O subsecretário de assuntos humanitários da ONU, John Holmes, chegou na noite deste domingo (hora local) em Mianmar para tentar ampliar as operações de auxílio internacional ao país, enquanto a televisão estatal mostrava o líder máximo, o general Than Shwe, visitando pela primeira vez a área atingida.
Testemunhas procedentes da região do delta do Irrawaddy, a mais afetada pela catástrofe que deixou mais de 133.600 mortos e desaparecidos, segundo o governo, negaram as informações divulgadas pelo regime militar e afirmaram que os generais ainda não distribuíram comida a todos os atingidos.
Holmes ficará no país até quarta-feira e visitará na segunda-feira a região mais afetada pelo ciclone, segundo o representante da ONU em Yangun, Dan Baker.
A ONU também anunciou que o secretário-geral Ban Ki-moon visitará o país esta semana, para discutir o envio em massa de auxílio internacional. Ban deixará Nova York na terça-feira e chegará em Mianmar 24 ou 48 horas depois, segundo seu porta-voz.
Enquanto isso, a televisão estatal mostrou neste domingo o líder máximo de Mianmar, o general Than Shwe, visitando pela primeira vez neste domingo as áreas da região de Yangun afetadas pelo ciclone.
O líder de 75 anos visitou campos de refugiados na periferia de Yangun, após voar até a principal cidade do país, a grande afetada pela passagem do ciclone, informou o canal MRTV, controlado pelo regime.
A junta militar, que no sábado autorizou a entrada de 80 especialistas em saúde asiáticos, continua filtrando a assistência internacional e impondo barreiras a distribuição de ajuda por equipes ocidentais.
Neste domingo, o jornal oficial New Light of Myanmar publicou mais de 20 artigos que exaltavam os esforços e a eficácia das autoridades.
"As operações de socorro puderam ser aceleradas eficazmente graças às medidas adotadas pelo governo", afirmou o jornal controlado pelo regime.
Uma especialista britânica, Sue Wardell, que participou no sábado de uma viagem organizada pelas autoridades militares aos diplomatas estrangeiros rumo ao delta do Irrawaddy, disse ter visto um acampamento para os atingidos com abrigos "impecáveis", apesar do chão estar "incrivelmente enlameado".
"O mais interessante dessa viagem é o que não se viu, mais do que o que vimos", acrescentou Wardell.
No sábado, vários dirigentes ocidentais criticaram a recusa dos generais de Mianmar de aceitar ajuda.
O primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, classificou de "desumano" e "intolerante" a forma com que a junta militar trata a população. Ele também denunciou, na rede BBC, que "um regime que não reage nem autoriza a comunidade internacional a fazer o que deseja".
Brown exigiu que Mianmar - que foi colônia britânica até 1948 - pare de impedir a entrada de ajuda internacional. "O regime de Mianmar terá que prestar contas", advertiu.
O presidente americano, George W. Bush, prorrogou por mais um ano as sanções impostas ao regime de Mianmar em 1997.
Por sua vez, o chanceler francês, Bernard Kouchner, foi além, classificando a posição da junta militar como "um crime contra a humanidade".
O embaixador da França na ONU, Jean-Maurice Ripert, disse na sexta-feira que protestou quando o representante de Mianmar criticou Paris por ter enviado um "barco de guerra".
Ripert pediu também uma ação mais energética das Nações Unidas para convencer Mianmar de que deixe entrar a ajuda internacional.
"Disse que o que está ocorrendo é inaceitável, a ajuda não chega e agora as pessoas estão morrendo não só por causa do ciclone, e sim pela recusa da junta de autorizar auxílio internacional", acrescentou.
"Milhares de vidas se perderam, centenas de milhares ainda poderão ser perdidas", advertiu o diplomata francês.
Ao mesmo tempo, o "Mistral", navio da Marinha francesa, chegou às costas de Mianmar, mas ainda não pôde entregar seu carregamento humanitário, segundo o Estado-Maior do Exército francês.
(AFP,
UOL, 18/05/2008)