Em sua primeira entrevista pública desde que entregou seu cargo de ministra da pasta do Meio Ambiente, Marina Silva afirmou nesta quinta-feira (15) que sua saída não foi motivada pela indicação do secretário especial de Assuntos Estratégicos, Mangabeira Unger, para chefiar o Plano Amazônia Sustentável (PAS). "Não posso dizer que o meu gesto é em função do doutor Mangabeira. Não é uma questão de pessoa, mas que você vai vendo um processo e percebe quando começa a ter estagnação e, na estagnação, devemos criar um novo processo com novos acordos e um novo ministro", revelou.
Questionada sobre as ações do governo que priorizam o desenvolvimento a qualquer custo, Marina se esquivou: "Em primeiro lugar, achar que essa visão de desenvolvimento a qualquer custo é só do governo é um erro. Ele é só uma parte. O governo se faz com pessoas e o reposicionamento dessa dinâmica de desenvolvimento não está sendo feita em nenhuma parte do mundo".
Hidrelétricas no MadeiraCom relação aos embates que ela travava com outros ministérios, Marina disse que foram momentos muito difíceis. Ela exemplificou sua fala abordando o episódio de licenciamento das hidrelétricas do Rio Madeira. "Naquele tempo eu poderia sair [do governo] e ficaria como uma 'heroína', mas se eu tivesse saído faria uma injustiça com o presidente Lula, que em nenhum momento disse para eu fazer o licenciamento a qualquer custo", afirmou. Outro aspecto que a fez continuar no ministério nesta época foi a coordenação das Conferências do Meio Ambiente. "Neste momento eu estava coordenando a Conferência Nacional, se eu fizesse o ato [renunciar ao cargo], traria um problema para o evento", argumenta.
Carlos MincCom relação ao novo ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, Marina acredita que ele dará continuidade às políticas implantadas durante a sua gestão. "A escolha do Minc qualifica o processo. Às vezes você acumula conquistas que precisam ser consolidadas. É melhor o filho vivo no colo do outro do que metade dele em seu próprio colo", relatou.
Saída
A ex-ministra encaminhou na terça-feira (13) sua carta de demissão ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em caráter irrevogável, após sucessivos embates com outros ministros pela preservação das políticas ambientais em detrimento da execução de obras públicas.
Marina teve sua carreira política iniciada no movimento dos seringueiros, junto com Chico Mendes. Em 1988, foi eleita vereadora de Rio Branco (AC). Em 1990, foi eleita deputada estadual e, dois anos depois, conseguiu ser a senadora mais jovem do país. Durante todo esse tempo, teve sua história atrelada às questões ambientais. Em 1996 recebeu o Prêmio Goldmann de Meio Ambiente pela América Latina e Caribe, nos Estados Unidos.
Em 2007, por meio da Medida Provisória 366, a ministra Marina Silva desmembrou o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e repassou a gestão das unidades de conservação da natureza federais para o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade. Neste mesmo ano, Marina recebeu o maior prêmio das Nações Unidas na área ambiental.
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Amazonia.org.br, 15/05/2008)