças que poderão ocorrer em um dos municípios que enfrenta as maiores dificuldades econômicas e logísticas do Estado (o acesso por terra é feito pela BR-101, apelidada como Estrada do Inferno por não ser totalmente asfaltada), foi um tema comum para a governadora e os outros oradores. O diretor de operações da Aracruz, Walter Lídio Nunes, recordou que já em 1840 falava-se na efetivação de um porto em São José do Norte. "Estamos resgatando a vontade dos farrapos", proclamou Nunes. O terminal terá capacidade para escoar até 1,8 milhão de toneladas de celulose por ano.
A produção de Guaíba será transportada por barcaças pela Lagoa dos Patos, chegará em São José do Norte e será deslocada para navios oceânicos. Depois, seguirá para os mercados do exterior, em especial o asiático, para países como a China.
Durante a instalação do complexo, deverão ser criados 850 empregos diretos e 4,2 mil indiretos. Quando iniciar as atividades, serão 130 diretos e 650 indiretos. O terminal faz parte do projeto de ampliação da Aracruz que prevê investimentos de R$ 4,9 bilhões no Estado com a construção de uma linha de produção de celulose, expansão de base florestal e implantação de um sistema de logística hidroviário.
Plantio de eucaliptos deve chegar a 30 mil hectares neste ano
Em 2008, a Aracruz deverá plantar eucaliptos para a produção de celulose em cerca de 30 mil hectares. Para sustentar a demanda da nova unidade da empresa será necessária a utilização de cerca de 150 mil hectares. Deste total, 100 mil hectares serão destinados à plantação de eucaliptos e o restante terá que ser preservado pela companhia.
Na semana passada, a Aracruz realizou uma publicação legal informando pedidos de licenciamentos ambientais que contemplavam cerca de 300 mil hectares. Essas solicitações foram feitas em municípios como Lavras do Sul, São Gabriel, Caçapava do Sul, São Sepé, Barão do Triunfo, Tapes, entre vários outros. O diretor de operações da Aracruz, Walter Lídio Nunes, comenta que esses pedidos não significam que essas áreas serão usadas, mas se trata de uma agilização do licenciamento. A Aracruz não pretende adquirir todos esses terrenos. Nunes informa que, apesar do terminal que será implantado em São José do Norte, a companhia não deve realizar plantações naquela região. A zona é apontada como de alta sensibilidade ambiental.
Outra questão relativa ao plantio de eucaliptos é uma ação direta de inconstitucionalidade (Adin) que entrou no Supremo Tribunal Federal (STF) questionando as autorizações dadas pela Fepam para essa prática. A presidente da Fepam, Ana Pellini, afirma que a Adin não trará efeitos práticos, porque as autorizações de plantios não são mais concedidas.
Rio Grande terá estrutura para produtos florestais
Não é apenas a Aracruz que investirá em um complexo portuário no Litoral Sul. O superintendente do porto do Rio Grande, Sinésio Cerqueira Neto, adianta que um terminal de produtos florestais, que será construído em Rio Grande, deverá ser licitado nos próximos 90 dias.
Cerqueira Neto relata que se trata de um empreendimento maior do que o da Aracruz. O terminal rio-grandino deverá ter capacidade para movimentar até 11 milhões de toneladas de cargas por ano. Conforme o superintendente, a idéia desse complexo é absorver a produção de outras companhias como a Votorantim Celulose e Papel (VCP) e Stora Enso. Passarão pela estrutura madeira e celulose.
Cerqueira Neto revela que além dos naturais interessados (VCP e Stora Enso), investidores internacionais deverão apresentar propostas para construir o terminal florestal. Ele argumenta que outra empresa pode assumir a operação do terminal para depois escoar a produção das fábricas de celulose. "Quem oferecer as melhores condições irá operar o complexo", afirma Cerqueira Neto. O dirigente calcula que o investimento necessário para efetivar o projeto é de cerca de R$ 150 milhões. A estrutura será implementada em uma área de cerca de 29 hectares.
Tecnologia em biorrefinaria pode ser desenvolvida
Além da produção de celulose, a Aracruz pretende apoiar no Estado o capital intelectual, a inovação e o desenvolvimento tecnológico. Para isso acontecer, a companhia propôs realizar um Centro de Desenvolvimento Tecnológico em Biorrefinarias.
O diretor de operações da Aracruz, Walter Lídio Nunes, explica que a idéia é fazer pesquisas para transformar a biomassa (matéria orgânica) em produtos químicos, entre os quais combustíveis. Podem ser aproveitados subprodutos florestais como também soja, pinhão manso, casca de arroz, entre outros. A iniciativa prevê desenvolver estudos, patentes e produção.
Nunes aponta que, com a alta do preço do petróleo e o aquecimento global, esse é um ótimo nicho de mercado. Ele acrescenta que existem muitos recursos para serem captados nessa área através de mecanismo como a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), por exemplo.
Provavelmente, o centro ficará no município de Guaíba. Mas, a intenção é de que outras empresas e o governo participem da iniciativa.
(Por Jefferson Klein, JC-RS, Diário Popular, 19/05/2008)