Confrontado com a redução dos recursos de água doce devido a chuvas raras demais e a lençóis freáticos em declínio, um número crescente de países se dedica à dessalinização da água do mar. Ao redor do Mediterrâneo, vários países fizeram investimentos importantes nesse campo, como Argélia, Líbia, Espanha e Israel. É também o caso de países do Golfo, da China, Índia, da Austrália e do Estado americano da Califórnia, sem contar diversas ilhas.
"O mercado da dessalinização de água do mar vai explodir nos próximos anos", explica Jean-Louis Chaussade, diretor-geral da Suez Environnement. Pois "os recursos em água doce vão se tornar cada vez mais raros. O crescimento demográfico das cidades costeiras e a acentuação do estresse hídrico em várias regiões do mundo devido ao aquecimento climático explicam essa progressão".
Duplicação da produçãoAtualmente são produzidos diariamente no mundo mais de 50 milhões de metros cúbicos de água dessalinizada, dos quais 15% originários de água salobra (a água do mar contém em média 35 gramas de sal por litro, contra 1 a 10 g para as águas salobras). Em 2016, a produção deverá duplicar e atingir mais de 109 milhões de metros cúbicos por dia, ou seja, 109 vezes o que a região de Paris consome diariamente. O crescimento poderá ser ainda mais rápido do que o previsto, em um mercado onde a capacidade das usinas não pára de aumentar: unidades que produzem 1 milhão de metros cúbicos por dia estão em projeto.
Embora os custos de produção tenham sido divididos por dois, a dessalinização continua cara demais para os países pobres ou desprovidos de gás ou petróleo. "O preço da água na saída da fábrica é de 0,4 a 0,8 euro por metro cúbico produzido pelo processo de osmose inversa, e de 0,65 a 1,8 euro por metro cúbico pela destilação térmica", afirmam na Degrémont, filial da Suez Environnement.
Especialistas em água e cientistas também estimam que é preciso começar por uma economia dos recursos de água doce, por exemplo, limitando as perdas nas canalizações. Estas podem atingir 50% em alguns países, enquanto na França as boas redes apresentam de 5% a 10% de vazamento. O tratamento das águas servidas para reutilização na irrigação também contribui para uma melhor gestão, sendo a agricultura a principal consumidora de água doce (71% do total).
No futuro, "a água vai se tornar um problema crucial, que influirá no custo da energia, indispensável para a dessalinização da água do mar ou da água salobra", explica Michel Dutang, diretor de pesquisa e desenvolvimento da Veolia Environnement, líder do mercado com 14,5%. É verdade que o consumo de energia nesse campo foi dividido por quatro em 20 anos, mas os rendimentos ainda devem ser melhorados. "O objetivo da pesquisa é economizar energia durante o processo de dessalinização", acrescenta Dutang.
Também não se devem negligenciar os problemas ligados ao meio ambiente. O Fundo Mundial para a Natureza (WWF), que apresentou um relatório em junho de 2007 sobre essa questão ("Dessalinização: opção ou distração para um mundo sedento?"), se alarma com o desenvolvimento anárquico dessa tecnologia. Segundo a organização, ela consome muita energia e emite gases causadores do efeito estufa. Também pode ter um impacto negativo sobre o habitat marinho, pois despeja localmente salmoura no mar.
Françoise Elbaz-Poulichet, cientista do laboratório de Hidrociências (CNRS) na Universidade de Montpellier, salienta que esse acréscimo de sal apresenta o risco de modificar a química da água litorânea, sobretudo se as unidades de dessalinização estiverem próximas umas das outras. "Isso terá conseqüências sobre a fauna e a flora, que são adaptadas a uma determinada salinidade." Os industriais tentam contra-atacar esses efeitos utilizando difusores que diluem rapidamente a salinidade, aproveitando as correntes marinhas.
(Le Monde,
UOL, 17/05/2008)