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celulose e papel passivos do agronegócio passivos da silvicultura
2008-05-19
Conforme o eucalipto avança sobre o pasto e a lavoura de grãos, cidades começam a antever o futuro da Metade Sul, onde três indústrias vão processar árvores cultivadas em cerca de 400 mil hectares do pampa gaúcho. Os três projetos devem custar US$ 4,5 bilhões em investimentos de Aracruz, Stora Enso e Votorantim.

No Extremo Sul, onde a Votorantim construirá um complexo às margens do canal de São Gonçalo, as mudanças serão mais profundas numa pequena comunidade pesqueira que deverá ser a vizinha mais próxima da fábrica. A vila Santa Isabel, no município de Arroio Grande, que não mudou muito em dois séculos, ainda espera saneamento básico e asfalto e, em três anos, será palco de uma obra que envolverá 6 mil trabalhadores.

À bordo do Tigrão, seu barco, o pescador Isaac Machado Kerchiner pensava na filha enquanto deslizava sobre as águas do Canal de São Gonçalo, na altura do distrito de Santa Isabel, em Arroio Grande. Isaac mirava o terreno da Votorantim, onde uma indústria de US$ 2 bilhões poderá ser construída até 2011, quando enxergou um futuro para a pequena Isadora, de 8 anos, estudante da segunda série da escola local.

- A gente não tem noção do tamanho da fábrica, mas acho que vai melhorar para nós. Hoje, o pessoal estuda, se forma e tem que sair. Daqui, a Isadora vai para a cidade grande se não tiver emprego - disse o pescador na tarde de quarta-feira, aos gritos, na tentativa de ser ouvido sobre o barulho do motor improvisado do Tigrão.

Por enquanto, o terreno não tem nada além de algumas cabeças de gado, cavalos soltos e um pequeno cemitério abandonado - com um jazigo de 1881. Hoje, é preciso imaginação para visualizar um futuro para Isabela entre o pasto e banhado, mas a Votorantim Celulose e Papel (VCP) confirmou que irá construir o complexo nas margens do canal. Se escolher a margem oeste, nas terras de Arroio Grande, será ao lado do vilarejo, onde a empresa comprou um terreno. Se optar pela margem leste, a fábrica da VCP estará no território de Rio Grande. Seja como for, os dias de pesca silenciosa e contemplativa de Santa Isabel devem terminar em junho do ano próximo ano, quando caminhões e 6 mil operários devem chegar para erguer o empreendimento bilionário.

O complexo também deverá trazer asfalto à colônia de pescadores de 700 habitantes. A única ligação da vila com as demais cidades é feita pela RS-473, uma estrada de terra e pedras que exige atenção do motorista - tanto pelo piso irregular quanto pelos animais soltos no acostamento. A rodovia desemboca nas margens do canal, é interrompida pelas águas e segue do outro lado da margem até a BR-471, chegando a Rio Grande. A ponte sobre o canal e o asfaltamento da RS-473 são considerados prioritários para a VCP e foram solicitados ao governo do Estado. Nas demais ruas, é possível enxergar vestígios de um calçamento centenário, do tempo em que a comunidade era cercada de charqueadas e servia de porto fluvial - a vila chegou a ser emancipada por uma década até a proclamação da República, em 1889.


Comunidade do muncípio fala sobre suas expectativas
em relação à fábrica da Votorantim no Estado

Com a ponte, a viagem de Santa Isabel até Rio Grande seria reduzida em 68 quilômetros. Hoje, os pescadores precisam ir até Pelotas para cruzar o canal, percorrendo 123 quilômetros e pagando dois pedágios. Por isso, a ponte inspira mais entusiasmo nos moradores de Santa Isabel do que a fábrica, vista com desconfiança por pescadores, preocupados com danos ambientais. O pescador Antônio Bicca Barbosa, de 57 anos, acredita que a obra será libertação de Santa Isabel.

- Estamos enjaulados. Depois que tiraram a balsa, ficamos presos aqui - disse Antônio, sentado numa cadeira ao lado de um dos tantos prédios históricos deteriorados do vilarejo.

A balsa está desativada há cinco anos. Para piorar, a seca dos últimos três anos reduziu a quantidade de traíras, jundiás e pintados do canal. A escassez de peixes reflete no bolso dos pescadores e no pequeno comércio local. Segundo Isaac Kerchiner, a renda dos pescadores caiu de cerca de R$ 1,3 mil por mês para R$ 600, incluindo a valorização do quilo do peixe, que subiu nos últimos anos.

- A gente depende do pescador, e o movimento está fraco - contou Marlete Campelo, 40 anos, dona do Bar da Praia, enquanto assistia à Sessão da Tarde e tomava chimarrão no estabelecimento vazio.

É um dos cinco bares da vila, que, junto de uma pequena loja, compõe toda a atividade empresarial local. A falta de alternativas de emprego leva quase todos à pesca e, por isso, o presidente da Cooperativa de Pescadores de Santa Isabel, Manoel José Pedroso, está preocupado com o impacto da fábrica no manancial da região.

- Para o município, a arrecadação é boa, mas a gente, que trabalha com a água, fica receoso. Se a fábrica vier para gerar emprego, vai ser bom. Mas, se vier para atrapalhar, vai ser ruim - diz Manoel, de 39 anos.

São três as preocupações dos pescadores. A primeira é quanto ao plantio de eucaliptos na região que, segundo eles, pode ajudar a sugar mais água dos banhados, onde os peixes procriam. Eles também têm dúvidas quanto à retirada de água do canal para utilização na fábrica e quanto à emissão de químicos. A VCP responde garantindo que a necessidade de água do complexo é de dois metros cúbicos por segundo, enquanto a vazão média do São Gonçalo é de 800 metros cúbicos por segundo.

- A vazão necessária para o funcionamento da fábrica é muito baixa em relação à disponibilidade que o canal apresenta - explicou por, e-mail, Carlos Monteiro, diretor Industrial da VCP.

Os efluentes não serão lançados no canal, acrescentou, mas no mar, por um emissário canalizado com extensão de seis quilômetros dentro do oceano.

Apesar do isolamento e da crise na pesca, Santa Isabel vive dias de boas notícias. A infra-estrutura vem chegando aos poucos. A Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan) concluiu a unidade que vai permitir levar água encanada aos moradores, que hoje dependem da água do canal. Ainda faltam as ligações com as casas, e deve levar alguns meses até que a vila possa se orgulhar de ter saneamento básico. Nos últimos anos, a comunidade também ganhou uma fábrica de gelo, que permite estocar e transportar os peixes, e uma pequena indústria para transformação das traíras, jundiás e pintados em filés - um pequeno surto de desenvolvimento anunciando o futuro.

Progresso com bênção do visconde

Aos nove anos, Irineu Evangelista de Souza deixou Arroio Grande e partiu para o Rio de Janeiro. A mãe havia lhe ensinado matemática e julgou que o guri faria melhor uso da habilidade com números numa cidade com oportunidades além da agropecuária.

A história de Irineu, o visconde de Mauá, maior empresário brasileiro de todos os tempos, ocorreu em 1823, mas não deixou de se repetir todos os anos na cidade de 20 mil habitantes do extremo sul brasileiro. Depois de receber estudo, grande parte dos jovens deixa a região em busca de chances melhores nas grandes cidades. A migração se dá tal forma que 12,27% da população de Arroio Grande tem mais de 60 anos, índice que se repete nos municípios vizinhos, enquanto a média nacional fica em 9%.

No Rio, o cidadão mais ilustre de Arroio Grande ergueu um império de bancos, estradas de ferro e companhias de navegação. Agora, a construção de um complexo industrial da Votorantim Celulose e Papel (VCP) na região pode trazer de volta as origens um pouco do progresso de Mauá e fixar os jovens. A empresa estima a criação de 34 mil empregos na região por conta da plantação de eucaliptos e da fábrica de celulose que será instalada às margens do canal de São Gonçalo. Arroio Grande vai mudar - como anuncia o profético slogan de um candidato a prefeito pintado numa das paredes descascadas do município na campanha eleitoral de 2000.

- Parece que é o espírito do Mauá que está trazendo esses investimentos para cá - brinca o prefeito de Arroio Grande, Jorge Luiz Cardozo (PDT).

Cidadãos idosos como José Diamantino da Silva, 66 anos, se empolgam com o empreendimento. O ex-capataz e trabalhador de serviços gerais sabe que o complexo chega tarde para salvar a aposentadoria dos mais antigos, mas em tempo de socorrer a carreira de filhos e netos.

- Para mim não dá mais, mas isso é bom para os mais novos. Aqui falta serviço - reclama.

Os primeiros empregos estão surgindo no manejo das florestas. A VCP contratou uma empresa para cuidar dos eucaliptos até o ponto de corte, estimado em sete anos. Com um prédio alugado na entrada de Arroio Grande, a Carpelo tem 270 funcionários, 75% na cidade, para atender cinco municípios da região, e pretende chegar a 400 nos próximos meses.

- É difícil achar casa para os funcionários. A cidade não tem estrutura - diz Marcos Paulo Rossi Sacco, gerente da unidade da Carpelo em Arroio Grande.

O mercado imobiliário está em ebulição. As florestas e os preços altos do arroz e da soja, dois dos tradicionais produtos da região elevaram o preço do hectare de R$ 800 para R$ 4 mil em quatro anos, segundo o corretor Alcy Horner.

- A mudança é da água para o vinho. Se eu tivesse 50 casas, alugava 50. A euforia é grande - diz o corretor, há 30 anos atuando na área em Arroio Grande.

Na avenida Visconde de Mauá, a principal da cidade, também se começa a vislumbrar dias de fartura. Abastecida por um único supermercado há alguns anos, agora tem quatro. O último foi aberto há um ano e meio por Adriano van der Eijk, 31 anos. Depois de 11 anos na Holanda, Eijk decidiu voltar e investir na terra natal. Precavido, comprou um terreno vizinho, projetando uma ampliação.

O pároco de Arroio Grande, Olavo Gasperin, 78 anos, comemora o novo horizonte econômico. Celebrando os batizados dos filhos dos novos casais, percebe que, se pudessem, os jovens ficariam na cidade.

- A maioria não tem onde trabalhar e sai da cidade. Eles casam lá fora e voltam para batizar os filhos - diz padre Olavo.

A animação de Arroio Grande também ocorre em municípios vizinhos como Capão do Leão, Cerrito, Pedro Osório e Herval, onde a lógica econômica e social se repete, mesmo que a indústria fique do lado leste do canal, em Rio Grande - ali já existe um milagre econômico impulsionado pela indústria naval. Como os eucaliptos estão plantados, na maior parte, no lado oeste, a população vislumbra ganhos com transporte e manejo das florestas. Além disso, um acordo garante que 50% do imposto gerado pela fábrica seja divido entre 28 municípios da região.

(Zero Hora, 18/05/2008)


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