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2008-05-16

O presidente do Peru, Alan García, expressou seu desejo de que a V Cúpula de Chefes de Estado e de Governo da América Latina, do Caribe e da União Européia (ALC-UE) não seja um simples encontro protocolar. A reunião, aberta ontem com um encontro plenário de altos funcionários, possui dois eixos: “Pobreza, desigualdade e inclusão” e “Desenvolvimento sustentável: meio ambiente, mudança climática e energia”. Amanhã os mandatários assinarão a Declaração de Lima, sobre soluções comuns para os desafios dos países dos dois continentes. “Espero que não seja um ritual de declarações nem um passeio ao outro lado do mundo”, disse García em entrevista ao jornal El Comercio. “Tem de haver conclusões. Uma delas precisa estar relacionada co a crise mundial de alimentos”, acrescentou.

A cúpula começou em meio a um impressionante aparato de segurança para evitar manifestações de organizações sindicais e sociais que reclamam do governo peruano mais emprego, melhorias salariais, educação, saúde e redução da pobreza. Organizações de direitos humanos se referiam a um clima de intolerância ao protesto social e a atitudes autoritárias do governo. No domingo, García justificou a severidade das medidas de segurança alegando haver “um plano para eliminar a ordem democrática”, mas, não identificou os responsáveis.

Coincidentemente, o governo informou sobre a redução da pobreza em regiões onde se registra um “boom” da agroexportação, um crescimento de 5,5% da atividade econômica no primeiro trimestre do ano e a criação do Ministério do Meio Ambiente que fiscalizará a atividade mineira. O ministro da Agricultura, Ismael Benavides, reconheceu que a diminuição da pobreza ocorreu especialmente em cidades do litoral e no sul andino, onde se concentra a maioria da população mais pobre. “Há regiões onde a pobreza não diminuiu, pelo contrário, aumentou, como Ayacucho, Pasco e Huancavelica, onde atinge 88% da população”, admitiu Benavides, que é banqueiro.

O ministro da Economia, Luis Carranza, afirmou que a proporção de pobreza caiu de 50% em 2006 para 42% no final do ano passado, segundo seus próprios cálculos, porque o Instituto Nacional de Estatística e Informática ainda não divulga o número oficial. O presidente da comissão organizadora da V Cúpula, Ricardo Veja Llona, comemorou a criação do Ministério do Meio Ambiente por representar “um sinal forte para a Europa e o mundo”. Enquanto isso, 300 dirigentes camponeses, ativistas ambientalistas e autoridades locais são investigados pela promotoria sob a suspeita de terem cometido atividades terroristas.

Os acusados organizaram no dia 16 de setembro de 2007 uma consulta popular em três distritos da região de Piura, norte do país, perguntando aos moradores se concordavam com a presença da Mineradora Majaz. Noventa e três por cento responderam que não. Por outro lado, a contribuição européia para a redução da pobreza foi questionada por ativistas e especialistas. Segundo o ex-presidente do Fundo Nacional de Compensação e Desenvolvimento Social, Pedro Francke, os países europeus não estão fazendo sua parte. “Não destinam 0,7% do produto interno bruto à cooperação internacional”, meta assumida pelas nações ricas há décadas, disse à IPS.

“Embora haja uma cooperação internacional que tem alguma importância, do ponto de vista macroeconômico não é algo substancial em uma economia de renda media, como no caso peruano”, disse Francke. O Peru tem expectativas de que também seja tratada a questão do narcotráfico. As máfias aumentaram notavelmente a exportação de droga para a Europa, disse o diretor da Comissão Nacional para o Desenvolvimento e Vida sem Drogas, Rômulo Pizarro. No dia 1º de maio, a policia apreendeu quatro toneladas de cocaína com destino à Holanda. O Peru é o segundo maior produtor de coca e cocaína depois da Colômbia.

“Quase 70 da cocaína que sai do Peru se dirige para a Europa, então, é lógico pedir-lhes co-responsabilidade”, disse Pizarro à IPS. “Do total de ajuda estrangeira que recebemos para lutar contra o narcotráfico, 8% são da Europa e o restante dos Estados Unidos. Mas, a partir de 2009, a ajuda norte-americana diminuirá 30%. Com maior razão precisamos da participação européia. Como país produtor, estamos cumprindo nosso papel, e a Europa como consumidora deve assumir o seu”, acrescentou.

O presidente da não-governamental Sociedade Peruana de Direito Ambienta (SPDA), Jorge Caillaux, lembrou à IPS que na cúpula anterior houve um compromisso para que se concretizasse uma agenda bi-regional para investir em ações diante da mudança climática. “Já sabemos que os mais responsáveis são os países do Norte e que nós temos o direito de utilizar os recursos naturais que temos para o crescimento econômico e o desenvolvimento sustentável”, afirmou. “Se formos obrigados pela mudança climática a modificar nosso esquema energético e a modalidade do uso das fontes de energia, evidentemente isso deve ser financiado pelos responsáveis”, acrescentou.

O ambiente prévio à cúpula foi marcado por declarações cruzadas entre a chefe de governo da Alemanha, Angela Merkel, e o presidente da Venezuela, Hugo Chávez. Merkel disse na semana passada que a Venezuela “não pode alterar as relações entre União Européia e América Latina”, acrescentando que “o presidente Chávez não é a voz” da região, e exortou os demais governos a “se distanciarem” desse governo. Em seu último programa dominical, Chávez respondeu que “ela é da direita alemã, a mesma que apoiou Hitler e a mesma que apoiou o fascismo”. Mas, o venezuelano não confirmou sua presença na cúpula.

Por sua vez, o presidente colombiano, Álvaro Uribe, anunciou que estará presente, enquanto as relações entre os dois governos voltaram a ficar tensas pelas diferenças sobre a troca humanitária que permitira libertar reféns em mãos da guerrilha colombiana. Encontros entre Chávez, Uribe e Merkel poderiam esquentar o ambiente da cúpula. Diante dessa eventualidade, García disse “não ter um plano de contingência (para evitar esses problemas), mas creio que os chefes de Estado sabem que o melhor é conversar sem a presença da imprensa, que convida a serem ditas coisas mais chamativas”.

(Por Ángel Páez, Envolverde, IPS, 15/05/2008)


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