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marina silva gestão ambiental
2008-05-17
A alegria dos representantes do agronegócio indica um dos principais significados da saída de Marina Silva, do Ministério do Meio Ambiente.

Duas características marcaram a passagem de Marina Silva pelo governo Lula: o espírito missionário e a lealdade pessoal ao presidente. Com a têmpera de quem superou cinco malárias, duas hepatites e uma leishmaniose, a herdeira política de Chico Mendes travou, nem sempre com sucesso, vários "empates" durante sua gestão no Ministério do Meio Ambiente. Perdeu, sem dúvida, mas jamais recuou.

Conseqüência de disputas no interior da própria máquina governamental, a agenda da "Senadora da Floresta” foi a grande perdedora em um governo que, mais uma vez repetimos, acumula êxitos atestados tanto na diversificação do parque industrial quanto no comportamento dos indicadores econômicos e sociais.

O aumento de poder da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), cujos pareceres sobre pesquisa e comercialização passaram a ter caráter vinculativo, foi a maior derrota da ministra que um dia acreditou ser possível - através da prática de ações transversais para a construção de sustentabilidade - “interferir nos projetos de desenvolvimento, das rodovias aos leilões de petróleo."

Há algum tempo, alertamos, em artigo aqui publicado, que "é hora de a própria esquerda se livrar do imaginário herdado do padrão fordista e incorporar a luta pela preservação natural ao seu horizonte político. Fora disso, a palavra progressista torna-se um vocábulo vazio. Um atributo discutível para quem luta no campo democrático-popular". Sem contar que corremos o risco de cair no “crescimentismo”, doença infantil de um keynesianismo canhestro.

O meio ambiente, como destacou o ambientalista Fran Araujo, deve ser um fator de primeira ordem na tomada de decisão sobre políticas de desenvolvimento econômico. Imaginá-lo como algo que deve ser protegido depois que impactos adversos tenham ocorrido é confundir bagres com índios, caboclos e pescadores dentro de um imaginário produtivista que peca pela pouca inteligência.

No primeiro pronunciamento do presidente após a demissão da ministra, Lula afirmou termos “criado no Brasil uma palavra mágica chamada transversalidade, para que não houvesse política de ministro. Isso significa colocar todos os atores envolvidos naquela matéria em torno de uma mesa para que a decisão se transforme em políticas de Estado e políticas de governo. Para mim a questão ambiental tem que ser tratada com mesmo carinho que a gente trata a política social. A companheira Marina que o diga. Não há separação da política de desenvolvimento sustentável e a preservação ambiental. Então a companheira Marina se foi e a política dela continua."

Talvez a questão seja mais complexa do que imagina o presidente. Transversalidade, quando a comunidade internacional financia projetos para contrapartidas de responsabilidade sócio-ambiental, não é uma “palavrinha mágica". E a companheira Marina se foi porque a política dela não conseguiu se viabilizar ante as pressões do agronegócio, o velho latifúndio remodelado semântica e politicamente.

Se um momento histórico pode ser avaliado pela reação dos atores diretamente envolvidos, convém observar quem festeja a saída da ministra. Uma rápida leitura da Folha de S. Paulo não deixa margem para dúvidas:

"Sem demagogia, eu tenho admiração pela história e a vida da ministra. Só que ela tem um componente ideológico fortíssimo que atrapalha o Brasil a crescer"( Kátia Abreu, senadora do DEM e vice-presidente da Confederação Nacional da Agricultura)

"Ronaldo Caiado (DEM-GO), um dos líderes da bancada ruralista na Câmara, lembrou que Marina dificultou os avanços na área tecnológica. "Os problemas que ela criou o próprio governo é que tem de explicar.”

"A saída dela pode fazer com que o bom senso seja retomado nas questões ambientais. Havia uma carga ideológica muito forte, um preconceito contra o agronegócio." "Ela atrasou muito o Brasil com a irracionalidade no trato de questões como os transgênicos.” (Onyx Lorenzoni (DEM-RS), presidente da Comissão de Agricultura da Câmara).

A alegria desses personagens dá a exata dimensão da tragédia. É o caso de repensar se queremos a hegemonia ou pretendemos deitar eternamente no berço esplêndido de um “Estado de Compromisso".

Marina deixou o governo com a mesma dignidade em que nele atuou. Sai do cargo com a certeza de que a aposta no governo Lula ainda é a melhor alternativa. Novos empates a esperam no Senado e deles, mais uma vez, ela não fugirá.

(Por Gilson Caroni Filho*, Ecoagencia, 16/05/2008)

Gilson Caroni Filho é professor de Sociologia das Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha), no Rio de Janeiro, e colaborador do Jornal do Brasil e Observatório da Imprensa.

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