Um importante estudo climático divulgado na quarta-feira informa que o aquecimento global já está mudando os ciclos de vida de milhares de animais e plantas -assim como de centenas de sistemas físicos- em todo o mundo. Ele documenta rápidos derretimentos de geleiras na América do Norte, América do Sul e Europa; folhas brotando em árvores e plantas muito mais cedo na primavera na Europa, Ásia e América do Norte; derretimento do permafrost (gelo permanente) na Ásia; e mudanças nos padrões de migração de aves por toda Europa, América do Norte e Austrália, tudo em resposta ao aumento global das temperaturas.
Enquanto estudos anteriores analisavam um único fenômeno ou áreas menores, esta análise examina dados em uma escala continental, disse a principal autora do estudo, Cynthia Rosenzweig, uma cientista do Instituto Goddard para Estudos Espaciais da Nasa, em Nova York. Ao analisar dados de cada um dos sete continentes da Terra e dos oceanos, o estudo pinta um quadro claro de um mundo que está passando por rápida transformação nas últimas décadas.
"Estas são coisas que estão acontecendo agora, não projeções de mudanças futuras", ela disse. No estudo na edição desta semana da revista "Nature", Rosenzweig e seus colegas compilaram dados sobre cerca de 28.800 sistemas de plantas e animais e 829 sistemas físicos, todos os quais apresentando mudanças documentadas nas últimas décadas. O estudo apontou que 95% das mudanças físicas observadas e 90% das mudanças biológicas são consistentes com o aquecimento das temperaturas.
Algumas das mudanças físicas:
-Derretimento de geleiras em todos os continentes, notadamente no Alasca, Peru e Alpes.
-Degelo precoce e afinamento do gelo de rios e lagos na Mongólia.
-Diminuição da cobertura de neve nas montanhas no oeste da América do Norte.
Alguns dos efeitos observados sobre organismos vivos incluem:
-Deslocamentos de espécies para latitudes e altitudes mais altas por todo o Hemisfério Norte.
-A população de pingüins imperador diminuiu 50% na Península Antártica.
-Antecipação da chegada na primavera de aves migratórias de longa distância na Europa.
"Foi um verdadeiro desafio separar a influência dos aumentos de temperatura causados pelo homem das variações climáticas naturais ou outros fatores que podem causar confusão, como mudanças no uso da terra ou poluição", disse o co-autor do estudo, David Karoly, um cientista climático da Universidade de Melbourne, em Victoria, Austrália. Entretanto, os cientistas informaram no estudo que "estes aumentos de temperatura em escalas continentais não podem ser explicados apenas por variações climáticas naturais".
Mas Pat Michaels, um importante membro em estudos ambientais do Instituto Cato, em Washington, D.C., disse que o estudo é "retrospectivo, com muito pouco a dizer de forma previdente, dada a irregularidade do aquecimento global". Michaels disse que não há aquecimento desde 1997 e que um recente estudo, também publicado na "Nature", apontou que o aquecimento global dificilmente recomeçará antes de pelo menos outros 10 anos. "Eu acho que o problema com este estudo não é em casar o passado com as mudanças, mas em projetar o futuro."
Os dados mostram que as mudanças são mais notáveis na América do Norte, Ásia e Europa -principalmente porque muito mais estudos foram realizados lá, disse Rosenzweig. Nos outros continentes, incluindo a América do Sul, Austrália e África, a documentação das mudanças nos sistemas físicos e biológicos é esparsa, apesar de haver forte evidência neles de aquecimento provocado pelo homem.
(Por Doyle Rice, USA Today, tradução de George El Khouri Andolfato, UOL, 15/05/2008)