Muito interessado em garantir para o Rio Grande do Sul a primeira unidade de produção de resina plástica com fonte 100% renovável, o governo do Estado quase causou mal-entendido ao incluir na agenda de ontem da governadora Yeda Crusius a entrega da licença ambiental para a planta, concedida com celeridade incomum - 15 dias.
Como a empresa ainda não decidiu o local da produção, que também pode ser na Bahia, a direção não quis dar demasiado peso ao recebimento, até por ter solicitado o mesmo licenciamento ao governo baiano. Como empresa de capital aberto, a Braskem teria de comunicar ao mercado uma decisão desse tipo antes de participar de uma solenidade que seria interpretada como um sinal de definição.
Assim, o Palácio Piratini comunicou ontem à tarde que a audiência havia sido cancelada, enquanto para a direção da Braskem não havia sido marcada. Por trás da confusão palaciana, está um projeto que, embora não esteja entre os maiores de todos os tempos, tem importância estratégica e simbólica.
Créditos de exportações dificultam entendimentoAo mesmo tempo, em conceder a licença rapidamente, o governo tenta compensar com fluidez as dificuldades em outra negociação, mais complexa: a que envolve os créditos de Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) sobre as exportações da Braskem. Integrantes do governo admitem que o problema existe. Mas ponderam que o estoque desses créditos no Rio Grande do Sul é de R$ 300 milhões e na Bahia chegaria a R$ 500 milhões. Segundo especialistas do setor, porém, o valor contabilizado pela Braskem no Estado passou a ser maior com a incorporação das unidades da Ipiranga no pólo de Triunfo, agora sob seu controle.
Para analistas, é só a negociação desses créditos - que a Braskem tem pressa para receber, e o governo, dificuldades para quitar - que ainda amarra a decisão final, agora prometida para dentro de 30 dias. O prazo inicial era abril e agora avança junho adentro. Segundo o diretor da consultoria Maxiquim, João Luiz Zuñeda, aspectos logísticos, tanto de matéria-prima quanto de mercado consumidor favorecem o Rio Grande do Sul.
- No novo ciclo da petroquímica, depois da consolidação empresarial, o grande diferencial vai ser plástico verde, até porque o Brasil tem base em nafta, que está ficando cara por conta da alta do petróleo. O Estado não pode perder esse novo ciclo - diz Zuñeda.
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Zero Hora, 17/05/2008)