Com a demissão da Ministra Marina Silva, a queda de braço entre progresso e meio ambiente está assumindo contornos cada vez mais claros no governo Lula. Por trás deste embate existe um mito, o de que a destruição ambiental é o preço amargo a pagar pelo progresso, emprego, comida, moradia, pontes e estradas, etc. Trata-se de um equívoco comprovado por Carlos E. F. Young, do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Entre 1985 e 1996, nos estados do Sul e do Sudeste, a mata atlântica perdeu mais de 1 milhão de hectares enquanto, no mesmo período e região, houve a redução de 2,4 milhões de postos de trabalho na agropecuária. Em outras palavras, a sociedade aceitou e tolerou a destruição ambiental, na esperança de ver atendidas as suas necessidades, e continuou com as mesmas carências de antes, só que agora em pior situação, com desempregos e continuando a conviver com a miséria e agora também com poluição e degradação ambiental.
Quando Lula diz em relação à Amazônia que “se manter a floresta em pé é tão importante para o mundo, é importante que o mundo compreenda que isso tem custo, por que na região moram 25 milhões de habitantes que querem acesso aos benefícios que todos têm” (O Globo – 15/05), na verdade está afirmando que com a floresta em pé não há como atender as necessidades das pessoas que moram lá e isso não é verdade porque a floresta em pé é capaz de atender muito mais as necessidades da população que uma terra arrasada. O governador de Mato Grosso, Blairo Maggi, foi mais claro em entrevista à Folha, em 24/04: “não há como produzir mais comida sem fazer a ocupação de novas áreas e a derrubada de árvores". São visões que refletem na verdade o que vai no sentimento da população. No fundo, a maioria pensa assim mesmo. Joãozinho Trinta já dizia que “Pobre gosta de luxo. Quem gosta de miséria é intelectual.”.
Existe uma consciência ambiental crescente, sem dúvida, mas esta consciência ainda está longe de sair do discurso e da boa vontade para a prática e este deve ser o desafio de todos nós que defendemos o meio ambiente. Precisamos encontrar formas e maneiras de chegar ao povo, de mostrar que a destruição ambiental muito longe de assegurar o progresso e o atendimento às necessidades humanas tem significado a perda dos serviços da natureza que mantém a fertilidade do solo, o regime de chuvas, os mananciais de abastecimento, etc.
E mais, toda essa destruição ambiental que está ocorrendo no Brasil, tem servido apenas para a contração da riqueza e do poder nas mãos de poucos. O IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) comprovou que apenas 10% dos brasileiros mais ricos concentram 75,4% da riqueza do país.
O Brasil tem tido a sorte de ter ministros do meio ambiente competentes e comprometidos com a causa socioambiental, como o Sarney Filho, o José Carlos Carvalho, a Marina Silva, entretanto, o que pode fazer um ministério para preservar e cuidar do meio ambiente se praticamente todos os outros querem fazer o contrário? A ex-Ministra Marina Silva combateu o bom combate, ganhou algumas vezes a queda de braço interna dentro do Governo e perdeu muitas outras. E quando ela perdia, perdia o meio ambiente com o transgênico sendo aprovado mesmo contra o parecer técnico do IBAMA e da ANVISA, o desmatamento aumentando, a aprovação das hidrelétricas no rio Madeira, etc.
Nossas esperanças e olhar se voltam agora para o novo ministro, Carlos Minc, com tradição na militância ambiental carioca, também Prêmio Global como o Chico Mendes, o Betinho, o Fábio Feldmann, entre outros. Numa democracia não vence quem tem mais armas, mas quem tem mais argumentos. E de todos os talentos do Minc, talvez o que mais se destaque é a sua capacidade de dialogar com os contrários sem abrir mão de princípios, seu jogo de cintura diante das situações mais difíceis e, especialmente, sua habilidade em falar com a imprensa, transformando temas áridos e de difícil entendimento em frases e conceitos claros para a população. Precisamos muito de alguém que consiga traduzir o ecologês para uma linguagem que chegue até ao povo e o Minc sabe fazer isso.
(Por
Vilmar Berna, Envolverde, 18/05/2008)
*Vilmar é escritor, jornalista e ambientalista. Por quase oito anos foi companheiro de ativismo do Minc nos Defensores da Terra e no mandato de deputado estadual e, assim como o Minc, também recebeu o Prêmio Global 500 da ONU Para o Meio Ambiente, em 1999, por indicação do Fábio Feldmann.