O futuro ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, disse ontem em Paris que vai sugerir ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva Lula que o coordenador-executivo local do Plano Amazônia Sustentável (PAS) seja o ex-governador do Acre Jorge Viana, que também foi cotado para assumir a vaga deixada por Marina Silva na Pasta do Meio Ambiente. " Ele (Viana) é um grande conhecedor da Amazônia, conhece os prefeitos e governadores, tem muita capacidade e é amigo da Marina. Ninguém melhor do que Viana para a coordenadoria geral local (do PAS) " , afirmou Minc.
A declaração do futuro ministro foi dada em entrevista à rádio BandNews FM, ao ser perguntado sobre como ficaria sua relação com o ministro de Assuntos Estratégicos, Mangabeira Unger, considerado um dos pivôs da demissão de Marina Silva, que teria ficado descontente com a nomeação do ministro para a chefia do PAS. Segundo Minc, Mangabeira Unger seria mantido na "coordenação intelectual".
Em entrevista à mesma emissora de rádio, Viana disse que não quer cargo no governo e que vai ajudar informalmente no que for preciso.
Na avaliação do ex-governador, Mangabeira pode ajudar a pensar os programas, mas colocá-lo como coordenador do PAS foi uma "barbeirada": "Respeito o professor Mangabeira Unger, ele é professor de Harvard, o professor dos professores, mas em matéria de Amazônia eu acho que ele é aluno".
O futuro ministro disse que " foi obrigado " ao aceitar o cargo. " Não era convite, era intimação " , afirmou. " Não pedi, tenho mandato no Parlamento, mas, em vista da insistência do governador Sérgio Cabral, disse que aceitaria o cargo " , afirmou Minc, ao explicar a reviravolta em sua decisão sobre o convite.
Na segunda-feira, Minc deve se reunir com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e com Marina Silva, em Brasília.O ministro disse que o Brasil precisa de uma nova lei de licenciamento ambiental, " com exigências mais rigorosas, mas que diminua ao mesmo tempo a burocracia " . Minc afirmou que a nova lei de licenciamento deverá aumentar, por exemplo, os patamares de emissão atmosférica, que ele considera " frouxos " no Brasil. Ao mesmo tempo, segundo o novo ministro, a lei deverá eliminar procedimentos burocráticos " inúteis " .
Carlos Minc afirmou que quer participar de todas as discussões econômicas que afetem o meio ambiente e que vai precisar de recursos para implantar ações. Segundo Minc, a secretaria estadual de Ambiente do Rio tem mais recursos do que o Ministério do Meio Ambiente.
Em relação ao desmatamento da Amazônia, Minc afirmou que não basta apenas ampliar a fiscalização. Conforme o ministro, é preciso implantar compensações financeiras para populações e prefeituras de áreas de preservação ambiental. Citou como exemplo o projeto ICMS verde, que desenvolveu no governo do Rio. O programa concedia créditos a prefeituras que estimulem projetos de preservação.
Minc afirmou que vai manter " todas as políticas da ex-ministra Marina Silva, sem exceções, e aprofundá-las em algumas questões " se baseando em sua experiência com políticas urbanas e industriais como secretário no Rio de Janeiro.
Em Brasília, o ministro das Relações Institucionais, José Múcio Monteiro, negou que o novo titular do Meio Ambiente vá enfrentar obstáculos e resistências na função. Segundo Múcio, as dificuldades da área ambiental são conhecidas e o ministro assume fortalecido. "Ele vem para somar numa hora que lamentamos a saída da ministra", disse o ministro, que participou de um seminário sobre reforma tributária. "Obstáculo valoriza a ultrapassagem. A ministra Marina encontrou obstáculos e superou".
Ele se esquivou de comentar as críticas feitas por Minc aos produtores rurais, em entrevista concedida à TV Globo em Paris, na quarta-feira, antes de aceitar o convite. Na entrevista, Minc citou explicitamente o governador de Mato Grosso, Blairo Maggi, como um desmatador: "Você pega o governador do Mato Grosso, ele próprio o maior produtor de soja do mundo, com a polícia na mão dele e se deixar ele planta soja até nos Andes, então não é mole".
Ontem, em nota, Maggi reagiu à entrevista, classificando as declarações de "descabidas, inoportunas, extemporâneas e impróprias para um ministro de Estado". A nota desmente que Maggi seja o maior produtor de soja do mundo e que possua propriedades nos Andes.
Afirma que o Estado de Mato Grosso "possui uma das mais avançadas legislações ambientais do país, vem reduzindo seguidamente a abertura de novas áreas para produção, e se esforça no sentido de compatibilizar as atividades produtivas com a preservação ambiental".
( Valor Econômico,
Amazonia.org.br, 15/05/2008)