A Beira Litoral é uma das regiões onde mais se nota o excesso de fósforo no solo devido à actividade agrícola, que o utiliza como adubo, alerta hoje Maria do Carmo Horta, docente da Escola Superior Agrária de Castelo Branco. "O excesso é desnecessário e pode piorar a qualidade das águas de rios e albufeiras", disse aquela professora universitária, cuja tese de doutoramento teve como tema a utilização do fósforo no solo nacional, trabalho que vai ser premiado em Espanha.
Maria do Carmo Horta defende que a legislação e as boas práticas agrícolas devem prever um limite para a utilização do fósforo, limite a partir do qual o excesso já não é absorvido pelo solo (não rende na produção agrícola) e acaba por ser escoado para águas superficiais.
Defende também a sensibilização de todos os agentes agrícolas para este facto, afirmando que, "em termos médios, Portugal tem uma utilização de adubos fosfatados relativamente baixa, mas em regiões como a Beira Litoral existe mais sobrefertilização, porque existe maior actividade agrícola", em contraste com o Alentejo, por exemplo. No entanto, esta constatação não significa que não haja quintas na planície alentejana com forte recurso a adubos e onde "possa existir uma concentração excessiva de fósforo".
"Nas 33 amostras de solo que recolhemos e que abrangem as diversas regiões, os resultados estão sempre ligados ao tipo de cultura dessas terras. O retrato do país, como no resto da Europa, é muito diversificado", mas não chega a ser grave, como já é hoje, por exemplo, "na Holanda", sublinhou. "O fósforo não faz mal à saúde das pessoas, nem dos animais", garantiu, adiantando que, no entanto, quando existe em excesso nas águas de rios e albufeiras, "provoca outras reacções que diminuem a qualidade dos caudais".
"Quando há entrada de fósforo nas águas, há um crescimento muito grande do fitoplancton", algas mais pequenas, que em grandes quantidades impedem que a luz chegue a maiores profundidades. "Estas mudanças podem ser provocadas com a entrada súbita de fósforo em quantidades da ordem 0,02 mg/litro de água", disse Maria Monteiro, explicando que "as plantas que estão mais abaixo acabam por morrer, decompõem-se, consumindo oxigénio e levando à morte dos peixes".
Este cenário, que se chama de eutrofização, "leva à degradação da qualidade da água", com libertação de substâncias indesejadas pelo homem. Entre outras consequências, "obriga a maiores gastos no tratamento das águas", para consumo. "No nosso trabalho, concluímos que o teor máximo de fósforo no solo deve rondar 50 mg/quilo de solo, classificado pelo método de Olsen. Acima disso, o risco de perder fósforo já é muito elevado", afirmou.
Em termos práticos, isto quer dizer que "terrenos com classes de fertilidade altas e muito altas já estão saturados de fósforo. Não valerá a pena adicionar mais". Para além do fósforo, a investigadora considera que o azoto é outro dos elementos que merece atenção especial quanto à distribuição no solo, "mas tem diversos estudos publicados, o que não acontecia com o fósforo".
A tese de doutoramento com o título "La disponibilidad de fósforo evaluado por el método de Olsen en suelos ácidos de Portugal: significado agronómico y ambiental" foi concluída em 2005, na Universidade de Córdoba, com base em estudos efectuados em terrenos agrícolas portugueses. Este ano vai receber o prémio de melhor tese de doutoramento realizada em Espanha na área das Ciências Agrárias, atribuído pela empresa Fertibéria, depois da avaliação feita por um júri do "Colégio Oficial de Ingenieros Agrónomos de Centro y Canárias". A distinção, que inclui um prémio monetário de 24 mil euros, vai ser entregue em Madrid, em data ainda a agendar.
(Ecosfera, 15/05/2008)