O terremoto que abalou na segunda-feira o sudoeste da China colocou em perigo a segurança de várias instalações hidrelétricas na província de Sichuan, como a represa de Zipingu. As autoridades chinesas detectaram riscos de segurança em mais de 400 represas: "situações perigosas" foram constatadas em 391 depósitos de água em cinco províncias, informou na quinta-feira o televisão estatal citando responsáveis.
Outras 19 foram identificadas no município de Chingqing, próximo à província de Sichuan, duramente afetada pelo terremoto, ressaltou o canal de televisão citando a Agência de Recursos Hídricos local. Na quarta-feira, o ministro de Recursos Hídricos chinês, Chen Lei, disse que existiam "sérios problemas de segurança" nas instalações hidroelétricas de Sichuan.
"A China terá sérios problemas de segurança e prevenção de inundações nas represas, centrais hidrelétricas e outras instalações", disse Chen Lei. "Estes problemas se encontram sobretudo em Sichuan, onde há várias represas, e os danos causados pelo terremoto e o grau de perigo não estão claros", acrescentou o ministro.
O vice-ministro, Jiao Yong, chegou terça-feira à província com uma equipe de seis pessoas. Após uma inspeção, o diretor de uma represa próxima ao epicentro do terremoto desmentiu rumores de rachaduras, afirmando que a construção permanecia "estruturalmente estável e segura", segundo a imprensa. Esta represa de mais de 150 metros de altura sobre o rio Minjiang, fica acima da de Dujiangyan, seriamente afetada pelo terremoto de 7,9 graus na escala Richter.
No entanto, muitos especialistas e ecologistas alertam há tempos as autoridades chinesas contra a construção de hidrelétricas desse tipo, que para Pequim são uma forma prática de energia renovável. Sufocados pelos problemas de contaminação ambiental por décadas de crescimento rápido, a China tem o objetivo de que pelo menos 15% de sua energia até 2020 provenha de fontes renováveis, o dobro do que em 2005. Por essa razão, aceleram a atividade hidráulica no país, ainda que se desconheça o alcance total do projeto.
Algumas represas foram construídas "em segredo, sem autorização", indicou recentemente à AFP Patricia Adams, da organização não governamental canadense Probe International. A Probe International é a organização que mais critica a represa das Três Gargantas. Esta semana questionou a possibilidade de que a enorme represa tenha acentuado o terremoto.
Antes que a represa alcance nível máximo, "é necessário, urgentemente, determinar se teve algo haver" com a catástrofe de segunda-feira, afirmou a organização. Se a construção da represa obrigou a evacuação de mais de um milhão de pessoas que vivem próximas ao rio Yangtzé, em muitos casos à força, Pequim argumenta que isso permitirá proteger melhor outras 15 milhões de pessoas, domesticando um rio rebelde, que já tragou milhares de pessoas.
(AFP, 15/05/2008)